Preço do cacau apresenta variações de 35% no ano de 2024

por Ingrid Poltl
Preço do cacau apresenta variações de 35% no ano de 2024

Fernanda Zeni Motins, vendedora autônoma e dona do seu próprio negócio o FZeni Doces | Foto: Ingrid Poltl

Matéria-prima do chocolate apresenta alterações no preço e alta no mercado mundial no ano de 2024 afetando vendedores e produtores. Causas climáticas são os principais fatores.

Por Ingrid Poltl

O preço do cacau está em alta este ano por conta de diversos fatores que afetam as plantações e colheitas. Em geral, é a Páscoa que colabora para a alta do preço por conta da procura do produto que será transformado em chocolate, que cresceu 35% de 2023 para 2024 segundo dados da Cacau NY.

A procura da fruta in natura, porém, se mantém a mesma durante o ano todo. É o que afirma Dalvina Barros, vendedora no Mercado Municipal de Curitiba. A fruta custa, em média, 45 reais. 

A vendedora Fernanda Zeni Motins trabalha com venda de chocolates desde 2021. Em março, quando se preparava para a Páscoa, a empresária dizia que o período representava uma alta significativa no produto. “Perto do feriado, os chocolates aumentaram demais o valor a partir de março e abril, o que torna difícil a gente ter acessibilidade a esse produto. Mas a gente tem que enfrentar os preços altos.” 

As vendas também são afetadas. “Hoje, as pessoas têm mais facilidade de ir nos mercados comprar ovos de Páscoa do que comprar na confeitaria artesanal. Mas, se parar para pensar, nos mercados está um preço muito mais elevado e o produto não é de uma maior qualidade”, observa Motins, que possui graduação em Gastronomia e se especializou em doces artesanais, e preza sempre por produtos de qualidade e de boa procedência. 

Mas tanto o cenário quanto os impactos podem variar entre as pessoas que trabalham com doces artesanais. A vendedora Selma Fátima Mattozo, representante da marca Abaloo – As melhores trufas do mundo,  conta que as trufas se pagam, mesmo com a alta nos preços. “Tenho um planejamento da agenda, com um ano de antecedência e também não pego mais do que eu consiga fazer. Tenho que organizar insumo para a produção.”

Mercado do cacau

A venda de cacau vem apresentando alta desde janeiro/2023 até janeiro/2024 em Nova Iorque. O preço já disparou 129%, e 35% somente neste ano, de acordo com a cotação da Cacau NY. Alguns fatores climáticos como o El Ninõ e o Harmattan contribuem para um clima seco e poeirento, principalmente nas regiões africanas de Gana e Costa do Marfim que colaboram para o aumento da commodity (contrato de março) ao recorde de US$6.884 por tonelada. Os lotes com entrega para maio bateram o recorde e subiram 5,26% na quinta-feira (14/3) para US$7.405 a tonelada. 

De acordo com uma previsão da Commodity Futures Trading Commission (CFTC), os valores tendem a continuar aumentando por conta das colheitas ruins na África Ocidental.

Gráfico apresenta variação do preço de cacau de acordo com a Bolsa de Nova York — Gráfico: por Ingrid Poltl

 

A alta do preço também está atrelada com o alto custo da amêndoa do cacau, principal matéria prima para o chocolate, junto com a preferência dos consumidores pela região em que o cacau é plantado. No Brasil existem 4 locais com o selo de qualidade reconhecido pelo INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial): Sul da Bahia, Tomé-Açu (PA), Linhares (ES) e Rondônia, o selo, segundo o Sebrae, garante a qualidade das amêndoas e cuidado no manejo e cultivo. 

O desequilíbrio entre oferta e demanda cria a necessidade de empresas e produtores adotarem medidas mais sustentáveis para garantir a viabilidade da indústria no longo prazo. Para o incentivo dessas práticas, as certificações de sustentabilidade Fair Trade e Rainforest Alliance, ajudam os agricultores ao oferecer preços mais vantajosos por seus produtos e com iniciativas de conservação ambiental. 

Produtor comenta sobre o mercado

O produtor de cacau do município de Ilhéus, na Bahia, Ricardo Rachid de Oliveira possui produções cacueiras do tipo cabruca. O modo é caracterizado pelo plantio feito embaixo de copa de árvores maiores, em geral, espécies tradicionais da Mata Atlântica. A modalidade tem vantagens ambientais, mas é menos produtiva e possui altos custos de produção. 

“Depois da colheita, faz-se um processo de fermentação qualificado, aguardando o tempo necessário para que a semente se mostre, depois de seca, o mais aromática possível para a produção de um bom chocolate”, comenta Oliveira sobre a qualidade do seu fruto e o destino deles. 

O produtor avalia que o crescimento no preço da commodity é internacional.  “Ultimamente, o cacau teve um acréscimo significativo no preço porque as expectativas quanto à safra dos dois maiores produtores mundiais Gana e Costa do Marfim que juntos produzem 40% do cacau do mundo – é de queda na produção.”

 

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