Universitários enfrentam dificuldades psicológicas durante pandemia

Canais de comunicação para suporte aos estudantes foram ampliados ao longo do período de surto do novo coronavírus

Por Vanessa Guimarães, Augusto Vellozo e Letícia Rocha | Foto: Pixabay

Os estudantes universitários têm enfrentado impasses durante o isolamento social em Curitiba.  A falta de conexão à internet, ambientes distrativos, trabalhos alternativos e, principalmente, dificuldades psicológicas interferem no rendimento acadêmico. Desde o início do isolamento, as atividades dos profissionais de saúde, da atenção psicossocial, se intensificaram, devido às fragilidades e alterações emocionais pelas quais as pessoas passam neste momento. Muitos já estavam vulneráveis pela própria condição emocional.

Diante disso, as universidades criaram oficinas de apoio e atendimentos individuais online para suporte aos alunos. O coordenador do Serviço de Apoio Psicopedagógico (SEAP), da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Saulo Geber, afirma que houve aumento na procura para acolhimento dos estudantes desde o início do isolamento. “Queremos desconstruir o entendimento de que quem procura um setor de apoio psicopedagógico está com problemas, somos um setor de suporte e atenção a todos.”

A psicóloga Brenda Marinello alerta sobre os transtornos que podem se desenvolver ou se intensificar neste período. “Estamos vivendo uma situação ameaçadora, e isso gera excesso de cortisol [hormônio que prepara o corpo para o perigo], provocando sensações de impotência, baixa autoestima e irritação, podendo causar outros transtornos como estresse, ansiedade e depressão.”

A psicóloga ainda reforça a necessidade de apoio durante a crise: “Precisamos nos unir, estamos nos reinventando e está difícil para todos”. As recomendações da Secretaria de Saúde do Paraná são para manter a rotina e horários de sono, afazeres domésticos, organização, fazer exercícios físicos e estratégias de relaxamento, além de se empenhar em hobbies e manter contato com a família e amigos.

Serviços de apoio ao estudante

Os canais de comunicação para suporte aos estudantes foram ampliados durante este período, migrando para atendimentos online. O Serviço de Informação e Apoio ao Estudante (SIAE), da Universidade Positivo, disponibilizou aos profissionais novos números de WhatsApp para suporte remoto aos alunos. Também foi criada a comunidade do SIAE no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), em que estão disponíveis atividades, espaços de reflexão e aprendizagem com temas referentes às quatro áreas trabalhadas no setor, sendo elas: aprendizagem, inclusão, suporte emocional e convivência.

O Serviço de Apoio Psicopedagógico (SEAP), da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), promoveu oficinas e atendimento individuais online. As oficinas envolvem exercícios de relaxamento, meditação e alongamento, dicas de produtividade e desempenho acadêmico, além de aulas de gestão de tempo. As programações estão disponibilizadas na plataforma Blackboard, localizadas no espaço de Apoio ao Estudante.

O Núcleo de Apoio Pedagógico (NAP), da UniCuritiba, também se transferiu para os atendimentos remotos, e disponibiliza o Serviço de Atendimento Psicopedagógico para auxiliar nas dificuldades de aprendizagem dos estudantes da universidade.

Ensino remoto nas universidades

As aulas presenciais em Instituições públicas e privadas de Curitiba foram suspensas em 20 de março, em seguida, a rotina de estudos passou a ser realizada remotamente. Após a adoção do isolamento social como medida de prevenção do novo coronavírus, os estudantes universitários enfrentam dificuldades para assistir às aulas online.

A alternativa para alguns alunos foi o trancamento de matrícula, ou seja, a interrupção das atividades escolares em todas as disciplinas em que o aluno está matriculado. A estudante de Estética da Universidade Positivo (UP) Letícia Costa Iarscherski diz que essa mudança para o ensino remoto foi um dos motivos que a levaram a trancar a matrícula. “Meu curso é quase 100% prático, e não fazia sentido eu continuar pagando presencial se eu não estava tendo aulas práticas.”

“Além disso, eu não consigo render muito com o EAD (ensino à distância), acabo me distraindo facilmente, não consigo absorver bem o conteúdo e não consegui me adaptar a tudo isso”, afirma Iarscherski.

Apesar das dificuldades enfrentadas durante as aulas remotas, a estudante de Odontologia da PUCPR Gabriela Caldeira Carvalho diz que, por serem utilizadas plataformas online, há a possibilidade de gravação das aulas, podendo revê-las a qualquer momento. “Sem o EAD, seria um ano perdido. Estou conseguindo me concentrar e entender os conteúdos muito melhor. Aqueles que não estão aprendendo com o ensino a distância não estão se esforçando o suficiente.”

Impacto nas mensalidades

Por conta da crise econômica decorrente da pandemia, tornou-se inviável para alguns alunos o pagamento das mensalidades de universidades privadas. Alguns optaram por transferência de Instituição. A estudante de Administração da Faculdade de Administração e Economia Juliana Wobeto cursava Engenharia de Software na PUCPR.

“Não estava me identificando com o curso, e era caro. Assim, resolvi cancelar (matrícula na PUCPR). Não teria o proveito total”, diz Wobeto. A estudante afirma, ainda, que no início não havia previsão de desconto na mensalidade. “Se esse desconto tivesse sido feito no início, talvez eu continuaria no curso.”

Nesse contexto, surgiram campanhas virtuais de movimentos estudantis. Como as campanhas Reduz PUC, promovida pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), da PUCPR, e Reduz Paraná, promovida pela União Paranaense Estudantil. As propostas são de redução do valor das mensalidades, tendo em vista que as áreas das universidades não estão sendo utilizadas.

Em resposta às exigências da campanha Reduz PUC, a universidade encaminhou um ofício, em 18 de maio, esclarecendo as medidas de flexibilização de pagamentos. Diante disso, foi criada a Célula Especializada de Atendimento Financeiro, que propõe atendimentos individuais para flexibilização de pagamentos.