Procura por ensino superior à distância cresce na pandemia

por Tayná Luyse Cordeiro da Silva
Procura por ensino superior à distância cresce na pandemia

ABMES e Inep estimam que no próximo ano o número de alunos de cursos à distância irá sobrepor aos do ensino presencial

Por Tayná Luyse | Foto: Pixabay 

O número de novos alunos de ensino superior à distância (EaD) aumentou 4,7 vezes de 2009 a 2019. De 330 mil alunos passou para mais de 1 milhão e meio, conforme dados do Censo de Educação Superior divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Já os cursos de ensino presencial cresceram apenas 17%. 

O número de adeptos à modalidade de ensino à distância, em 2022, será maior do que no modelo presencial, segundo estimativas da Associação Brasileira Mantenedora de Ensino Superior (ABMES). A projeção antes era para 2023, mas com a pandemia do Covid-19 esse processo foi acelerado, pois há um aumento expressivo de ofertas e procura de cursos nessa modalidade. 

Membro da ABED fala sobre o panorama educacional  

O membro do Conselho de Ética da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) Evandro Luís Ribeiro, ressalta que com a junção da pandemia com o aumento do total de estudantes de ensino superior na modalidade EaD, é possível traçar um panorama sobre os rumos da educação, onde ela absorverá de modo bem natural o aprendizado gerado a partir da pandemia do Covid-19. 

“A quebra do paradigma da educação com viés presencial para aquela praticada na EaD trará bons resultados a essa modalidade de ensino que por anos sofreu de grande preconceito por parte da sociedade e agora ganha status de “salvadora da pátria”, pois dela foram extraídas as principais estratégias, recursos e metodologias para atender a principal forma de mitigação da pandemia, o isolamento social.”, concluiu. 

Especialista em EaD aborda adaptações das IES 

O especialista em Educação a Distância, Carlos Quintas, diz que a adaptação ao modelo remoto em cursos presenciais foi uma ação emergencial e necessária devido à urgência imposta pela pandemia, mas isso afetou em vários sentidos as instituições com modelo EaD.

“Alguns estudantes que residem em zona rural ou em locais com indisponibilidade de sinal de internet tiveram dificuldade em realizar seus estudos, pois alguns nestes casos utilizavam a infraestrutura do Polo para realizar alguns estudos e atividades. Estudantes ficaram desempregados, perdendo renda e consequentemente trancaram o curso. Já outros que estudavam no modelo híbrido, acabaram transferindo-se para a modalidade 100% online.” 

Quintas afirma que é preciso pontuar que educação a distância é muito diferente de ensino remoto, devido a toda estrutura necessária para criar um Núcleo de Educação a Distância (NEaD) que gerencia toda a operação de cursos EaD de uma IES. “Acredito que a modalidade 100% online crescerá cada vez mais, inclusive com a oferta de novos cursos e a modalidade híbrida, será cada vez mais consolidada.”, finalizou.

Todos os estudantes universitários foram prejudicados de alguma forma, mas para os alunos de ensino presencial, o efeito foi sentido de forma mais intensa, de acordo com o professor Dr. Hélder Gusso, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Os alunos do EaD, foram retirados recursos importantes tais como acesso a biblioteca e atividades presenciais nos polos. Já os estudantes do ensino presencial tiveram que adaptar-se de modo improvisado ao formato online, conta o professor. 

 “O que se viu predominantemente no ensino remoto foi ausência de debates, de participação dos estudantes. E não é culpa dos estudantes: o modo como o ensino foi adaptado foi ruim mesmo.” 

A grande vantagem desse ensino foi a não interrupção do acesso à educação, mas seria fundamental que as instituições viabilizassem condições menos precárias ao ensino. “Já estamos há um ano em pandemia e muitas instituições insistem em práticas educativas pouco efetivas.”, acrescenta o professor.  

O principal risco para os alunos é o não aproveitamento das disciplinas, segundo Gusso. “É importante sempre lembrar que a formação em nível superior não se trata de dar um diploma a alguém, mas em qualificar as pessoas para que possam intervir, com qualidade e baseado no conhecimento científico, sobre as necessidades da sociedade.”, finalizou. 

Cenário da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) 

Em contato com faculdades de ensino à distância da RMC para saber sobre o cenário atual das IES durante a pandemia, destaca-se entre elas a diferença do número de adeptos aos cursos EAD e o preparo para o ensino remoto.  

Acolhimento e suporte aos alunos durante a pandemia, foram umas das medidas importantes para manter um número positivo de matrículas, de acordo com a assessoria de imprensa da Faculdade Estácio. 

A Universidade Unopar reporta que alguns dos fatores essenciais para enfrentar a pandemia foram a preparação de tutores qualificados para auxiliar os alunos e as plataformas de ensino e atendimento especializadas. 

Amanda Lopes, estudante de Administração, conta que escolheu esse método pelo horário flexível e que não teve dificuldade para adaptar-se à pandemia. “Consigo ter um aproveitamento melhor das aulas, pois posso retornar assistir as videoaulas a qualquer momento e tenho flexibilidade de horários. Como já estava em um sistema 100% online antes da pandemia, não tive dificuldades.” 

Já o estudante de Gestão Comercial, Kevin Lucas, diz que teve dificuldades para estudar. “Minha dificuldade inicial sempre foi focar estudando em casa, mas infelizmente devido a pandemia estudei apenas 3 semanas na modalidade semipresencial, indo uma vez por semana na instituição, assistir vídeo aula com a turma e os tutores. Após isso, mudaram automaticamente meu curso para o 100% online.” 

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