Volta às aulas exige adaptação dos professores de Educação Física

por João Américo Harrich Goulart
Volta às aulas exige adaptação dos professores de Educação Física

Com o retorno das aulas presenciais na rede estadual do Paraná, as aulas de Educação Física – que já haviam sido altamente afetadas pelo período de ensino remoto – precisaram passar por mais alguns ajustes, visando manter os protocolos de prevenção contra a Covid-19.


De acordo com a superintendente de Gestão Educacional da Secretaria Municipal da Educação (SME), Andressa Woellner Duarte Pereira, apesar deste retorno ser seguro, os alunos, junto aos seus familiares, têm ainda a opção de continuar tendo as aulas de forma remota. Já o formato híbrido, por sua vez, deixa de ser uma opção.

Todas as unidades receberam os equipamentos necessários, como máscaras, face shields, álcool em gel, tapetes sanitizantes e serviços de sanitização, para manter a segurança de todos os alunos, professores e demais profissionais da escola.

Segundo a professora Mariley Zanini, os estudantes que ainda estão em fase de desenvolvimento motor foram os que mais sofreram com o tempo longe da escola. “Alguns movimentos que já deveriam ser naturais para a idade deles se tornaram muito difíceis, porque a maioria passou mais de um ano sem treinar a coordenação motora, e isso se reflete todos os dias dentro da quadra”, revelou a professora.

Ainda sobre o desenvolvimento dos alunos, a professora Luciane Sztoltz acrescentou: “Nós tivemos que montar a aula como se eles estivessem iniciando a partir de dois anos atrás. Tivemos que retornar para alguns movimentos base. Com isso a gente já contava, mas a musculatura fraca, a parte óssea, tudo é muito difícil. “Um movimento que precisa correr um pouco mais, a gente já vê um cansaço muito maior”.

Foto: Luís Gustavo Schuh Bocatios

O aluno Joel Filho, do 2° ano do ensino médio, admitiu que se manteve ativo durante o período de aulas remotas apenas fazendo os exercícios passados pelos professores, enquanto a aluna Heloísa Pereira, do 1° ano, declarou que não se manteve ativa de nenhuma forma.

Luciane também considera que os protocolos de segurança, apesar de necessários, prejudicam o rendimento dos estudantes. “Logicamente, um dos motivos também é a máscara. Uma atividade física tem que ser bem moderada, porque, com máscara, você não consegue acelerar o processo do condicionamento e a saúde deles melhorar”, declarou.

Joel concordou com a professora no tocante ao uso de máscaras, ressaltando a dificuldade que é respirar ao fazer atividades durante as aulas. Sobre os esportes em si, o professor Robert Magni contou que o foco está sendo em atividades individuais, como circuito e ginástica.

Quando é necessária a prática de esportes coletivos, medidas de segurança são tomadas. Uma das medidas, por exemplo, foi proibir roubar a bola diretamente da mão do colega, e permitir apenas caso ela esteja na trajetória, no ar ou no chão.

Aulas durante o período remoto

O jeito encontrado pelo professor Robert Magni de dar aulas de Educação Física online, foi dividir entre aulas práticas e teóricas. No entanto, houve pouca adesão dos alunos na parte prática, muito por conta dos alunos terem vergonha de estar em casa ou de ligar a câmera.

Ele conta que acredita que foi muito mais difícil dar aulas de educação física em casa do que outras matérias, pela natureza prática da matéria. “As aulas de educação física online foram um desafio. “Brincadeiras são muito complicadas fazer quando está em casa sozinho, as atividades físicas ficam melhores quando você pode compartilhar com outras pessoas e ter espaço para fazer, o que não foi nosso caso”, declarou Robert.

Foto: Luís Gustavo Schuh Bocatios

Ainda sobre o desafio, a professora Luciane adicionou que era quase impossível fazer com que os alunos se envolvessem em algum tipo de atividade. “Os exercícios que a gente ia propor para o corpo ou para a mente não eram feitos. […] A parte teórica foi muito legal, mas nem todos os alunos conseguiram ser atingidos com conteúdo e exercícios para a saúde em geral.”

A experiência das aulas remotas também foi desagradável para os alunos. Enquanto Heloísa destacou a falta de interação com os colegas e a falta da prática de esportes como os piores aspectos das aulas remotas, Joel chamou atenção para a dificuldade em manter a atenção focada na aula enquanto estava em casa.

Crescimento do sedentarismo entre os adolescentes

Um dos fatores que dificultou as aulas de educação física durante a pandemia foi o crescimento do sedentarismo entre crianças e adolescentes.

No ano de 2016, segundo estudo realizado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), era de 84% a porcentagem de pessoas entre 11 e 17 anos que realizavam menos atividades físicas do que o necessário.

Estudos da Unifesp mostram que, antes do início da pandemia, 67,8% das crianças praticam atividades físicas pelo menos duas vezes por semana. Apesar de ser uma frequência ainda considerada baixa por especialistas, era muito mais do que durante a pandemia, que, em seu primeiro mês, já teve o número de crianças ativas reduzido para 9,77%.

Os números explicam algumas das dificuldades narradas pelos professores Robert Magni, Mariley Zanini e Luciane Sztoltz em relação à condição física dos alunos que retornaram para a aula presencial.

Vacinação de adolescentes

Os adolescentes em idade escolar já começaram a ser vacinados contra a Covid-19 no estado do Paraná. Em Curitiba, quem nasceu até o ano de 2009 já teve a oportunidade de tomar a primeira dose da vacina, enquanto os nascidos a partir de 2010 devem ser convocados às unidades de saúde nos próximos dias.

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