Teatro Guaíra dispensa músicos e bailarinos para se adequar à lei

Seleção de novos artistas ainda não tem data para ocorrer
Por Thaís Mota
Bailarinos da companhia do Balé Teatro Guaíra (BTG) e músicos da Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) foram exonerados de suas atividades após sete meses em hiato. Criados para acabar com dependências no antigo governo do estado, de Roberto Requião (PMDB), os cargos artísticos do Guaíra foram declarados comissionados. Apesar desse tipo de contratação, que acontece por indicação e nomeação, os integrantes dos corpos artísticos participaram de audições rigorosas, além de receberam um salário menor e sem benefícios mesmo ocupando cargos de chefia.
Em julho de 2016, o Tribunal de Justiça do Paraná declarou a situação dos cargos comissionados ilegal, parando as atividades no Guaíra. A solução encontrada pela Secretaria da Cultura e órgãos do estado foi, então, a exoneração dos funcionários para a implantação legal do projeto cultural PALCOPARANÁ, que conta com uma seleção por meio de nova audição, ainda sem data prevista.
O ex-integrante e bailarino da companhia há 13 anos, Leandro Vieira conta como recebeu a notícia da decisão judicial. “Foi da pior forma possível. Nós tínhamos uma agenda de compromissos com o Balé Guaíra e fizemos o possível para cumprir. Estávamos indo para Joinville fazer uma noite de gala como companhia convidada dentro do festival, e, quando a gente chega lá, temos essa confirmação. Como é que a gente dança emocionalmente sabendo dessa situação? Como a gente faz o nosso melhor em cena, sabendo que em meses vamos estar desempregados?”
O bailarino explica que a companhia foi recebida no escritório do secretário da cultura, João Luiz Fiani, para que, juntos, pudessem encontrar uma solução e resolver a situação, visando uma contratação limpa e às claras. “Infelizmente, acabou sendo necessária essa exoneração para que o projeto acontecesse da melhor forma possível. Ao mesmo tempo que tem um lado político dessa questão, é complicado, pois nós saímos sem nenhum recurso, fomos despejados sem valor nenhum”, acrescenta o artista.
Formado pela escola do Teatro Guaíra em 2004, onde conseguiu uma vaga como estagiário por dois anos no espetáculo O Quebra Nozes, Leandro conta que foram anos até conseguir um cargo efetivo e relata o desejo de que tudo se resolva o quanto antes. “Claro que falo como profissional que quer estar lá novamente. Eu fui criado e fiz meu nome lá dentro, quero manter esse trabalho da melhor forma possível, mas além disso também falo culturalmente, esse descaso com a cultura, que é sempre deixada pra depois. São profissionais que têm formação, que dedicaram tempo, dinheiro”.
“Situação me deixou chateado”, diz secretário
Segundo o secretário da cultura João Luiz Fiani, o valor total destinado à Secretaria de Estado da Cultura, incluindo despesas com pessoal, manutenção dos espaços, etc, é de R$ 109.845.939,00, dos quais 31% são direcionados ao Centro Cultural Teatro Guaíra. Sabendo que um dos maiores patrimônios culturais da cidade ficará por tempo indeterminado sem apresentações artísticas, João Luiz considera. “Eu cresci dentro do Teatro Guaíra, sou amigo pessoal de vários músicos e bailarinos e toda essa situação me deixou profundamente chateado. Mas estes cargos ficaram irregulares durante anos e estamos trabalhando para corrigir o que não estava em conformidade com a lei.”.
Ele afirma que o Balé Teatro Guaíra e a Orquestra Sinfônica do Paraná não vão acabar. “É importante esclarecer que esta é uma breve interrupção, justamente, para corrigirmos o que não estava certo e garantirmos a preservação e manutenção dos corpos estáveis do Teatro Guaíra, seguramente fundamentais para a Cultura do nosso Estado.”
O Processo Seletivo Simplificado(PSS) que visa preencher o quadro de músicos e bailarinos no Guaíra ainda não tem data definida. Segundo o secretário da cultura, João Luiz Fiani, o sucesso do teste seletivo nos prazos estimados depende de outros fatores que não apenas a contratação da universidade que fará o teste seletivo e a publicação do edital, mas também de eventuais ações judiciais e/ou impugnações administrativas ao edital ou à decisão de se efetuar o teste seletivo simplificado.