Queimadas e desmatamento podem contribuir para a desertificação do Pantanal

por Fatos
Queimadas e desmatamento podem contribuir para a desertificação do Pantanal

Estado do Mato Grosso se mantém na disputa pela liderança na ocorrência de queimadas no país há alguns anos. (Fonte: INPE/ Captura de tela)

As queimadas que acontecem no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul já devastaram, em média, mais de 4 milhões de hectares, de acordo com relatório do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA). O fogo vem se alastrando desde março deste ano e já ameaça grande parte da fauna radicada no bioma sul-americano.

Lar para inúmeras espécies, o Pantanal mato-grossense abriga um ecossistema recente composto por invertebrados, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos; além de ser considerada, como relata a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a área úmida com maior riqueza de espécies de aves no mundo.

As principais atividades econômicas presentes no Pantanal são as de agropecuária, pesca, turismo e mineração. Segundo o relatório de monitoramento da cobertura e uso da terra do Brasil em 2016 – 2018, do IBAMA, entre 2000 e 2018, houve um aumento de 45% das áreas destinadas à produção agrícola em território nacional. No Pantanal, mais especificamente, esse dado se traduz em um desmatamento de cerca de 18% do bioma até o ano de 2017, segundo dados da ONG WWF-Brasil.

De acordo com Guilherme Mourão, pesquisador da EMBRAPA e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), além do desmatamento local, a atividade agrícola em demasia nas regiões vizinhas tende a afetar o ecossistema, principalmente pelo transporte de sedimentos que podem assorear os rios na planície pantaneira. Além disso, pode haver ainda o carreamento de contaminantes como pesticidas e metais pesados, que impactam espécies aquáticas, semiaquáticas e seus predadores.

Ainda não se sabe se as queimadas no Mato Grosso tiveram origem criminosa ou não. Entretanto, apesar dos níveis alarmantes, o fenômeno acontece de forma frequenta há alguns anos, levando o estado a se tornar líder quantitativo no país.

Segundo a plataforma do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que calcula os focos de queimadas no mundo, o Mato Grosso foi o estado líder de ocorrências no Brasil em 2019, sendo responsável por 17.5% dos episódios.

 

 

Ao comparar com o ano anterior, é possível notar uma piora: em 2018, o Mato Grosso foi acometido por 15.9% das queimadas, ficando atrás apenas do Pará, com 16.3%.

 

Contudo, neste ano, em apenas 9 meses, os recentes incêndios no Pantanal colocaram o Mato Grosso em primeiro lugar novamente com o cálculo de 29.2%.

 

De acordo com Mourão, o ocorrido fez com que inúmeras espécies morressem no fogo, e aquelas que conseguiram fugir, perderam locais de nidificação e abrigo, como ocos de árvores e capões de mata. Para o especialista, os efeitos vão se estender por alguns anos até que as populações voltem. Ligado à isso, há indícios de que o Pantanal já tenha sido semidesértico no passado – há cerca de mil anos. Para o pesquisador, existe a preocupação de que, a longo prazo, o Pantanal volte a desertificar.

A vida no pantanal, entretanto, não é afetada apenas pelas queimadas. Outros desastres ambientais também acarretam na desarmonia do ecossistema. Segundo a bióloga Maria Luiza Gandara, o desmatamento da Amazônia também pode desequilibrar os níveis de chuvas no pantanal, visto que a humidade produzida pela floresta é carregada do norte do país até o Pantanal através dos chamados “rios voadores”.

Para a bióloga, a exploração exacerbada, seja através de queimadas ou outros métodos, tende a desertificar e desequilibrar o meio ambiente como um todo, em todas as regiões.

 

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