Raízes Tropeiras permanecem nas tradições de Curitiba

por Murilo Ferreira
Raízes Tropeiras permanecem nas tradições de Curitiba

Monumento ao Tropeiro situado na Lapa que homenageia a importância deste povo para a cidade Créditos: Murilo Wiczick

Legado cultural, gastronômico e arquiteto dos Tropeiros, podem ser encontrados até os dias atuais na capital paranaense

Por: Murilo Ferreira, Marcelo Xavier e Hiago Machado. Fotos: Marcelo Xavier

Durante o século XVII, um grupo de trabalhadores conhecido como Tropeiros, chegava a Curitiba para marcar uma época com valor significativo na história da capital paranaense. Hoje, cerca de 300 anos depois, os vestígios dessa era podem ser encontrados em partes da cultura local e em algumas expressões linguísticas que ainda persistem. Apesar de a cidade ter evoluído e se modernizado, a história dos tropeiros foi parte importante para o desenvolvimento de Curitiba.

Segundo José Carlos Mendes, cuja família tem profundas raízes nas tradições do tropeirismo em Curitiba, a conexão das tradições herdadas pelos Tropeiros é pessoal e profunda. “A história dos tropeiros está entrelaçada com a história da minha família há muitos anos. Meus bisavôs eram tropeiros e percorriam as estradas trazendo mercadorias para minha família”, revela ele.
Para Mendes, preservar as tradições tropeiras é uma forma de honrar a memória dos seus antepassados e manter viva uma parte importante da história de Curitiba. “É uma conexão com o passado que nos ajuda a entender quem somos e de onde viemos”. Para ele, a preservação e valorização do legado deixado pelos tropeiros para as gerações futuras é de grande importância.

O legado cultural dos tropeiros é visível em várias manifestações culturais de Curitiba. Na gastronomia, pratos típicos como o “barreado” e o “entrevero” têm raízes no tropeirismo, refletindo as tradições culinárias desses viajantes. A influência destacada nos dias atuais principalmente na área gastronômica, se deve a principal movimentação comercial da época . Segundo o historiador Augusto Mozart, “o pequeno lucro que era gerado na época dentro da cidade, movimentava principalmente o comércio local de gêneros alimentícios”.

As festas folclóricas de Curitiba também carregam a marca dos Tropeiros. Eventos como a Festa do Pinhão e a Festa da Uva refletem tradições que remontam ao período em que os tropeiros eram figuras centrais na vida econômica e social da região. Essas celebrações continuam a atrair moradores e turistas, mantendo vivas as tradições herdadas desse passado distante.

Na arquitetura, também é notório a influência dos tropeiros, que pode ser observada em construções coloniais como as casas em estilo enxaimel e a igreja de São Francisco de Paula, construída em 1752. Esses edifícios históricos são testemunhos do período em que Curitiba era um ponto de passagem importante nas rotas comerciais dos tropeiros.

No entanto, as palavras e expressões do vocabulário Tropeiro, têm diminuído com o passar dos anos, “O vocabulário originário do tropeirismo foi se perdendo no nosso cotidiano. Expressões como ‘gaudério’ e ‘vaqueano’ já não são tão comuns, enquanto ‘véstia’ é uma das poucas que ainda usamos”, explicou Augusto.

Originários de diversas regiões, os Tropeiros eram os protagonistas do comércio e da integração entre as cidades do país. Em Curitiba, principalmente durante o século XVIII, sua presença era de grande importância. Transportando mercadorias que iam desde a erva-mate até o gado, eles conectavam a cidade aos mais remotos pontos do território brasileiro, contribuindo para o crescimento da economia local.

Embora Curitiba seja mais antiga que o ciclo do Tropeirismo, durante o século XVIII, a cidade serviu como rota alternativa para tropas vindas do Sul. Em 1776, a vila de Curitiba, possuía um total de 2.505 habitantes, e a passagem destes tropeiros era de grande importância para a movimentação da economia. “Para a Curitiba do século XVIII o tropeirismo era parte fundamental da economia da Vila, sendo uma das poucas atividades rentáveis naquele contexto”, destacou Augusto.

Os desafios enfrentados pelos tropeiros em Curitiba eram significativos, mas semelhantes aos de outras vilas da rota que estes trabalhadores cruzavam. “Curitiba não era muito diferente das demais vilas do ciclo do tropeirismo. A rotina difícil e árdua de trabalho dos séculos XVII e XVIII era penosa em qualquer região da rota”, explicou Augusto.

No século XIX, o comércio tropeiro perdeu sua força na economia de Curitiba dando lugar ao ciclo da erva-mate, que se tornou o símbolo da província do Paraná. Hoje, os vestígios dessa era podem ser encontrados em partes da cultura local e em algumas expressões linguísticas que ainda persistem. Apesar de a cidade ter evoluído e se modernizado, a história dos tropeiros continua a ser um capítulo importante na história de Curitiba.

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Maquete em alusão às estradas do Rio Belém, importante rota para os tropeiros no século XVIII                                                                          Créditos: Marcelo Xavier

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