Pandemia eleva endividamento e desemprego no Paraná

Percentual de paranaenses impossibilitados de pagar suas contas superou em 3,3% a média nacional, aponta Fecomércio
Por Arthur Henrique de Lima Santos, Juliane Capparelli e Letícia Fortes | Foto: Mimzy – Pixabay
O número de paranaenses sem condições de pagar suas dívidas cresceu 44% em comparação ao ano anterior, variando de 10,6% a 15,3% dentro do percentual de endividamento total no Paraná (90%). Essa variação representa a maior alta da série histórica e reforça o agravamento da crise financeira no estado. Além disso, a taxa de paranaenses com contas em atraso cresceu de 29,9% em junho para 30,4% em julho. Os dados foram divulgados em 30 de julho pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR).
Atingindo 90% em julho, o índice de endividamento total no Paraná – referente às pessoas que, embora tenham algum compromisso financeiro em andamento, ainda possuem condições de pagar suas parcelas, empréstimos e demais débitos – superou a média nacional de endividamento total (67,4%). O aumento no número de famílias sem condições de pagar suas contas e de famílias com débitos em atraso também reforça a evolução da crise financeira no estado, que se apresenta como o segundo colocado no ranking dos estados com maior índice de endividamento total, perdendo apenas para o Rio Grande do Norte, com 96,6%.
Pedro Machado, 38 anos, é uma das pessoas que teve sua situação financeira impactada pela pandemia de Covid-19. Ele relata que, com a diminuição de sua renda, tornou-se difícil arcar com as despesas, como as contas de luz, água e as prestações do financiamento e IPTU. Por isso, ele pretende tentar renegociar suas dívidas com cheques especiais e empréstimos junto aos credores. Sobre as condições atuais do mercado de trabalho, Pedro diz que “a maioria das oportunidades de emprego está escassa”. Com isso, na tentativa de conseguir pagar algumas de suas contas, ele solicitou o auxílio emergencial, mas não obteve resposta.
De acordo com a economista e conselheira do Conselho Regional de Economia do Paraná Angela Broch, o endividamento provém de imprevistos financeiros. Ela comenta que a tendência de as famílias comprometerem toda a sua renda presente e futura é o principal vilão no enfrentamento dos imprevistos. Assim, a falta de planejamento financeiro compromete a capacidade das famílias de lidar com imprevistos econômicos, tais como diminuições de renda ou demissões em razão da pandemia. Nesse contexto, a grande maioria delas não havia economizado o bastante para lidar com imprevistos ou já se encontrava em uma situação “apertada”, mesmo antes da proliferação em massa do vírus.
Famílias ricas têm mais dificuldades
A análise de acordo com a faixa de renda das famílias paranaenses revelou que aquelas que ganham mais de dez salários mínimos estão com mais dificuldade de quitar suas dívidas em razão da pandemia.
Entre as famílias que ganham menos de dez salários mínimos, o índice de paranaenses sem condições de pagar suas contas chegou a 14,9%. Já entre as famílias que ganham mais de dez salários mínimos, o índice atingiu 15,6%, chegando ao maior da série histórica. Em junho, esse percentual era de 14,5% e já tinha tido elevação considerável com a média dos 12 meses (fevereiro/2019 a fevereiro/2020) anteriores a pandemia, que era de 5%.
O gráfico abaixo representa as principais fontes de endividamento dos paranaenses. O cartão de crédito lidera com quase 70%, seguido do financiamento de casa (9,9%) e de carro (9,8%).
Desemprego aumenta na pandemia
A taxa de desemprego no Paraná teve um aumento de cerca de 11% em apenas um mês, variando de 9,97% para 11,1% entre maio e junho. Com isso, o estado contabiliza 648 mil desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dentre os demais efeitos da pandemia no mercado de trabalho, destaca-se a alteração nas jornadas de trabalho e/ou salários dos 574 mil paranaenses empregados formalmente. Do total, 441 mil trabalhadores foram afastados por conta do distanciamento social necessário. Dentre os trabalhadores afastados, 250 mil deixaram de receber o salário. Os dados foram divulgados por uma versão extraordinária da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) que pretende mensurar os efeitos da pandemia de Covid-19 no mercado de trabalho.
Esses dados reforçam o principal temor dos curitibanos em relação à pandemia, o qual, de acordo com pesquisa do Instituto Sivis, é o desemprego ou eventual falta de renda.
Em relação aos impactos na renda,o rendimento médio dos curitibanos caiu de R$ 2.534 para R$ 2.189 em junho, aponta a PNAD Covid-19 Mensal. A alteração ocorre pela suspensão de algum benefício ou gratificação, redução salarial ou desconto por ausência no trabalho. No Paraná, quase 1,7 milhões de pessoas foram atingidas pela redução de salários. O estado registrou um rendimento real domiciliar per capita médio de R$ 1.465 em junho, representando queda em comparação a maio (R$ 1.418).
Endividamento: razões e soluções
De acordo com a economista e conselheira do Conselho Regional de Economia do Paraná Angela Broch, o endividamento provém de imprevistos financeiros. Ela comenta que a tendência de as famílias comprometerem toda a sua renda presente e futura é o principal vilão no enfrentamento dos imprevistos. Assim, a falta de planejamento financeiro compromete a capacidade das famílias de lidar com imprevistos econômicos, tais como diminuições de renda ou demissões em razão da pandemia. Nesse contexto, a grande maioria delas não havia economizado o bastante para lidar com imprevistos ou já se encontrava em uma situação “apertada”, mesmo antes da proliferação em massa do vírus.
Segundo o economista Daniel Poit, a melhor solução para os endividados é tentar a renegociação de seus débitos. Ele indica que o parcelamento ou a utilização de uma reserva econômica são os melhores caminhos para quitar logo a dívida. O economista também recomenda que é melhor buscar um desconto nos juros do parcelamento, e somente aceitar parcelas de acordo com a condição de renda, para conseguir cumpri-las.
Poit alerta que as ofertas de crédito, embora tornem-se tentadoras em épocas de crise como a pandemia de Covid-19, são uma “armadilha”. Ele recomenda que “o melhor investimento para quem está endividado é buscar quitar suas dívidas”, e ainda diz que a expectativa para o futuro da economia é muito positiva. Passada a pandemia, ele acredita em um momento de prosperidade, mas preocupa-se com a falta de um plano nacional, isto é, um projeto de Estado que direcione a retomada econômica do país.
[box] Auxílio emergencial
Para ajudar financeiramente os trabalhadores informais e desempregados no enfrentamento da crise econômica causada pela pandemia, o auxílio emergencial de R$ 600, fornecido pela Caixa Econômica Federal, beneficiou 35,7% dos domicílios no Paraná em junho. Esse percentual era de 31,3% em maio, segundo o IBGE sobre a PNAD Covid-19 Mensal.
Até duas pessoas por família podem adquirir o benefício, enquanto mulheres chefes de família podem receber o valor máximo de R$1.200. O auxílio é destinado aos trabalhadores informais maiores de idade e de baixa renda e aos beneficiários do Bolsa Família.
A economista Angela Broch salientou a importância do auxílio emergencial para reduzir as consequências econômicas da pandemia. “A injeção de recursos realizada pelo governo tem um impacto positivo para os chefes de família”, afirma Angela, em referência à possibilidade de recompor o poder de compra das famílias cuja renda mensal foi mais impactada pela pandemia.
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