Pessoas com deficiência ocupam 7,92% das vagas de ensino superior, no Paraná

por Ana Rossini
Pessoas com deficiência ocupam 7,92% das vagas de ensino superior, no Paraná

Além de representarem parcela dos 8% nas universidades, cegos e pessoas com baixa visão passam por dificuldades no estudo acessível 

Por Ana Rossini  / Foto: Ana Rossini

Apesar de as cotas em universidades e instituições federais para pessoas com deficiência (PCDs) serem garantidas por lei há 10 anos, essa parcela da população representa apenas 7,92% dos matriculados nas universidades do Paraná. O índice é ainda menor entre os deficientes visuais, cuja acessibilidade é bastante precária.

Dos 3.374 alunos com deficiência, somente 94 concluíram o ensino em universidade pública federal, estadual ou municipal, de acordo com o Censo da Educação Superior, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2020.

A proporção de vagas para PCD é equivalente ao percentual de Pessoas com Deficiência do Estado do Paraná, ou seja, de 7,92%. O dado é referente ao Censo Demográfico de 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Tal percentual de vagas inclui candidatos cegos ou com baixa visão, assim como outras deficiências.

A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) possui 36.225 estudantes em 2021, sendo 44 estudantes deficientes visuais em todos os campus e 26 somente no de Curitiba. Os materiais de acessibilidade oferecidos pela universidade são: máquina de escrever em Braille, impressora Braille e impressora 3D, software editor de PDF e ledor.

 

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) possui cerca de 33 mil estudantes divididos entre os programas de graduação e pós-graduação e, cerca de 50% dos estudantes estão concentrados no câmpus Curitiba. A reportagem solicitou os dados sobre os alunos com deficiência visual, mas não obteve retorno do SEAP, serviço de apoio psicopedagógico responsável por oferecer suporte à aprendizagem e, garantir a inclusão e acessibilidade dos estudantes da Universidade. 

Durante o ensino remoto da PUCPR, a estudante de Publicidade e Propaganda Victoria Beatriz da Silva, com baixa visão, apresentou algumas dificuldades no acompanhamento das disciplinas. “Por eu ter baixa visão, tenho dificuldade de enxergar no computador, então no começo foi bem difícil. Os professores passavam muitos vídeos e filmes legendados e eu não conseguia acompanhar.” Ainda assim, a estudante teve auxílio dos professores que passavam materiais complementares para que pudesse acompanhar e, na volta às aulas presenciais, estes explicam diretamente à Victoria o que escrevem na lousa.

A estudante defende o sistema de cotas para o acesso ao ensino superior. “Acho extremamente importante porque a educação não é muito acessível, tanto para pessoas não deficientes quanto para as deficientes.”

Em 2019, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) contabilizava 27.995 alunos, entre estes, somente 10 são deficientes visuais – o que representa 0,04% do total. Estudantes do curso de Licenciatura em Ciências Exatas criaram o site Física em Braille para deficientes visuais e professores. Com objetivo de compartilhar materiais adaptados de Física, Química e Matemática; sites com acessibilidade e programas.

O diretor geral do Instituto Paranaense de Cegos (IPC), Enio Rodrigues, analisa o acesso ao ensino superior por deficientes visuais. “Percebemos o quanto de dificuldade essas pessoas encontram para chegar ao ensino superior, e quando chegam, são pouquíssimas universidades que têm algum programa, apoio e preocupação de oferecer acessibilidade.” O IPC é uma instituição sem fins-lucrativos que oferece aulas e cursos em diversas áreas que visam ensinar a independência, incentivar a formação educacional e profissional, promover saúde e bem-estar e estimular habilidades e talentos.

De acordo com um dos artigos da Lei de cotas citada anteriormente, no prazo de 10 anos da promulgação, será promovida a revisão pelo Congresso Nacional para o acesso às instituições de educação superior de estudantes pretos, pardos e indígenas e de pessoas com deficiência, bem como daqueles que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.

Pessoas com deficiência no ensino superior público em 2018 e 2020

Em 2018, o total de vagas por tipo de Programa de Reserva de Vagas era 40.293 e, nesta parcela, apenas 38 eram alunos com deficiência e 1 concluiu a faculdade. Já em 2020, o total de vagas era 120.775 com 1.130 alunos deficientes e 32 deles obtiveram o diploma de graduação, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

 

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