Salto alto: uma incógnita para o futuro da moda

por Eduardo Veiga Nogueira
Salto alto: uma incógnita para o futuro da moda

Por Eduardo Veiga, Giovana Bordini, Mariana Alves e Mariana Toneti | Foto: Pixabay

O salto alto não é apenas um calçado. O impacto dessa peça transcende o universo da moda e atinge a sociedade do ponto de vista econômico, comportamental e até mesmo da qualidade de vida. Elevando alguns centímetros o andar, o salto alto tem forte presença simbólica no imaginário coletivo, principalmente, mas não só, de pessoas que se identificam com o gênero feminino. No entanto, números dos últimos anos, com endosso pandêmico, mostram que o símbolo passa por revisão.

De acordo com a consultora estadunidense NPD Group, as vendas de salto alto caíram 70% no último trimestre de 2020. Como apresentado pela Revista CDM, toda a indústria de vestuário e acessórios amargou bruscas retrações com a chegada da Covid-19. Em todo o mundo e especialmente no Brasil. Com festividades e outras atividades do convívio social paralisadas, o interesse em adquirir novos sapatos pouco confortáveis perdeu vigor.

Porém, de fato, a crise sanitária do século apenas agravou um quadro já existente. A NPD mostra que em 2019 as vendas de salto alto foram 12% menores que no ano anterior. Consecutivos anos mostrando baixas indicam um crescente desapego da peça. Historicamente associado a padrões estéticos de beleza, o saldo alto perde espaço para calçados mais confortáveis e que apresentam maior comodidade.

Mulheres brasileiras já chegaram a ter, em média, 7,4 pares de salto alto. É o que revelou uma pesquisa da empresa Pés Sem Dor, feita em 2016. Do total de participantes da pesquisa, 36% afirmaram ter mais de 10 calçados. Se essa realidade anterior às quedas de vendas citadas podem retornar após a pandemia ainda não se sabe. A professora de moda da PUCPR Camila Teixeira diz que desfiles recentes já mostram “roupas com muitos elementos, bem fortes de exageros, cores e texturas, peças não muito confortáveis”. A diferença do salto alto para as demais peças de roupa vai além do desconforto: há problemas físicos.

O uso frequente de salto alto pode ser uma das explicações para que a artrose – doença que afeta diretamente as articulações – seja duas vezes mais comum em mulheres do que em homens, de acordo com estudos da Universidade de Stanford, no Reino Unido. Esse dado está relacionado principalmente ao uso do salto acima dos nove centímetros. A mesma pesquisa sobre o salto alto e as brasileiras referenciada anteriormente mostra que, na faixa dos 20 anos, os saltos acima dos oito centímetros são os prediletos.

A forma como a ressignificação do símbolo por trás do salto alto, os hábitos de consumo e a busca por mais saúde podem alterar a circulação do salto alto ainda será descoberta, principalmente após um maior arrefecimento de qualquer tipo de isolamento social que está por vir. Transformações nos conceitos de moda podem acontecer com o salto alto guardado no closet – se é que ele saíra dos estoques das lojas.

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