Tradição familiar se mantém nas históricas confeitarias de Curitiba

Cidade conta com diversas padarias e confeitarias de diferentes segmentos e em todos os bairros, do Batel e Água Verde até o Centro e Portão
Por Gustavo Malinowski, Gustavo dos Reis e Leticia Hamm | Foto: Gustavo Malinowski
Curitiba tem uma fama entre as capitais de ser um lugar conquistador. E se tem um jeito certeiro para conquistar alguém, é pelo estômago. Além da tradicional carne de onça, outra coisa que nasceu e cresceu junto com a história da capital foram as padarias, cheias de pães quentinhos e histórias para contar. Entre as mais de 800 panificadoras espalhadas pela cidade, três delas chamam atenção pela sua trajetória e tradição curitibana. A capital possui a Padaria América que passa dos cem anos e tem papel fundamental na história de Curitiba, com sua loja matriz no bairro São Francisco. Além das queridas pelo público curitibano como a Confeitaria Holandesa e a Confeitaria da Família.
Padaria América

Eduardo Engelhardt com a esposa dona Elsa e os filhos Eduardo Ewaldo Bruda e Isolde
Trazendo conhecimentos da Alemanha, Friedrich Engelhardt inicialmente abre a primeira cervejaria a vapor de Curitiba: a cervejaria glória, no século XX. Friedrich veio para a capital junto a sua esposa, Karoline, em busca de uma vida melhor.
A história da padaria américa surge quando o filho de Friedrich, Eduardo, utiliza da levedura do pai e seus conhecimentos como aprendiz de padeiro para criar um armazém de secos e molhados, que funcionava como uma espécie de mercearia na época. Um ano depois, em 1914, o estabelecimento se muda para a Rua América (atual Rua Trajano Reis) e o nome da panificadora surge naturalmente.
Passando os conhecimentos de geração em geração, a Padaria América se tornara um tradicional estabelecimento da cidade. Isso se dá tanto pelo seu carro chefe, a famosa broa de centeio europeia, quanto pela sua localização já que residia no coração da cidade e próximo ao Largo da Ordem, palco de inúmeras histórias de Curitiba.

Padaria América, Anos 60.
Porém, nem só de boas lembranças vive a padaria. Por conta da escassez de trigo decorrente da Segunda Guerra Mundial, a família Engelhardt viu sua produção diminuir e se tornando cada vez mais rasa. Além disso, por se tratar de um estabelecimento de origem alemã, vândalos depredaram e saquearam a Padaria, que contribuíram ainda mais para a má fase da panificadora.
Outro fato devastador que caiu sobre a América foi um terrível incêndio, em 1981. A causa do incêndio foi um curto circuito na elétrica do estabelecimento, na época os donos eram Lídia e seu esposo Evaldo, filho de Eduardo conhecido como “Seu Bruda”, e felizmente ninguém se feriu nesse incêndio. Por se tratar de um lugar querido da cidade, o triste ocorrido saiu em diversos veículos na época, como o Diário do Paraná.
Embora com algumas adversidades durante sua história, a Padaria América segue funcionando e crescendo junto a cidade durante esses 111 anos, mantendo suas raízes e tradições de família, já que desde o ínicio o espaço é comandado pela família Engelhardt e pretendem continuar assim pelo próximo centenário.
Confeitaria Holandesa
A Confeitaria Holandesa foi pioneira no ramo em Curitiba. Foi fundada em 1958, por uma antiga funcionária da Leiteria Scheffer e pelo marido, que na época era considerado um dos únicos confeiteiros com diploma na cidade. Na década de 60, não eram comuns muitas confeitarias especializadas, o que trouxe pouca concorrência e uma oportunidade de se destacar na culinária da cidade.
Localizada entre as ruas Doutor Pedrosa com a Brigadeiro Franco, no Centro, a confeitaria possuía um cardápio variado de tortinhas de creme, empadão, baba de moça e fios de ovos, que logo foi ganhando popularidade e conquistando o coração e o estômago dos curitibanos.
Embora não seja a criadora, a Holandesa ficou famosa pelo bolo Marta Rocha, um tradicional bolo a base de pão de ló e fios de ovos, logo se tornando o carro chefe da confeitaria e responsável por 50% do faturamento da loja.
Durante seus 66 anos de história, a doceria cresceu e chegou a ocupar um casarão na Sete de Setembro, no Batel. Atualmente, a confeitaria possui apenas sua sede no centro, que foi vendida pelos tios e agora é administrada pelos sobrinhos Ingo, Karin e Persio, mantendo viva a tradição da administração do local pela Família Procop.
Embora os sobrinhos queiram manter a tradição do local, eles sentiram que a Confeitaria Holandesa precisava se reinventar. Karin Procop, uma das sócias da doceria, sentiu que o lugar precisava seguir as tendências do mercado e da concorrência, para sair desse sentimento de estar parado no tempo.
“Uma ideia é tornar o ambiente mais instagramável e atrativo, mas sem perder a tradição”, diz um dos sócios, Ingo Procop.
Confeitaria das Famílias
A Confeitaria das Famílias foi inaugurada no dia 11 de outubro de 1945, pelo proprietário espanhol Jesus Alvarez Terzado. A sede está localizada em um dos prédios mais antigos da cidade, considerado uma Unidade de Interesse e Preservação, por conta do seu estilo mais arcaico e robusto características das construções da Rua XV no início do século XX.

Fachada Confeitaria das Famílias, Anos 70.
O prédio foi casa de diversos outros empreendimentos antes de se tornar a Confeitaria. Foi um salão de sinuca e um estúdio fotográfico. A fama da Confeitaria das famílias foi aumentando. Assim, o simples balcão de madeira para atendimento dos clientes se transformou em grandes salões com mesas e decorações.
Um fato que marcou o nome da Confeitaria das Famílias na cidade foi a nomeação da sua torta de Fondant para a torta Marta Rocha. Os donos da confeitaria decidiram fazer a troca desse nome em questão, da modelo e Miss Brasil Martha Rocha que infelizmente conquistou a segunda posição no Miss Universo em 1954. A Torta ficou muito famosa e ganhou recriações por diversas confeitarias de Curitiba como a Padaria América e a Confeitaria Holandesa.

O Dia, 11 de outubro de 1945