Será verdade que crença religiosa ajuda serial killer a escapar da polícia?

Por Giovana Bordini, Maria Eduarda Cassins e Milena Chezanoski.
Durante a busca e perseguição de Lázaro Barboza, chamado de “serial killer do Distrito Federal”, que aconteceu de 08 de junho a 28 de junho de 2020, as mídias acabaram por fazer grandes transmissões do caso, gerando uma repercussão nacional. O alcance chegou até o Tik Tok.
A influencer digital Fernanda Schneider, conhecida como “Fefe’’, compartilhou com os seus mais de 14.7 milhões de seguidores na plataforma de vídeos, uma cobertura sobre o caso. Em sua fala, ela afirma que detinha informações sobre o assassino que vinham diretamente de jornalistas que estavam acompanhando as buscas de perto. Por isso, chegou a dizer que uma mãe de Santo estava ajudando Lázaro a escapar da polícia. O que ela menos esperava seriam os quase 7 mil comentários de pessoas revoltadas com a sua apuração incorreta envolvendo um preconceito escrachado de religiões de matrizes africanas.
@fefe continua f0ragido , nao sabemos o que vai acontecer! Mais de 400 p0liciais no caso e o b0pe chegou no local #historiasbizarras #fyp #lazaro #pravoce ♬ Creepy, scary, horror, synth, tension – Sound Production Gin
Será verdade que crença religiosa safa ou protege serial killer da polícia?
O então foragido, Lázaro, era investigado por mais de 30 crimes no país, sendo a maioria referente a latrocínios. Para a sua captura, a força-tarefa que foi formada para tal contou com 270 agentes da Polícia Cívil e Militar de Goiás e do Distrito Federal, Da Polícia Federal e de vários outros órgãos, como o Corpo de Bombeiros e a Diretoria Penitenciária de Operações Especiais do Distrito Federal, além de equipes de inteligência da Polícia Rodoviária Federal e da Força Nacional.
Durante as buscas, diversos casos de intolerância religiosa ocorreram devido informações meticulosas e falsas sobre os esconderijos utilizados pelo criminoso. Em Águas Lindas, a cerca de 50 km de distância de Brasília, um Pai de Santo (que preferiu não ter seu nome divulgado) registrou um boletim de ocorrência após o terreiro dirigido por ele ser alvo de buscas abruptas, devido a errônea procedência disseminada pela internet de que Lázaro não era cristão.
No Brasil existem normas jurídicas que visam punir a intolerância religiosa, por meio da Lei nº 9.459, de 15 de maio de 1997, que decreta como crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões porém, os cultos afro-brasileiros são perseguidos desde que a Umbanda estava incluída no rol dos inimigos do catolicismo nos anos 40 do século XX.
Toda essa intolerância religiosa foi e continua sendo causada pela falta de conhecimento sobre outras culturas. Por mais que a influencer estivesse apenas repassando uma informação falsa sobre Lázaro, de acordo com o Código Penal, criar ou repassar um boato sobre alguém, pode ser considerado crime contra a honra. Devido a isso, toda informação de cunho religioso deve ser analisada e estudada antes de ser propagada.
Em uma entrevista concedida ao Carta Capital,o pesquisador de Religiões de Matrizes Africanas, Renzo Carvalho, explica que “Os europeus, alimentados pela lesiva crença etnocêntrica de que seus valores e princípios eram antagônicos para com os dos povos escravizados, uma vez que estes últimos eram vistos como seres ‘sub humanos’, passaram a demonizar suas respectivas culturas e filosofias”, conta o pesquisador.