Votos brancos e nulos são símbolos de insatisfação política? Saiba mais

por Millena Lechtchechen
Votos brancos e nulos são símbolos de insatisfação política? Saiba mais

Número de eleitores que optaram pelo voto nulo ou branco supera a diferença entre Cristina (PMB) e Eduardo (PSD) no primeiro turno

Por Millena do Prado Lechtchechen | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil


Em um cenário político especialmente tenso, no próximo domingo (27), os curitibanos retornam às urnas para a votação do segundo turno. Como forma de protesto, muitos podem aderir ao voto nulo ou branco.

No primeiro turno, na contagem dos votos para a prefeitura de Curitiba foram somados cerca de 45.913 votos brancos (4,64%) e 47.728 nulos (4,46%). Enquanto a diferença entre os candidatos que irão disputar o segundo turno foi de 21.824 votos.

“A porcentagem desses números “não-válidos”, por assim dizer, podem nos mostrar que uma parcela da população não se sente representada pelos candidatos no segundo turno. No contexto de Curitiba, esse descontentamento com os candidatos será uma representação de que existe uma parcela de curitibanos que rejeita e se recusa a escolher entre dois candidatos que representam o bolsonarismo, seja Eduardo Pimentel, aliado do PL, partido de Bolsonaro, seja Cristina Graeml, que se coloca como quase como a “herdeira legítima” de Bolsonaro em Curitiba”, afirma o Mestre e doutorando em Ciência Política pela UFPR e Pesquisador Associado do Instituto Democracia em Xeque Tiago Borges.

Ainda segundo o pesquisador, os votos brancos e nulos não influenciam diretamente o resultado das eleições. Embora sejam dois tipos diferentes de voto, ambos não são considerados “votos válidos”, então na prática o voto em branco também é um voto nulo.

“O descontentamento com a política nacional pode acompanhar uma rejeição local ao partido ou a candidatos apoiados por figuras proeminentes da política nacional, como o Presidente da República, ou outras figuras importantes, como ex-presidentes, presidentes das duas casas do Congresso Nacional, etc. O voto nulo ou branco nesse caso, poderia servir como uma forma de protesto contra tais partidos ou candidatos. Em Curitiba o que vemos é uma rejeição maior ao PT, partido do presidente Lula, e a partidos e candidatos de esquerda, que muitas vezes são representados ou apoiados pelo PT. Se esse descontentamento é mais acentuado em Curitiba é mais difícil dizer, seria interessante uma pesquisa nesse sentido.”, afirma Tiago.

Com a falta de representantes de centro e esquerda no segundo turno, os ex-candidatos à prefeitura da capital paranaense Andrea Caldas e Samuel de Mattos declararam, em suas contas pessoais do Instagram, apoio ao voto nulo no segundo turno. O movimento promovido por alguns partidos de esquerda alega não haver, entre os dois candidatos autodeclarados de direita, uma opção “menos pior” e incentiva o publico a usar o voto como forma de protesto.

Nas últimas eleições para a prefeitura de Curitiba, dos 942.467 votos, houveram 47.055 (4,99%) brancos e 58.780 (6,24%) nulos. O doutorando em ciência política acredita que a tendência é as abstenções continuarem diminuindo, devido ao aumento da população politizada, mesmo que essa politização venha da polarização.

 

 

Autor