SUS se prepara para envelhecimento populacional brasileiro

por Maria Fernanda Coutinho
SUS se prepara para envelhecimento populacional brasileiro

O país, segundo estudo do Ministério da Saúde, deve trabalhar para remover barreiras de acesso à saúde e fortalecer estratégias de prevenção

Por Isabelli Pivovar, Laura Borro e Maria Fernanda Coutinho

Os serviços de saúde do Brasil ainda não estão conseguindo acompanhar o ritmo de envelhecimento da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, até 2042 o país será majoritariamente constituído por idosos (60 anos ou mais). Porém, em contraste, a saúde pública brasileira, mais especificamente o Sistema Único de Saúde (SUS), não parece pronto para receber tal aumento.

Em um período de vinte anos, de 1997 a 2017, a expectativa de vida da população de 60 a 69 anos cresceu 21,6%, e a de mais de 80 aumentou 47,8% no país. Entretanto, a saúde pública se apresenta de forma atrasada em relação aos dados, é a opinião de Marcela Vendramelo, médica de família e comunidade, especializada em geriatria. “Infelizmente o governo e a população não estão preparados para essa inversão da pirâmide etária que estamos experimentando. A Europa teve mais tempo para envelhecer, então teve mais tempo para se preparar, o processo foi mais lento. No Brasil, o processo está sendo muito rápido”, comenta.

O alerta foi dado pelo Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), divulgado no começo do mês pelo Ministério da Saúde, órgão que financia o ELSI. Seu objetivo é acompanhar como evoluem os indicadores de saúde da população com mais de 50 anos em todo o país. A primeira leva de observações, feita entre 2015 e 2016 e cujos dados vêm à público agora, verificou como viviam cerca de 10 mil pessoas em 70 municípios.

Na avaliação dos pesquisadores, o acesso à saúde no Brasil ainda é desigual – tem maiores facilidades quem pode pagar por elas. E o país ainda falha na prevenção, já que 10% dos idosos participantes do estudo relataram ter sido hospitalizados por acidente vascular cerebral (AVC), doença cardiovascular, diabetes e hipertensão O -todas doenças preveníveis- , em um período de 12 meses anteriores à realização da pesquisa.

De acordo com Marcela, o investimento no SUS tem sido paulatinamente diminuído nos últimos anos e isso se reflete em insatisfação para toda a população, e os idosos não ficam de fora, “Nesta faixa etária os gastos com saúde são maiores por conta do envelhecimento e também porque observa-se uma maior incidência de doenças crônico-degenerativas que demandam uma complexidade de tratamento e exames. Se tratando de idosos temos que investir em serviços que façam a manutenção, prevenção e reabilitação desses pacientes”. Na opinião da médica, para que haja melhora no SUS é necessário investir na capacitação de profissionais para que eles possam atender melhor essa população, otimizando os recursos disponíveis.

Em 2016, o SUS realizou 11 milhões de internações. Dessas, segundo um dos artigos produzidos a partir do ELSI, 36% envolveram pessoas com mais de 50 anos e consumiram 48,5% dos recursos destinados para esse fim. A aposentada de 74 anos, Igina Ribeiro, porém, se mostra satisfeita com o atendimento que recebe do SUS “nunca enfrentei os problemas que a gente vê na televisão, é claro que eles existem mas nunca me atingiram aqui no Sul. Porém, já morei na Bahia e vejo a diferença em tentar conseguir marcar um exame mais ‘chique’ ou até mesmo uma cirurgia”. Portanto, aprender a prevenir é importante porque evita o sofrimento de quem adoece e porque é mais barato, resultando em um investimento melhor aproveitado.

Na avaliação dos pesquisadores envolvidos no ELSI, o país deve trabalhar para remover barreiras de acesso a saúde e fortalecer estratégias que já se mostraram eficientes, como o Saúde da Família.

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