Preço do trigo sofre aumento com Guerra na Ucrânia

por Mariana Bridi
Preço do trigo sofre aumento com Guerra na Ucrânia

Desde o início do conflito, o valor do trigo disparou e a economia brasileira sente os reflexos gerados

Por Felipe Artigas, Felipe Lunardi, Ingrid Caroline Lopes e Mariana Bridi | Foto: Comunicação Sistema FAEP/SENAR-PR

A guerra afetou direta e indiretamente muitas áreas da economia no mundo todo. Não foi diferente no preço do trigo. Desde o seu início, em fevereiro, os moinhos brasileiros passaram a pagar 40% a mais no preço do produto.

O primeiro motivo para o disparo do preço é a demanda ser maior que a oferta, isso em escala mundial. Assim, o valor final do produto que chega à mesa da população aumenta. Isso acontece porque tanto a Ucrânia quanto a Rússia, que estão diretamente envolvidas no conflito, produzem quase 30% da demanda de trigo mundial. 

A economista Solange Abrao explica que, com a guerra, a demanda já está menor e isso está afetando os preços internacionais, causando essa limitação no abastecimento. Consequentemente, há pressão em quem precisa e utiliza do trigo como matéria prima e também quem consome. “Uma vez que o mercado internacional está aumentando, há uma tendência dos produtores nacionais quererem colocar sua produção no mercado externo, e isso acaba afetando a oferta disponível pro mercado interno, também gerando o aumento de preços.”

O Paraná hoje é responsável por 30% de toda a moagem brasileira, da farinha produzida, e em torno de 50% de todo trigo produzido do Brasil. O estado tem um parque moageiro bem diversificado, moinhos nacionais, multinacionais e as cooperativas que, por possuírem seus próprios moinhos, acabam tendo uma relação muito aproximada e estreita com o produtor rural e também com o mercado de fornecimento de trigo.

O presidente do Sindicato do Trigo do Paraná (Sinditrigo-PR) e diretor executivo do moinho arapongas, Daniel Kümmel, explica que o cenário atual é de muita volatilidade no mercado internacional. A Rússia e a Ucrânia são responsáveis por 30% da exportação mundial, logo, a guerra acabou corroborando para que houvesse um enxugamento no mercado.

“Desde o começo da pandemia, em março de 2020, até hoje antes da guerra, o preço do trigo já havia sofrido um aumento pela inflação mundial em torno de 100% do preço. Depois que a guerra começou, houve mais 25% de aumento nesse preço. Então dá para se dizer que essa guerra tem um impacto muito grande no mercado nacional”, observa Kümmel. Outros produtos que também sofrem com essa alta são os derivados do trigo, como a farinha de trigo, que só em março, teve alta de 1,94%, e o pão francês com o aumento de 15% no preço. 

Fabricio Romanini, dono e gerente da panificadora Pão da Vovó, localizada em Curitiba, no Prado Velho, comenta um pouco do ponto de vista de quem trabalha e sofre diretamente com todas essas mudanças. “Alguns itens que são um pouco mais caros, alguns pães, algumas broas, sentimos que houve uma diminuição nas vendas, mas o pão se manteve constante. A gente conseguiu sentir essa diferença na hora de repassar o valor, o aumento foi em torno de 35% a 38%, nós repassamos 12%, não foi algo tão expressivo.”

Em relação à guerra e de que forma o seu estabelecimento foi ou não diretamente afetado, Fabrício comenta que na panificadora eles possuem um sistema diferente em relação ao trigo. “Normalmente aqui a gente compra e armazena o trigo por 3 meses. Para a nossa sorte conseguimos comprar tudo 1 mês antes de estourar a guerra da Ucrânia X Rússia, então logo que começou tínhamos um estoque para mais 2 meses.” O dono também conta que esse diferencial fez com que a padaria segurasse o preço por volta de uns 45 dias antes de repassar o novo valor.

O setor se mostra bem preocupado com o momento de desequilíbrio em toda a balança de fornecimento no mundo. Com o preço subindo no mercado internacional, diretamente sobe para o produtor rural e consequentemente as cooperativas são obrigadas a pagarem mais caro pelo produto. 

Assim, a safra de trigo, que será colhida em meados de agosto/setembro, tem futuro incerto em relação aos preços de venda. É esperado ganhos positivos, com um aumento de pouco mais de 20% na área de plantio. Do ponto de vista futuro, há uma preocupação por conta da guerra e das eleições nacionais no final deste ano, por não saber ao certo quais serão as políticas públicas e a condição do mercado interno até lá.

Trigo no Paraná

Safra de trigo deve crescer 20% no Paraná

O Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, informou, em seu relatório mensal de abril, que a safra 2022 de trigo do Paraná deve registrar uma produção de 3,859 milhões de toneladas, 20% acima das 3,208 milhões de toneladas colhidas na temporada 2021. 

A área cultivada deve ficar em 1,167 milhão de hectares, contra 1,225 milhão de hectares em 2021, queda de 5%. A produtividade média é estimada em 3.307 quilos por hectare, acima dos 2.632 quilos por hectare registrados na temporada de 2021.

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