Projeto de lei estimula incentivo a adoção de animais de rua em Curitiba

Iniciativa em tramitação na Câmara Municipal prevê campanhas de conscientização e organização de eventos para adoção
Por Fernanda Xavier e Gabriel Domingos
Está em tramitação na Câmara Municipal de Curitiba um projeto de lei (PL) que prevê o incentivo a adoção de animais de rua. No texto a PL número 102 de 2018 propõe que os estabelecimentos que trabalham com animais como, pet shops e ONGs exponham em suas sedes cartazes de conscientização, além do incentivo para que as lojas de pets realizem campanhas de adoção.
Ainda segundo a proposta, a ideia da realização dessas campanhas é transmitir a informação para que as pessoas possam estar cientes e passem a aderir ao cadastramento dos animais, por meio de um programa realizado pela Prefeitura, além de visar o incentivo da adoção responsável.
A vice-presidente da ONG Animais sem Teto, Katia Cristina Bortolon, acredita que o problema dos animais de rua está muito além do recolhimento daqueles que já estão abandonados. Segundo ela, as regiões menos afortunadas sofrem com a falta de assistência para com a situação dos animais. “Soltos nessas regiões os cachorros e gatos acabam procriando sem nenhum controle, fato que aumenta consideravelmente a população de animais na rua”.
Com um importante trabalho na causa Katia ressalta a participação das ONGs. De acordo com ela, uma das principais dificuldades tem sido angariar recursos para dar sequência aos trabalhos realizados. Com a crise econômica Katia relata que o volume de doações caiu o que acarretou em problemas de ordem financeira e dificuldades para conseguir manter a alimentação dos cães acolhidos.
A ONG também promove a doação de animais. Para que o processo seja efetuado com sucesso, é exigido o preenchimento de um questionário para que a direção da ONG possa analisar o perfil do candidato e suas intenções no ato. Além disso, é feito um acompanhamento até a adaptação final do animal ao novo lar.
Colaboradores servem como sustento para fundações sem fins lucrativos
Viviane Vanzella é fisioterapeuta e conta que há vinte anos atrás, teve vontade de adotar um cachorrinho, e a ONG que ela procurou não firmou a adoção por quê morava sozinha e em um apartamento. A situação fez com que ela comprasse:”Hoje eu não faria isso”. No mesmo local onde comprou seu filhotinho “Theo”, conheceu a ONG Animais sem teto. Desde então, Viviane é colaboradora. “Sempre que eu encontrava animais na rua, eles abrigavam. Então, comecei a ajudá-los por causa da minha dor na consciência de levar um trabalho para eles, além de perceber que o trabalho é sério”.
A fisioterapeuta ressalta o porquê de contribuir: “ decidi ajudar uma instituição que trabalha com animais, por que eles não têm como pedir auxílio como nós humanos. Se não existir alguém que seja sensível para observar o sofrimento desses bichinhos, eles não receberão ajuda”.
Para ela, essas instituições fazem um trabalho que deveria ser realizado pelo governo. “O governo tem dificuldade de ajudar o ser humano, imagine quanto não falta para ele poder fazer alguma coisa pelos animais”.
Viviane também conta que a colaboração depende de como a pessoa deseja fazer. Pode-se comprar pacotes de ração, realizar divulgação das feiras, ceder um lar temporário para os bichinhos, e dentre outras coisas. “Dinheiro é com o que geralmente contribuímos. Eles têm muitos gastos com alimentação e medicamentos, já que os animais pegam muitas doenças nas ruas”.
A ONG Animais sem teto é uma organização sem fins lucrativos e realiza seu trabalho de divulgação por meio das redes sociais, onde mostram as ações realizadas.
Outra ONG com atuação relevante em Curitiba é a Amigo Animal, que está próxima de completar 25 anos em atividade. Um colaborador da organização conta que são mais de mil animais abrigados e cerca de 50 doações realizadas por mês, mediante a realização de uma criteriosa entrevista e do acompanhamento durante o processo de adoção, além de uma assinatura de um termo de compromisso.
O abandono e a saúde pública
O Médico veterinário Thiago Glaser ressalta o cuidado que deve se ter ao recolher um animal de rua. Ele diz que é de extrema importância de que além da oferta de comida e água, ocorra a procura por um auxílio médico para que seja possível começar do zero. “Não se tem um histórico sobre o animal. O ideal é um protocolo vacinal, fazer o uso de vermífugo e anti-pulga. Na maioria dos casos é indicado realizar uma castração eletiva e preventiva”.
Para o veterinário, está ocorrendo uma diminuição no número de abandonos. “Eu acredito que caminhamos na direção certa, na direção do animal abandonado”. Em sua opinião a castração eletiva e a adoção são maneiras de fazer com que o número de animais nas ruas reduza.
“O abandono tem efeito gravíssimo” diz o médico veterinário. O animal que sempre esteve próximo do ser humano para receber água, comida, fora o fato de que foi acostumado a ter um tutor, passa a procurar o mesmo, além de virar problema de saúde pública.
Para Glaser campanhas publicitárias auxiliam para que a ideia de adotar seja proliferada, fazendo assim, com que o número de adoções cresça constantemente.
O médico veterinário e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Alexander Welker Biondo, conta que participa de iniciativas que visam o incentivo a adoção de animais de rua, além de fazer parte da coordenação de um projeto chamado “adote os cães da UFPR”, que tenta arranjar um lar para os cães abandonados dentro a universidade.
O professor procura abordar a importância dos cuidados com animais de ruas com seus alunos, visto que faz parte de um dos conteúdos da disciplina que ministra, chamada “zoonoses”. Além disso complementa que evitar o abandono e a procriação desordenada é a melhor forma de prevenir animais em situação de rua.
Biondo acredita que as ONGs efetuam um excelente trabalho, e comenta também a respeito do incentivo realizado pelo governo: “a prefeitura de Curitiba faz uma atividade pré-castração gratuita de exame clínico geral, vacinação, vermífugação, anti-pulgas e orientação na guarda responsável”.
O médico conclui que grandes centros urbanos no Brasil apresentam altos índices de animais de rua. Para ele, a inclusão de cães e gatos no Censo geral do ano de 2020, seria algo de extrema importância.
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O estudante de engenharia de produção Bruno Renner, conta sobre a adoção que realizou. “Eu já tinha um cachorro e já era muito difícil cuidar dele. Já tinha pensado em arranjar algum amiguinho para ele, porque ele já está mais velho, mas nunca passou pela minha cabeça adotar, mesmo frequentando feiras de adoção”.
Uma amiga achou uma cachorrinha indo para a praia, e perguntando se alguém queria adotar, ele não pensou duas vezes: “teoricamente eu não poderia levar outro cachorro para a casa. Mas na hora que vi a foto soube que queria ela na hora”.
Ele explica as medidas que tomou ao pegar a cachorrinha: “ela estava com doenças na pele e vermes. Então, castrei ela, dei remédios, vacinei e levei ela várias vezes no veterinário”.
No começo sua cachorrinha “Rosa” não se relacionava muito com ele. “Eu notei trauma. Ela sabia que eu queria cuidar dela, mas ela ficava tremendo. Eu via que ela tinha sido maltratada. Hoje ela ainda tem medo de sair na rua quando a levo passear, ela escuta barulhos e trava, mas estou fazendo ela perder esse medo”.
Hoje em dia ele conta que além da relação dos dois ser ótima, a cachorrinha é um grude e sente muito ciúmes dele: “eu que resgatei ela”.
“O abandono de animais é um absurdo”, diz o estudante que se sente mal por não poder dar tanta atenção a “Rosa”, por conta da faculdade. “Eu não sei como alguém é capaz de abandonar um animal sabendo que ele vai ficar sozinho. O mundo deles é a gente”.
Já a arquiteta e urbanista Camila Fernanda Guariza, adotou dois cachorros que viviam nas ruas, após conhece-los durante um dia de trabalho. “Estávamos em uma obra e de longe observei os dois brincando, então acabou me chamando atenção. Descobri que eles eram vítimas de maus tratos e estavam extremamente desnutridos”, após aproximar-se dos cachorros Camila adotou as medidas necessárias para a recuperação física dos animais.
Na opinião de Camila não existe a justificativa para que ocorra o abandono. Ela conta que inicialmente queria somente ajudar os cachorros a arrumar um novo lar. Mas, que mesmo após ter decidido permanecer com os cães, ela continua a dedicar-se na ajuda de animais com dificuldades buscando outros donos e ajuda médica.
A médica veterinária Mariana Suzin Spinello, realiza trabalho voluntário para uma ONG de sua cidade, Pato Branco (PR), e conta que seu apego por animais começou durante a faculdade. Ela conta que levava os animais para casa, e conseguia um preço melhor no hospital da faculdade para os procedimentos médicos, além de cuidar durante todo o período de tratamento e recuperação dos animais. Depois disso Mariana os doava. “Hoje tenho muitos “afilhados”. Tirei eles de situações precárias e cuidei deles, além de conseguir achar um lar. Visito eles direto”.
Mariana conta que o mais difícil durante o processo de adoção é lidar com as pessoas que muitas vezes não estão cientes da responsabilidade do ato.
A médica relata que sua primeira adoção foi durante a faculdade, quando teve a vontade de adotar e estava decidida a fazer isso. Porém, vários cachorrinhos pelos quais ela se interessou por meio das redes sociais não deram certo. “Parece que quando é realmente para acontecer, dá certo”.
Uma das ONGs que ajudava, resgatou uma cachorrinha que estava prenha: “ o dia que eu cheguei para vê-la, os filhotinhos nasceram, e então coloquei na minha cabeça que aquele cachorrinho seria meu. Não consegui esperar os trinta dias para desmamar, mas no final deu tudo certo. Hoje a Laila é minha vida”.
Mariana sempre continuou colaborando com a ONG, e conta de um projeto que realizou juntamente com a instituição: “pegamos caixa d’água e colocamos plaquinhas escritas “cão comunitário”. Assim as pessoas ajudam os cães que passam os dias na rua, proporcionando um lugar para que possam dormir. Na caixa tem cobertinhas para que possam passar a noite, e todo dia alguém leva comida e água”.
Há cerca de dois meses recebeu o pedido de assistência para um poodle que havia sido abandonado. Após buscá-lo e encontrar o cachorro em situação precária, a médica ofereceu cuidados ao animal: “ele estava com gravatinha de pet-shop. Na época, estavam acontecendo vários roubos de cachorros de raça na cidade. Então pensei que alguém havia roubado, e ao perceber que o cachorrinho estava doente o largou”.
Mariana tentou doá-lo diversas vezes, mas ao falar que o cachorro era de idade e possivelmente tinha algum problema de saúde, todos os pretendentes desistiam. Assim, a médica foi ficando com o cachorro e descobriu um grave problema cardíaco. “Eu comecei a medicar e dar ração cardíaca. Ele me olha e os olhos dele brilham. Parece que ele me agradece todos os dias por estar cuidando dele”.
Após muitas tentativas de doação falhas, a veterinária acabou ficando com o cachorrinho, que apelidou de “Beiji”, por conta do grande número de beijos que dava ao ver que a médica havia tirado ele de tal situação. “Eu agradeço a Deus por ter colocado ele em minha vida. Eu sabia que era meu papel garantir a ele uma melhor qualidade de vida”.
A médica veterinária tem outros dois cachorros não adotados, e diz que o amor é igual. Ela ressalta também, que a adoção é quando você sente empatia no animal, e sabe que é para ser o seu bichinho de estimação, independente de raça, e estereotipo. Para ela, o ato de adotar é a atitude mais bonita que pode ser feita.[/learn_more]