Trajetória do Largo da Ordem foi marcada por tragédias e conflitos

por Pablo Ryan
Trajetória do Largo da Ordem foi marcada por tragédias e conflitos

Durante os anos 80 e 90 jovens começaram a se concentrar no Centro Histórico, um ponto de encontro que reunia miuita cultura, diversidade e tragédias

Por Arthur Froes e Pablo Ryan | Fotos: Pablo Ryan

Na década de 80, o Largo da Ordem começou a se destacar como um ponto de encontro de jovens que pertenciam a diversas tribos urbanas. A eletrizante vida noturna do local era marcada pela variedade de bares, pubs e restaurantes que atraíam muitas pessoas.

O ex-cantor e compositor João Lopes, conhecido pela famosa música “Bicho do Paraná”, era uma figura frequente que realizava shows no local. Nascido no Município da Califórnia, no Norte do Paraná, ele se destacava pelo estilo rock rural. O cantor gravou seu primeiro disco em 1981 (João Lopes), quando lançou a música Bicho do Paraná, que se tornou um hino não oficial do estado.

As performances do Lopes, que teve a primeira experiência na banda curitibana Blindagem, principal grupo de rock do Paraná, marcaram a vida de diversas pessoas. O aposentado Mauro Senter, de 53 anos, que frequenta o Largo até hoje, presenciou vários eventos do cantor no Centro Histórico.“Vi muitas vezes o João Lopes fazendo shows e tocando música ao vivo nos bares populares da época”.

No entanto, a atmosfera boa não era isenta de problemas. A diversidade cultural e as transformações sociais antigamente resultavam em conflitos entre as pessoas.

Era comum que a diversão durante a noite terminasse em confusão. Muitas vezes motivada por preconceitos relacionados à orientação sexual, divergências culturais e políticas. Mauro relata que presenciou muitos casos de violência no restaurante “Gato Preto” por conta disso.

“A rua São Francisco, por exemplo, era um palco de tensão que os travestis eram ‘proibidos’ de subir para evitar confusões.”

O professor de sociologia do Colégio Estadual do Paraná Ney Jansen esclarece que tais conflitos muitas vezes surgiam da dificuldade da sociedade em compreender que a educação vai muito além de uma simples determinação biológica. “Os estudos antropológicos e históricos demonstram que as relações homoafetivas não eram alvo de tabus.” Além de destacar que quaisquer formas de opressão a organização coletiva, são os primeiros passos da resistência e do enfrentamento aos preconceitos.

Apesar desses conflitos, a transição para os anos 90 trouxe novas influências e mudanças. A globalização e a crescente das subculturas moldaram a vida noturna. O aposentado Wilson Vicente, de 67 anos, revela que assistia ao show de Palminor Rodrigues Ferreira, apelidado como Lápis, no Centro Histórico e acompanhou essa transição.

“Surgiram novos bares que acolhiam uma clientela diversa de punks, góticos, hippies e outros grupos alternativos.”

Wilson Vicente e Mauro Senter

Largo nos anos 1990 e 2024

Nos anos 90, à medida que a diversidade cultural se transformava, a vida noturna no Largo reunia cada vez mais jovens autênticos e pertencentes a determinados grupos. Diante disso os comércios se destacavam e as brigas entre grupos sociais diferentes ainda eram comuns de acontecer.

Nessa época, havia vários bares um perto do outro, um exemplo disso era o Tubas que os punks frequentavam e o Amnésia que era movimentada pela classe mais alta. Uma diferença muito grande de grupo social e de ideias que acabavam terminando em pancadaria. 

Na Rua São Francisco, o Circus se destacava como o principal núcleo underground da cidade, atraindo skatistas, roqueiros e outros. Houve também o Saci, um bar de MPB, e o Bills, frequentado por punks e ‘doidões’.

Essa presença maciça de jovens, aliada com a ausência de medidas de segurança eficazes, resultava em incidentes frequentes e preocupação entre os moradores locais. Foi nesse contexto que a Guarda Municipal foi apenas reconhecida como responsável por enfrentar a juventude rebelde que se reunia no Largo, conforme relatado na matéria  “Guardas Pós-Modernos”, publicada no Correio de Notícias em 1990.

Atualmente, o problema não é centrado nas tensões entre grupos culturais. Porém, o tráfico de drogas, conflitos relacionados ao consumo excessivo de álcool, a exploração da prostituição e o uso de substâncias ilícitas são agora preocupações predominantes no Largo.

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