Seis obras públicas simultâneas impactam a mobilidade de curitibanos

Curitiba se torna um canteiro de obras no último ano de mandato do prefeito Rafael Greca.
Por Carolina Senff | Foto: Carolina Senff
Curitiba está tomada por obras desde janeiro deste ano. As intervenções são de manutenção, modernização e revitalização. São três ações de grande porte e três de médio porte. Esse acúmulo de transformações urbanas simultâneas coincide com as eleições municipais. A grande movimentação urbanística atrapalha a mobilidade urbana dos cidadãos e sua segurança.
Algumas das principais obras em andamento neste primeiro semestre são a finalização da Linha Verde e o Programa de Aumento da velocidade e capacidade do Inter 2 envolvendo reformas, como no Tarumã.
Em fevereiro, em discurso na Câmara dos Vereadores, o prefeito Rafael Greca prometeu a entrega da Linha Verde até o fim de seu mandato. A etapa atual é a última e mais complexa do projeto, abrange aproximadamente três quilômetros de extensão. A obra deveria ter sido concluída dez anos atrás para a Copa do Mundo de 2014.

Rua bloqueada parcialmente devido obras do Inter 2.
O Projeto do Novo Inter 2 engloba diversos pontos de Curitiba como modificações no bairro Capão da Imbuia e no Complexo do Tarumã. As intervenções de escavação, substituição de tubos pluviais, implantação de galerias de passagem, pavimentação e troca de estações tubos ocorrerão ao longo do itinerário da linha. O foco é tornar o transporte público mais eficaz, moderno e sustentável.
A região do Tarumã recebe um novo viaduto e alças de acesso com novas estações tubo. Durante a execução de obras o trânsito aumentou e várias ruas tiveram pistas fechadas. No Capão da Imbuia as obras são de reformas de vias para passagens dos ônibus e do novo terminal do Capão da Imbuia. As diversas intervenções têm gerado transtorno para moradores. A insegurança na região próxima ao novo terminal sofre com violência, pois áreas demolidas agora são ocupadas por usuários de drogas.
Mobilidade Urbana
O diretor de pavimentação da Secretaria Municipal de Obras Públicas, Mário Padovani, destaca que as obras viárias ocorrem com as vias em uso. Isso requer uma logística cuidadosa para reduzir o impacto no tráfego e manter o acesso aos empreendimentos, permitindo que a rotina siga seu curso natural.

Canteiro de obras nas Agrárias
Próximo a locais de obra o trânsito congestiona e há menor segurança para pedestres, além de impactos econômicos gerados. “Assim que começarem a fazer o calçamento do lado que estou eu vou ser muito impactado. Terei que fechar a banca no mínimo dois dias. Prevejo que as vendas vão baixar uns 80%, não vai ter como circular por aqui”, reclama Guilherme de Almeida, proprietário da banca em frente a estação tubo da Rua dos Funcionários que passa por obras desde o início do ano.
Mestre e Doutor em Gestão Pública, o pesquisador André Turbay destaca a importância de analisar a localização das obras viárias. Ele questiona se as obras ocorrem onde são realmente necessárias ou onde há mais visibilidade. O urbanista enfatiza a necessidade de um diálogo entre a prefeitura e a comunidade para atender às demandas locais e minimizar os transtornos para a população afetada pelas obras.

Obras na frente das Agrárias atrapalha fluxo de carros e pedestres.
Revitalizações
Reformas que estão no processo de revitalização são as da Praça da Ucrânia, Jardim Botânico e Pista do Gaúcho. Devido às obras na praça, três feiras que ocorrem no local foram realocadas. A ação tem previsão de ser finalizada em Outubro.
No Jardim Botânico o impacto é menor. Um trecho da pista de corrida foi interrompido para a reforma do Salão Central. O projeto será concluído no segundo semestre. Em 2024 a Pista do Gaúcho terá o cimento renovado.
Campanha Eleitoral e Lei
A constituição brasileira possui normas regulamentadoras a respeito da publicidade em campanhas eleitorais. O documento garante que atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverão ter caráter educativo, informativo ou de orientação social sem promover a imagem do político. A lei ainda prevê que não é permitido participar de inaugurações de obras públicas nos três meses que antecedem à eleição, que ocorrerá apenas em outubro.
Engenheira da coordenação do Sistema Viário do IPPUC, Guacira Civolani alega que os planejamentos não são feitos para coincidir com anos eleitorais. A profissional explica que devido ao tempo de planejamento e autorização de todas as partes envolvidas isso pode ocorrer.
Propaganda na política Local
Política Curitibana tenta manipular ideias para convencer os despolitizados.
O Professor de Ciência Política da Unicuritiba Marlus Forigo relata que todo mundo percebe que cidades viram canteiros de obras em anos eleitorais. Ruas com novo asfaltamento e obras paradas sendo retomadas são alguns exemplos citados pelo cientista.
“Obras públicas são a melhor propaganda eleitoral para quem está no poder. É preciso mostrar serviço, principalmente às vésperas das eleições”, alega Forigo.
O professor explica que boa parte do eleitorado define seu voto pelas obras públicas promovidas e realizadas pelos candidatos. Esse é um modo de manipular a percepção do eleitor.
Sobre os riscos à democracia, o profissional alega que é um atentado ao sistema. A ideia de democracia pressupõe esclarecimento político-ideológico do cidadão, que não se adequa ao excesso de obras na tentativa de criar uma boa imagem de um político no imaginário da população. O cidadão não deve ser visto como consumidor final, mas sim como membro da máquina política.
Marlus Forigo finaliza dizendo que para que a situação reduza é necessária a educação política e a construção do senso crítico da população.
Mapa interativo de obras