Pandemia coloca em risco sobrevivência do futebol amador de Curitiba

por Maria Luísa Cordeiro
Pandemia coloca em risco sobrevivência do futebol amador de Curitiba

Com campeonatos suspensos desde 2020 por causa da pandemia, clubes entram em crise financeira

Por Maria Luísa Cordeiro e Tayná Luyse  | Foto: Maria Luísa Cordeiro

Parados desde o ano passado, os times de futebol amador de Curitiba amargam prejuízos e não encontram perspectivas de recuperação a curto prazo. Os diretores dos clubes temem a necessidade de encerrar as atividades por falta de condições de arcar com as responsabilidades financeiras. 

Para evitar o risco de contaminação pelo coronavírus, em março deste ano a Federação Paranaense de Futebol (FPF) decidiu  adiar alguns campeonatos paranaenses, incluindo os da série B Adulto e Juvenil do amador. Interrompidas em 2020, as competições deveriam ser retomadas neste ano. Mas o ato administrativo que determinou novo adiamento não indica uma data de retorno neste segundo semestre.

As duas principais rendas gerais dos clubes de futebol amador são o dinheiro arrecadado tanto por meio de produtos licenciados quanto na comercialização de alimentos e bebidas nas lanchonetes dentro dos estádios; e o aluguel do estádio para partidas de terceiros e eventos. Com o fechamento dos clubes devido ao  decreto de bandeira laranja da prefeitura de Curitiba, não há fonte de arrecadação.  

A última partida de futebol amador da cidade aconteceu em dezembro de 2019, na final entre Iguaçu e Pilarzinho. O retorno estava planejado para março de 2020, mas com o início da pandemia não houve outro embate de futebol amador na capital.

O presidente do clube Urano, Amauri Teixeira Júnior, lamenta a crise para o clube. “Na verdade, a gente (normalmente) tem muita dificuldade financeira”, diz o dirigente. “E hoje em dia não temos mais renda nenhuma.” O Urano não é o único nessa situação. Os 32 times de futebol amador de Curitiba sendo 12 na série A e 20 na série B estão passando por crises financeiras pela falta de arrecadação na pandemia de Covid-19. 

Jogadores perdem renda extra

Os jogadores do Urano recebem uma quantia pelas partidas, mas com a paralisação dos jogos, essa remuneração é inexistente. “Muitos jogadores (da suburbana) ganham por partida, então isso é uma complementação de renda”, diz Teixeira Júnior. Segundo ele, esses atletas estão enfrentando dificuldades financeiras neste momento, assim como seus clubes.

No clube Flamengo de Santa Felicidade, os atletas também sofrem com a falta dos jogos. “A palavra certa que se encaixa nisso aí é apreensão”, conta o jornalista esportivo e filho do diretor do clube, Thiago Lucca. “Eles estão vivendo um momento de apreensão por estarem fechados e não poderem jogar bola.” O jornalista ressalta que o clube passa por dificuldades e só não está fechado graças a uma reserva financeira construída durante os anos.

Segundo o diretor social do Vila Fanny Futebol Clube, André Felippe, as dificuldades são de todos. “Com a pandemia e os espaços fechados ou restrições severas de circulação de pessoas, o clube não pode contar com a sua maior fonte de receita (o público pagador). Não ter a principal fonte de arrecadação do clube é complexo.”

O Vila Fanny FC conseguiu trazer nomes a altura do time para os campeonatos, mas com a pandemia  os jogadores seguem preocupados com a falta de jogos. “Com a paralisação das atividades, é nítido que os atletas ficam apreensivos e aguardando o início da competição, principalmente aqueles que já são conhecidos”, afirma André Felippe.

Sem perspectivas 

A desigualdade entre os clubes irá aumentar no cenário pós-pandêmico, de acordo com o  jornalista e editor chefe do website Do Rico ao  Pobre, Rafael Buiar. “Antes da pandemia era possível ver três clubes privilegiados em relação à estrutura, time e recursos Iguaçu, Trieste e Santa Quitéria”, relata. “Agora, eu vejo que Trieste e Santa Quitéria ainda se mantêm no topo pelo maior poder aquisitivo em comparação aos demais.” De acordo com Buiar, agora o Iguaçu se junta aos times da suburbana em piores condições. Para o jornalista, os times que estão com maiores dificuldades são aqueles que não possuem estádios próprios, uma vez que têm menor potencial para arrecadar recursos e montar um time. 

Os jogadores e funcionários são os primeiros a sentir as dificuldades, segundo a doutora e  professora do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Angela Welters. “Eles não têm vínculo empregatício e com a suspensão das atividades também perderam sua renda.” 

Aqueles que trabalham com o comércio durante os jogos também veem sua arrecadação sendo afetada. “Pessoas que trabalham nas atividades de apoio ao evento, como equipes de filmagem, reportagem, fornecedores de materiais de apoio, lavanderia, água etc., vivem ou têm parte de seu sustento baseado nestas atividades”, diz Welters.

Os clubes são espaços para o avanço de laços afetivos e comunitários, bem como o desenvolvimento de atividades econômicas ligadas a esses ambientes. “A comunidade ligada direta ou indiretamente a estes espaços esportivos perde parte ou a totalidade de sua renda com a suspensão dessas atividades.”, afirma a economista.

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