Paraná lidera doação de órgãos no primeiro semestre do ano

Organização de Procura de Órgãos (OPO) de Curitiba registrou 240 notificações e 121 doações efetivas no mês de junho
Por Vanessa Guimarães | Foto: Banco de Imagens/Canva
O Paraná registrou, no primeiro semestre, 44,1 doações de órgãos efetivas por milhão de população (pmp), superando os demais estados, segundo dados da Associação Brasileira de Doação de Órgãos (ABTO). Em setembro comemora-se o dia 27 como data simbólica para o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos, instituído pela ABTO em 1999. Este mês é conhecido como Setembro Verde, dedicado ao incentivo e à conscientização para a doação de órgãos e tecidos.
A Associação registrou que, neste primeiro semestre, o Paraná foi líder em doações efetivas por milhão de população, com 44,1 pmp. Em seguida, o estado de Santa Catarina registrou 40,5 pmp; e, em terceiro, São Paulo com 23,0 pmp. Porém, a média nacional é de somente 15,8.
O desafio para as centrais de transplantes é aumentar o número de doações. Para isso, são realizadas campanhas como o Setembro Verde, com o intuito de informar a população sobre a possibilidade de salvar vidas a partir da doação de órgãos e diminuir a taxa de recusa familiar. No país, durante a pandemia, a taxa de doadores efetivos no primeiro semestre caiu 6,5% comparado com o mesmo período de 2019.
A recusa familiar é um dos fatores que impedem a doação dos órgãos do indivíduo com morte encefálica (ME), além das contra indicações clínicas e parada cardiorrespiratória (PCR). Os processos para doação e transplante se iniciam com as notificações feitas por médicos ou enfermeiros, que avaliam a possibilidade do paciente ter sofrido de morte cerebral, notificando para a Central de Transplantes Estadual. Após a confirmação da morte encefálica, o paciente torna-se um potencial doador. Somente com a autorização da família, o indivíduo é chamado de doador elegível para transplante. Por fim, quando o órgão é retirado e transplantado, ocorre a doação efetiva.
Segundo o comparativo de dados do Sistema Estadual de Transplantes do Paraná (SET/PR), em Curitiba, a Organização de Procura de Órgãos (OPO) registrou 240 notificações e 121 doações efetivas relativas ao mês de Junho. As recusas familiares equivalem a 20%, as contra indicações clínicas 22%, casos de morte encefálica não confirmados 3% e PCR 8%.
No Paraná, ocorreram 559 notificações, 265 famílias que autorizaram a doação e 252 doações efetivas. Foram registradas 78 recusas familiares (23%), 168 contra indicações clínicas (30%), 25 decorrentes de PCR (4%) e 22 casos de morte encefálica não confirmada ou outros (4%).
Pandemia exige teste para Covid
Durante a pandemia, para a realização da doação dos órgãos ocorre o teste para a Covid-19. O secretário de Estado da Saúde, Beto Preto, afirma para a Agência de Notícias do Paraná que “no Paraná todos os potenciais doadores de órgãos estão sendo testados para Covid-19. Isso garante segurança aos receptores e também dá tranquilidade aos profissionais de saúde”.
Qualquer pessoa saudável pode ser doadora de órgãos, seja um doador falecido, paciente diagnosticado com morte encefálica (ME), ou vivo. Após a confirmação da morte, a família deve autorizar a doação, e o transplante é realizado conforme a lista de espera.
O doador em vida pode optar por doar para um familiar próximo (até 4° grau consanguíneo) um dos rins ou parte do fígado, porém quando for para alguém não aparentado é necessário uma autorização judicial.
Espera é demorada e receptor pode apresentar rejeição
O órgão compatível com o receptor pode trazer problemas para a saúde do mesmo após alguns anos. O empresário José Ribeiro recebeu um rim da irmã e, após quatro anos, sentiu que estava causando danos à própria saúde, e entrou na lista de espera do Hospital São Vicente de Curitiba à procura de um novo rim, realizando o procedimento pelo Sistema Unificado de Saúde (SUS). “A gente fica com medo, mas foi tudo bem a cirurgia. Depois do procedimento fiquei muito fraco, perdi muito sangue, então passei mal durante 30 dias. Mas depois ficou tudo bem”, afirma o empresário.
Após o transplante, para evitar possíveis problemas, o acompanhamento médico e o uso de imunossupressores são essenciais para que não ocorra a rejeição do órgão e eventuais danos à saúde. Essas substâncias diminuem a resposta imunológica do paciente contra o órgão transplantado.
A espera por um órgão é demorada, pois depende da compatibilidade com o receptor e da urgência da procura. José Ribeiro passou cinco meses na lista de espera para recebimento do rim que precisava, ele não teve contato com a família do doador e, atualmente, considera ser doador de órgãos. “Seria doador com certeza, eu recebi e me fez muito bem. Agora quero ajudar as outras pessoas da mesma forma”, diz.
Uma das preocupações dos familiares é a de velar o corpo do parente após a cirurgia, com isso os procedimentos para retirada dos órgãos é feito de maneira que preserve o corpo, ele é entregue reconstituído e sem deformidades. Uma só pessoa pode ser capaz de salvar mais de uma vida, pois podem ser doados rins, pulmões, o pâncreas, o coração, o fígado e tecidos, como córneas, pele, ossos, valvas cardíacas e tendões.
Setembro Verde
Além do Setembro Verde comemorado internacionalmente em homenagem ao doador, e nacionalmente é celebrado pela Secretaria de Estado da Saúde e o Sistema Estadual de Transplantes como mês do incentivo e conscientização da importância da doação de órgãos. A Lei Estadual nº 18.803/2016 instituiu o Setembro Vermelho como sendo o mês dedicado a ações de esclarecimento e incentivo à doação de órgãos e tecidos no Paraná.
Em setembro comemora-se o dia 27 como o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos, divulgado pela ABTO, em 1999, devido à realização da I Campanha de Doação de Órgãos do país.
A data foi escolhida como símbolo pois é comemorado o dia de São Cosme e Damião, os padroeiros dos transplantes. Segundo a fé católica, os santos procuravam atrair pessoas para Jesus Cristo através do exercício da medicina. Foram os santos que realizaram o primeiro transplante do mundo.
A Assembleia Legislativa do Estado do Paraná decretou a Lei estadual nº 18.583 – de 7 de outubro de 2015, que institui a Semana de Conscientização da Doação de Órgãos e Tecidos, a ser realizada, anualmente, na semana do dia 27 de setembro.
Tráfico de Órgãos
O tráfico de órgãos é ilegal e uma preocupação com a saúde pública, pois as pessoas podem não saber dos riscos que o transplante ilegal de órgãos apresenta. Além dos problemas com a higienização e legalidade dos procedimentos, o tráfico de órgãos colabora com o tráfico de pessoas para remoção de órgãos.
Fatores socioeconômicos influenciam nestes crimes, como a pobreza e o desemprego. Os indigentes, sem condições de suprir as próprias necessidades, são colocados nos esquemas de tráfico para a venda de seus órgãos em busca de melhores condições de vida. Há também o que é chamado de “transplante de turismo”, em que o indivíduo viaja ao exterior com o objetivo de comprar órgãos ilegalmente.
Apesar disso, o presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, Dr. José Huygens, afirma que, no Brasil, não há possibilidade de ocorrer o tráfico de órgãos, por conta da transparência do sistema. “O próprio paciente acompanha sua posição na fila de espera pela internet, os protocolos de morte cerebral são muito rígidos e são muitas avaliações feitas por médicos diferentes que não pertencem às equipes de transplantes, para não haver conflito de interesses. É impossível, teríamos que corromper todo o sistema de transplante e a lista de espera”, diz o presidente.
“No Brasil, isso não acontece, porém existem países que possuem essa dificuldade. Eventualmente, podem haver denúncias de compra e venda de órgãos em outros países, mas no nosso país não acontece isso”, acrescenta.
A Declaração de Istambul foi feita após uma reunião em Istambul, em 2008, com mais de 150 representantes de organismos científicos e médicos, membros do governo, cientistas sociais e especialistas em questões éticas, para discutir sobre os problemas urgentes e crescentes da venda de órgãos, do turismo de transplantação e do tráfico de dadores de órgãos.
Na declaração foram definidas as obrigações dos países de fornecer um enquadramento jurídico e profissional para reger as atividades de doação e de transplante de órgãos, assim como de um sistema de supervisão regulamentar transparente que assegure a segurança de dadores e de receptores e a aplicação de normas e proibições de práticas não éticas.
Outra declaração que proporciona a conscientização e combate ao tráfico de órgãos é a Declaração do Vaticano, realizada pela Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano. Nela estão presentes normas éticas para realização de transplantes e recomendações aos governos nacionais, regionais e municipais, aos ministérios de saúde, aos líderes religiosos, dentre outras organizações, sobre o tráfico de órgãos e pessoas.