Vila Torres na mira do Covid

por Carlos Mazetto
Vila Torres na mira do Covid

Prefeitura de Curitiba se isenta de ações concretas e deixa moradores por conta própria.

Por Carlos Mazetto.

 

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O número de contaminados pelo novo coronavírus na Vila Torres subiu 34% em 1 mês. Foram registrados 17 casos e duas mortes a mais  do que os contabilizados no mês passado. Maio iniciou com cinco casos suspeitos e uma morte. Na Villa são 22 casos confirmados e 2 duas mortes por Covid-19, segundo o Conselho Local de Saúde. A comunidade enfrenta a pandemia de forma precária e sem auxílio da prefeitura. 

Curitiba tem 332 áreas de vulnerabilidade de contaminação e 24 de são de alto risco de contágio pela Covid-19, a Vila Torres encontra-se em uma destas áreas de alto risco de contágio, segundo levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Medidas de prevenção recomendadas pelas autoridades de saúde – higiene constante, uso de máscara e álcool em gel e distanciamento social – são impraticáveis por grande parte da comunidade. Alguns dos fatores que dificultam o cumprimento das recomendações dos órgãos de saúde são, as moradias com mais de um núcleo familiar, a necessidade de complementação de renda por meio de trabalho informal – impossibilitando o isolamento social -,  o custo dos materiais de higiene, o difícil acesso aos serviços públicos e a informação não adaptada à linguagem da periferia.

Com uma economia baseada na reciclagem, muitos moradores da Vila Torres estão passando aperto com as contas de casa. Para o responsável por um barracão de reciclagem na Vila, Naldo, o impacto econômico da pandemia é grande. Ele conta que se não fosse a ajuda da comunidade não teria como por comida na mesa para a família. “ To passando apurada aqui, mal ganho pro aluguel e pra comer”, conta

A professora e pesquisadora do departamento de sociologia da PUCPR, Talita Rugeri, aponta que a desigualdade social presente nas favelas é o agente causador da maior vulnerabilidade em situações como na pandemia do coronavírus. Ela lembra ainda que a ausência de um auxílio do Estado nas favelas faz com que áreas como a Vila Torres criem uma logística de comércio própria, porém muito frágil. “Com a defasagem do estado essas comunidades precisam criar alternativas de sobrevivência e com a pandemia estas alternativas são barradas”, explica.

A falta de um plano de contingência específico para regiões periféricas força a comunidade a trabalhar em equipe  para suprir as necessidades básicas. A associação de moradores da Vila Torres organiza desde março a arrecadação de cestas básicas para os moradores da comunidade, distribuição de máscaras, álcool em gel e assistência para obtenção do auxílio emergencial de R$ 600. O presidente da associação de moradores da Vila, Tanaka, conta que a comunidade decidiu se unir para poder sobreviver. “se dependesse de prefeitura e governo do estado nós estávamos passando fome aqui dentro”, conta Tanaka.

Em nota, a Prefeitura de Curitiba informou que tem monitorado todos os casos positivos de Covid-19 e que “Nas regiões mais vulneráveis, as lideranças locais contribuem conosco no sentido de estimular a manutenção do isolamento e, inclusive em algumas situações, podem fazer vídeos específicos com a própria comunidade e apoio dos trabalhadores da saúde, no sentido de orientar aquela comunidade”.

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