Pessoas relatam problemas de morar próximo a linha do trem em Curitiba

Residentes próximos à ferrovia relatam que convivem há anos com acidentes devido a sinalização precária no bairro Cajuru
Por Julia Sobkowiak, Lívia Berbel, Thaynara Goes e Victor Dobjenski | Fotos: Julia Sobkowiak e Lívia Berbel
As linhas ferroviárias de Curitiba causam incômodo nas pessoas que residem próximas às linhas do trem. A falta de sinalização e passarelas são fatores que causam acidentes e se tornam um medo para muitos que fazem a passagem no seu dia a dia. O risco de acidentes e mortes também é um assunto que tem mobilizado a comunidade ao redor.
Para o barbeiro Elton Luis, morador do bairro há mais de 20 anos, a sinalização perto da linha do trem é precária. Ele conta que presenciou diversos acidentes, como o de um homem que foi atropelado enquanto soltava pipa nos trilhos. O jovem usava fones de ouvido e não ouviu o trem se aproximar. “Fiquei um pouco traumatizado”, relata.
Segundo Elton, há novos sinaleiros colocados pela Rumo Logística, empresa que administra as ferrovias em Curitiba, mas para ele, não são suficientes. De acordo com o morador, deveria haver alguma medida que isolasse o trem das residências. “Seria uma proteção justa para nós”, afirma. O morador também ressalta que existe um descaso por parte do governo com esses problemas, principalmente em locais periféricos.
Elton, morador do Cajuru, nos trilhos do trem
Outra residente que relata os problemas causados pelas linhas ferroviárias é a doceira Solange do Rossil Gonçalves, de 32 anos. Ela mora no bairro Cajuru há 28 anos e sofre principalmente com a constante e incerta passagem dos trens. Segundo Solange, quando o trem fica parado por algum motivo, como por conta de um acidente, é necessário desviar por um grande percurso para contornar a linha. Isso acaba gerando atrasos na sua rotina de entregas dos produtos que vende.
A moradora comenta que a maior dificuldade de morar próximo a linha do trem é a má sinalização. “Aconteceu uma situação dentro do ônibus, que o trem buzinou muito em cima e o motorista não ouviu, nem a gente ouviu. Ele conseguiu passar, mas todo mundo lá dentro ficou de cabelos em pé”. Para ela, a regularização das placas de sinalização poderia melhorar a circulação das pessoas, mas sente que há um descaso das entidades governamentais sobre o tema. O único debate que ela observa acontece dentro das redes sociais.
Regulamentação
Segundo a Lei Federal de Parcelamento de Solo Urbano (Lei 6.766, de 1979), é necessário que tenha uma distância de pelo menos 15 metros entre as linhas ferroviárias e construções. Apesar disso, muitas regiões de Curitiba não cumprem os requisitos da lei por apresentar moradores em situação de ocupação.
De acordo com o professor de arquitetura e urbanismo da PUCPR Carlos Hardt, os conflitos que surgiram decorrentes da proximidade da ferrovia em relação às residências têm origem com as ocupações que se iniciaram antes da legislação que regulamenta os trilhos. Segundo Carlos, alguns problemas podem ser resolvidos com obras e outros não. “Uma solução mais definitiva seria, nesses casos, a relocação da linha ferroviária que corta o município em áreas já densamente ocupadas”, observa. Para o urbanista, para o planejamento de uma cidade, é necessário considerar tanto a ação humana quanto a influência da linha ferroviária no território.
Conflitos
De acordo com a Jusbrasil, a malha sul da Rumo Logística S.A. conta com 11.425 processos. Isso foi notado por Michele Capote, advogada criadora de um abaixo-assinado que tem como objetivo responsabilizar a empresa por irregularidades na legislação deste tipo de transporte. “Eu notei que ele não seguia nenhuma norma de horário e eu me lembro que ele passava de madrugada e fazia muito barulho […] até parecia que estava dentro de casa“.
Ela afirma já ter tido experiências de quase acidente com o trem. “O estado não tem interesse em fazer essa segurança, talvez seja mais vantajoso lucrativamente deixar como está”. De acordo com ela, o MPPR não pareceu ter interesse nesse assunto, já que ela não obteve resposta após a criação do abaixo-assinado.
A equipe de reportagem entrou em contato com a Rumo Logística para um posicionamento sobre o caso, mas a empresa não respondeu os questionamentos até a data da publicação desta matéria.
Confira aqui o ensaio fotográfico “A vida ao redor dos trilhos” de Julia Sobkowiak e Lívia Berbel