Pandemia de fake news: 7 mentiras que estão circulando sobre o novo coronavírus

Crescimento de notícias falsas relacionadas ao  COVID-19 reforça a importância de sites de verificação.

Por: Isadora Martelli, Paula Goveia e Allanis Menuci / Foto: Banco de Imagens.

As fake news passaram a ter destaque em todo o cenário global, principalmente com a chegada do novo coronavírus. Períodos de incerteza são essenciais para a disseminação de fake news que afetam a sociedade diretamente e de forma negativa, afinal elas acabam interferindo diretamente na percepção da realidade.

Um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) revelou que uma notícia falsa tem 70% mais chances de ser compartilhada do que uma verdadeira. Para entender como essas notícias se espalham, os pesquisadores analisaram a dinâmica de difusão de rumores e descobriram que as pessoas tendem a compartilhar informações que aparentam ser inéditas e confirmem seu modo de pensar. Além disso, foi apontado o uso de palavras que evocam emoção em manchetes.

A estudante de Medicina Ana Luísa Oliveira relatou que recebeu uma mensagem no grupo da família  que apontava certos alimentos ‘’alcalinos’’ como capazes de combater a COVID-19. “Primeiro, o que me chamou a atenção foram os valores de pH indicados para cada alimento. O limão, por exemplo, uma fruta ácida (pH em torno de 2), apresentava pH 9,9 na mensagem. O valor atribuído ao dente-de-leão era 22,7, sendo que a escala de pH varia de 0 a 14. Além disso, o texto sugeria ao leitor que se ele percebesse certos sintomas, deveria tomar água morna, além de estimular o compartilhamento da mensagem. Na hora identifiquei-a como falsa, mas tenho certeza que muitas pessoas acreditaram e foram testar o que estava escrito.”

O combate à desinformação e circulação de discursos imprecisos é cada vez mais importante. Por esse motivo, vários sites de verificação – conhecidos como fact-checking – foram criados utilizando métodos de apuração jornalística, os quais analisam confiabilidade de fonte, contexto, impossibilidade de confirmação, tratamentos exagerados, erros gramaticais e embasamentos contraditórios.

Ao entrevistar a jornalista Lenise Aubrift Klenk sobre como está sendo o impacto das fake news para a sociedade, bem como no jornalismo atual, ela comentou que existe um conjunto de fatores que favorecem o crescimento das notícias falsas. Entre eles, há o baixo nível de educação midiática, o avanço tecnológico (bots, deep fake) – que vem oferecendo ferramentas que auxiliam a produção e espalhamento das notícias falsas – além do ambiente de polarização política, mediad0 por uma guerra intencional dessas mentiras para atacar adversários. 

Klenk disse ter esperança de que o cenário brasileiro atual melhore, mesmo com o Brasil sendo um dos países com maior índice de desinformação. Para ela, o  jornalismo é fortalecido em um período como este, principalmente quando informações apuradas e confiáveis são fundamentais para a preservação de vidas. A jornalista também comentou que, se por um lado, a população segue confiando e multiplicando informações de fonte duvidosa pelas redes sociais, pelo outro o interesse no noticiário produzido com jornalismo confiável parece estar aumentando. Por fim, concluiu que, no contexto da pandemia da COVID-19, argumentos contra posturas preventivas colocam pessoas em risco, e notícias falsas desqualificam recomendações não só essenciais como também reconhecidas globalmente, situação que pode agravar ainda mais o cenário que estamos vivendo.

Nesta reportagem foram selecionados alguns exemplos de fake news sobre o Coronavírus que estão sendo exibidos nas redes sociais. Confira abaixo os tópicos avaliados por Yago Pimenta, médico emergencista que está atuando na linha de frente nos casos de Covid-19:

‘’Estudo realizado em Harvard indica que isolamento social não é bom para conter o avanço do novo Coronavírus.’’

Falso

De acordo com o médico Yago Pimenta, o isolamento é a melhor forma de se proteger contra o vírus, tanto que em algumas cidades, a suspensão da quarentena resultou em um aumento no número de casos.

‘’China anunciou vacina para o novo Coronavírus.’’

Falso

Yago Pimenta comentou que não há conhecimento sobre qualquer vacina que esteja pronta, mas se há provavelmente estará disponível a partir do segundo semestre de 2020 ou no primeiro semestre de 2021. Por fim, para que uma vacina seja aprovada é preciso testar a sua eficácia e segurança, sem contar o fator produção de escala mundial e a grande demanda.

‘’Beber vinho combate o novo Coronavírus.’’

Falso

De acordo com o médico, beber vinho e bebidas alcoólicas no geral não combatem o Covid-19. “Ingerir álcool não faz com que ele vá da sua corrente sanguínea para a pele te proteger e evitar a contaminação. Recomendamos apenas o uso de álcool gel na pele.”

‘’Fazer gargarejo com água e sabão elimina o vírus da garganta.’’

Falso

Ele afirma e refuta totalmente esse boato, alegando que depois de o organismo ser infectado pelo vírus, não há mais nada que possa ser feito. Pimenta também ressaltou que a partir desse ponto é de dever seu procurar um médico caso haja suspeita de Coronavírus. “A melhor maneira de se proteger contra o vírus é ficando em casa, lavar bem as mãos e se precisar sair não esquecer da máscara e do álcool gel. ”

‘’Surto de H1N1 matou mais no Brasil do que o novo Coronavírus.’’

Falso

O total de mortos pela H1N1 no Brasil são, certamente, menores do que os do Coronavírus- 18,036 (H1N1) e até agora 4.44 milhões (Covid-19). No entanto, é importante lembrar que estamos comparando 12 anos de H1N1 com apenas alguns meses de Coronavírus. Além disso, a informação acima é falsa porque se refere ao período de surto e, segundo o especialista, o surto do Covid-19 está matando bem mais devido a sua alta capacidade de infectar pessoas. 

‘’Novo Coronavírus não resiste ao calor e a temperaturas de 26ºC a 27ºC.’’

Falso

Ele explicou que não há nenhuma comprovação científica (e dificilmente existirá) que mostre a não resistência do vírus ao calor e a temperaturas de 26ºC a 27º C, justificando que, se isso fosse verdade, os números de casos e mortes em países tropicais estariam bem inferiores, assim, confirmando a refutação dessas informações disponibilizadas erroneamente na mídia.

‘’Prender a respiração por 10 segundos indica se a pessoa tem Coronavírus.’’

Falso

Yago Pimenta alegou que, se isso fosse verdade, os testes não seriam necessários, e complementando que caso haja a dificuldade de respiração por parte do indivíduo, é recomendável que se procure uma unidade médica.

O Ministério da Saúde alertou que as medidas de saúde para o enfrentamento do novo Covid-19 são iniciativas próprias de cada país, os quais individualmente analisam a melhor maneira de diminuir o número de infectados pelo vírus e as mortes em seu território. Cada nação possui suas restrições de acordo com o número de casos confirmados pela doença e toma medidas que possam ser suficientes para combater o Coronavírus. Não há nenhum acordo ou medidas específicas que todos os países têm que obrigatoriamente adotar. No entanto, quase todos eles recomendam seriamente o uso de máscaras e o isolamento social neste momento de pandemia. Ainda sim, é importante ressaltar que o governo brasileiro, em conjunto com o Ministério da Saúde e algumas secretarias estaduais de Saúde estão começando a cobrar o uso obrigatório de máscaras ao sair de casa, bem como o lockdown em estados que não estão conseguindo controlar a disseminação do Covid-19. Em conclusão, a médica infectologista Marion Burger comentou em uma live da Prefeitura de Curitiba na última quarta-feira(6) com a Secretaria de Saúde sobre a situação do Paraná: “A situação no estado está em controle, mas não é porque a situação está em controle que a gente pode sair pela rua”. Até 14 de maio de 2020, a Secretaria de Estado da Saúde confirmou 2063 casos desde o início da contabilização dos dados do Covid-19, um número bem pequeno em relação aos dados do Brasil, que somatizou 188.974 confirmados pelo Ministério da Saúde até essa data.

DICAS DE SITES DE FACT-CHECKING

Separamos 8 sites para que você possa validar a veracidade de uma notícia. Confira: