“Stand-up é para tirar sarro de si mesmo, não da outra pessoa”, diz Tesão Piá na abertura do Festival Universitário da PUCPR

por Beatriz Camargo Dias
“Stand-up é para tirar sarro de si mesmo, não da outra pessoa”, diz Tesão Piá na abertura do Festival Universitário da PUCPR

Dupla de humoristas do grupo Tesão Piá fez apresentação remota e, depois, cedeu entrevista exclusiva,  falando sobre o ofício de comediante

Por Rodrigo Toso

Os comediantes Cadu Scheffer e Jéssica Medeiros, do grupo de comédia Tesão Piá, apresentaram um show de stand-up comedy no primeiro dia do Festival Universitário “A PUCPR é nossa”, na última segunda-feira (28). Após a apresentação, eles conversaram com exclusividade com a reportagem do Portal Comunicare. O show de comédia foi transmitido de modo remoto para estudantes de todos os câmpus da universidade.
Na entrevista, o casal de comediantes, sempre muito bem-humorado e receptivo, falou sobre o início do grupo, inspirações, liberdade de expressão e planos futuros para o Tesão Piá. Confira a conversa abaixo, na íntegra.

Portal Comunicare: Vamos começar com aquelas perguntas que vocês já responderam um milhão de vezes. De onde surgiu a ideia do grupo e como vocês começaram no teatro e no humor? Como vocês conheceram o Fágner? Como foi tudo isso?
Cadu: O grupo começou em 2012. A inspiração do grupo foi um vídeo lá de Porto Alegre, do “Coisas que Porto Alegre Fala”, que foi inspirado em um vídeo dos Estados Unidos chamado “Shits that New Yorkers Say”. Então, a gente viu esse vídeo, eu e mais um colega, e piramos. Achamos muito engraçado, muito legal e pensamos: “Por que não fazer em Curitiba?”. Eu já fazia comédia, stand up, e falei: “O curitibano gosta de rir dele mesmo.” Pensei, então: “Como Curitiba fala? Como a nossa cidade fala? Qual é o jeito de a gente falar?”. E daí eu reuni algumas pessoas próximas para os primeiras vídeos. A Jéssica – que, na época, era minha namorada; hoje esposa; o Fágner que fazia show de stand up comigo; a Luana, que era minha companheira de curso lá do [Teatro] Lala Schneider. Daí, eu reuni essa galera e deu certo.
Jéssica: Resumindo, o Cadu teve a ideia e botou todo mundo junto, né? Veio da cabeça desse cara aqui (risos).
Cadu: Vivo colocando a galera em volta de mim para trabalhar. Cara, eu sou muito louco. E funcionou.

Portal Comunicare: E você veio do teatro, né? Como foi a transição para o humor?
Cadu: O humor escolhe a gente, saca? Eu faço humor desde que sou pequeno, eu era meio o palhaço da família… Eu peguei um vídeo meu antigo esses dias, em que eu imitava o Barbosa, da TV Pirata, nos natais em casa e era terrível, a imitação era muito ruim. Mas eu era meio que o palhaço da família e, daí, minha cabeça sempre pensou em humor. Com Monty Python, com TV Pirata, com os filmes, sei lá…

Portal Comunicare: Como você foi para o humor?
Cadu: Ah, é. E daí eu comecei a gravar vídeos. Meu pai sempre teve câmera. Ele era muito tecnológico, surgia alguma coisa, tipo videocassete, surgia câmera de VHS, ele comprava em conjunto com outras pessoas, para usar todo mundo. Então, sempre tinha câmera lá em casa. A gente começou a filmar, filmar, filmar; com microfone, fazia entrevista, algumas coisas assim, fazia montagem no videocassete. A tecnologia foi mudando, foi melhorando e ficando mais fácil. E eu sempre filmei com amigos, umas coisas muito toscas, meio trash.

Portal Comunicare: Então você tem uma referência principal na comédia ou várias?
Cadu: Cara, o Steve Martin tocando aquele banjo maravilhosamente bem, o especial do Adam Sandler que eu vi, eu fiquei assim… Nossa… Sei lá… Entusiasmado! Vendo ele fazendo aquele musical.
Jéssica: E é muito legal, muito legal (sobre o especial do Adam Sandler). E como é o nome daquele comediante que você sempre assiste, que toca teclado, como é o nome dele?
Cadu: É, eu ia falar Tim Minchin, mas não é. Vou pesquisar agora porque você tem que conhecer esse cara.
Jéssica: Você vai gostar muito dele.
Cadu: Porque, além de ele ser comediante, ele tem umas das músicas mais bonitas do mundo, e que não é de comédia.
[Cadu pesquisa no celular]
Cadu: Tim Minchin! Isso mesmo. Você conhece ele?

Portal Comunicare: Não.
Cadu: Essa música, White Wine in the Sun, é a coisa mais linda do mundo. Eu tenho um ritual todo Natal: eu fico sozinho, escuto essa música e choro.

Portal Comunicare: E é uma música séria, isso?
Jéssica: Isso. É uma música que motiva. Ela é bem bonita.
Cadu: E tem aquele outro americano também, que fez até um monte de especial na internet, tem até na Netflix… Bo Burham!

Portal Comunicare: Ah, que fez aquele filme Inside, durante a pandemia.
Cadu: Isso. Sensacional! Quando eu vi aquele filme da pandemia, eu falei “Caralho, esse cara é muito foda”.

Portal Comunicare: Muito legal você dar suas inspirações.  Quando você subiu a primeira vez para fazer um show de stand up, qual foi a sensação de você perceber que “Começou, tem uma plateia me vendo e eu não posso fazer nada de errado”? Como é que você teve essa coragem?
Cadu: Foi amedrontador, foi assustador. Como é que se diz… Eu tremi na vara, eu tremia, parece que teu corpo começa a flutuar. Você fica tão nervoso que você não sabe nem o que você tá fazendo, quando acaba você fala “Foi? Eu fiz?” Sabe aquela coisa assim. (risos)
Jéssica: É por que é muito diferente da dramaturgia, de atuar no teatro, fazer personagem… Fazer stand up é duro.
Cadu: A gente tinha um grupo que fazia improviso, “Mama Jojo”, e um dos atores que improvisava com a gente era o Eduardo Jericó, e ele sempre fazia stand up. Eu conheci ele lá no Rio de Janeiro e tal, e a gente sempre ia nos stand ups dele lá no Rio. Era sempre uma coisa legal, desbravando o stand up no Brasil. E, daí, um dia a gente foi fazer nosso espetáculo em Registro. A gente foi lá em um bar comer e tinha microfone, tinha palco, e, daí, o Jericó: “Pô, vocês tem um textinho que eu sei que vocês já fizeram. Vocês não querem fazer no palco?”. E eu: “Queremos”. Ele foi lá, abriu, fez uma introdução e a gente ia subindo no palco, cada um fazendo umas quatro ou cinco piadas e, assim, todo mundo foi muito mal. (risos) A primeira vez foi terrível, todo mundo mandou muito mal, só que eu continuei até eu ficar mais ou menos.
Jéssica: Você não desistiu. (risos)
Cadu: E, daí, a segunda vez que eu fiz stand up foi no dia do meu aniversário aqui em Curitiba no [Bar] Era Só O que Faltava. Aí eu reuni meus amigos, porque aquele segundo texto já estava mais trabalhado, e aí os amigos ajudam a rir, né?

Portal Comunicare: E, agora, no mundo atual, você que ainda faz stand up, toma um pouco mais de cuidado em relação à piada, ao que se pode falar? Por que o humor está mudando, mas que, no stand up, isso não ocorre tanto. Mas, então, você toma um pouco mais de cuidado ou você acha que, para o stand up, as coisas ainda fluem melhor?
Cadu: Eu tomo cuidado com algumas coisas. Eu mudei algumas coisas no meu texto e isso é natural, cara. Tinha muita coisa machista que eu fui tirando, principalmente de relacionamento, e isso há pouco tempo. Para todos comediantes, a namorada ou a esposa era o saco de pancadas; e, daí, a gente começou a ver que o stand up é para tirar sarro de si mesmo, não da outra pessoa. Eu fui mudando algumas coisas. Tinha uma parte em que eu falava “traveco”; hoje em dia eu falo “travesti”. Não muda nada do texto, e você está respeitando a diversidade.
Jéssica: Tem os lugares, os contextos. A gente faz muito show para empresas, shows corporativos e tem que ter muito filtro.
Cadu: Mas eu também assisto pessoas que tem o stand up zero pudor e gosto também, mas eu aprecio mais quem faz humor sem apelar. Eu estava assistindo ontem o novo especial do Jerry Seinfeld, tem umas partes muito boas e é zero palavrão. Ele não gosta de pessoas que fazem stand up falando palavrão.
Jéssica: Para mim, o que me atinge é esse tipo de humor, eu não gosto muito sujo.

Portal Comunicare: Vocês chegam a fazer shows ou eventos fora de Curitiba, em São Paulo, por exemplo?
Jéssica: Estamos indo para São Paulo este ano, pela primeira vez.
Cadu: Primeira vez que o Tesão Piá vai para São Paulo.

Portal Comunicare: E como vai ser? Por que lá em São Paulo não vai funcionar uma piada com Gato Preto ou Oil Man.
Jéssica: Eu também não sei. (risos) Mas a gente estava conversando sobre isso, porque tem muita gente de Curitiba que mora em São Paulo, e, sabendo que a gente vai para lá, vai ter essa expectativa de ver coisas daqui também. Então, não é um show só de coisas nacionais, mas a gente vai levar a regionalidade porque, com certeza, vão ter pessoas que vão esperar isso.
Cadu: Mas com certeza vai ter alguma comparação São Paulo/Curitiba. Nós temos uma esquete, eu e a Jéssica, que nós vamos tentar adaptar para o trânsito de São Paulo. A gente vai ter que adaptar muita coisa, né? Mas nós vamos falar de Curitiba, porque o pessoal vai lá esperando isso.

Portal Comunicare: E vocês vão quando?
Jéssica: 26 de novembro. Lá no Clube Barbichas. Vai ser bem legal.

Festival Universitário “A PUCPR é nossa”

A primeira edição do Festival Universitário “A PUCPR é nossa” acontece até a próxima sexta-feira (1º), nos câmpus da universidade. O evento, promovido pela Diretoria de Identidade Institucional (DCE), reúne atividades integrativas, oficinas, encontros, palestras, tours guiados, gastronomia, ações de gamificação, exposições artísticas, seções de meditação e muita valorização da música autoral em suas mais diferentes formas e ritmos.
O Festival está sendo coberto por estudantes do curso de Jornalismo que participam do projeto Fatos Narrativas Midiáticas, núcleo prático do curso de Jornalismo.
Para se inscrever nas atrações do Festival e conhecer programação completa, acesse o seguinte link: https://linktr.ee/festivaluniversitario