Pandemia agrava o sedentarismo nos últimos anos

O número de casos de pessoas com doenças provenientes de inatividade física e má alimentação aumentam no período da pandemia
Por Bernardo Bittencourt, Felipe Lunardi, Gustavo Américo e José Souza / Fotos: Felipe Lunardi
Estudos publicados por diversas agências nacionais e internacionais realizadas durante o período da pandemia de Covid-19 mostraram um aumento significativo nas doenças advindas do sedentarismo como obesidade e diabetes em escala mundial (Brasil incluso). Tendo o potencial de aumentar o número de mortes provenientes de consequências destas doenças.
Muito disso, acredita-se ter sido causado pela quarentena, quando a crise sanitária começou não havia perspectiva de vacina e uma das principais formas de combate ao vírus era, juntamente com as máscaras, o isolamento social. O isolamento fez com que muitas pessoas deixassem de fazer exercícios físicos ou diminuíssem a quantidade de exercícios físicos de forma radical.
Uma pesquisa divulgada em dezembro de 2020 apontava que 31.3 milhões de pessoas acima de 18 anos, 21.4% da população são atingidas pela hipertensão, já a diabetes afetava 9 milhões de brasileiros, 6,2% da população de adultos, com destaque para a população feminina com 7% enquanto a população masculina tinha apenas 5.4% no total. No caso da hipertensão conforme a idade aumenta, também aumenta a porcentagem de pessoas afetadas.
Essa pesquisa realizada no Brasil foi chamada de Pesquisa Nacional de Saúde foi realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) juntamente com Ministério da Saúde.
No Paraná
No Paraná, segundo a pesquisa da SBEM-regional PR feita entre maio e junho de 2021 apontava que os casos de sedentarismo, obesidade e do descontrole de diabetes aumentaram na pandemia, 90% dos pacientes estavam mais sedentários, e 82,2% estavam tendo aumento de peso na pandemia. Assim como a engenheira Isadora Dibo, 28, que desenvolveu diabetes durante a pandemia.
“Devemos evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, presentes nas margarinas, fast foods, congelados industrializados, refrigerantes e etc. Devemos ter bons hábitos, como o consumo de alimentos saudáveis, a ingestão de quantidade de água adequada e exercício físico” adverte a nutricionista Giovanna Schier.
“Ganhei peso muito rápido, fui ao nutricionista e no exame de sangue constava o diagnóstico de diabetes” disse ela.
Além das consequências tradicionais resultantes dessas doenças, como relata Dibo quando questionada se tinha medo por ser do grupo de risco ela respondeu que não sentiu medo da Covid, mas sim dos problemas futuros vindos da diabetes como cegueira e a perda de membros.
Conforme relatado pela endocrinologista Salma Parolin, sobre as possíveis complicações no tratamento da Covid para pessoas que desenvolveram doenças por conta do sedentarismo. Ela respondeu:
“Eu não diria que afetam tratamento da Covid, eu diria que quem tem uma comorbidade, tem maior risco de complicação quando tem a Covid, assim, um paciente que já tem diabetes e pega a Covid, ele tem o risco de complicação maior, um risco de mortalidade maior”
“O paciente que é obeso que tem Covid, a complicação ou a mortalidade é bem maior nesse paciente.” Outra pesquisa divulgada pelo Banco Mundial em agosto de 2020 mostrava que havia um aumento no risco de fatalidade da Covid-19 em pessoas obesas de até 50%.
“Eu acho que o paciente que já tem comorbidade aumentou a fatalidade, só o fato de estar sedentário não, mas aquele que já tem a doença sim. O sedentarismo aumentou o risco de ter a doença e a doença que leva a maiores complicações. “
“Pacientes não querem andar de máscara pois se sentem sufocados, muitos que faziam atividades físicas como frequentar academia e caminhar na rua pararam de fazer por medo.”
“Essa diminuição de atividade física, a ingestão maior de alimentos que não são saudáveis, que são ricos em gorduras saturadas, aumentam o risco de contrair diabetes, colesterol alto e hipertensão.” completa a médica.
Como isso está sendo tratado
Para combater o avanço dessas doenças a OMS criou antes da pandemia os dias de Combate a Obesidade (11 de outubro) e o Dia de Combate a Diabetes (14 de novembro) para conscientizar a população mundial sobre os riscos dessas doenças.
Já o Ministério da Saúde em 3 de novembro soltou uma nota no DataSUS sobre o financiamento de 211 milhões de reais para aumentar os cuidados e o atendimento precoce as pessoas com doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), diabetes incluso.
“Está sendo difícil pedir para o paciente ir para uma academia, por ser um lugar fechado e ter risco de contágio nos aparelhos apesar de algumas academias estarem adotando medidas pra evitar isso.”
“Mas acho que o ponto crucial é pedir para os pacientes fazerem mesmo atividades ao ar livre ou que andem mais em casa, existem estudos observacionais que mostram que se a gente consegue tirar uma pessoa do sedentarismo fazendo com que ela caminhe pequenas distâncias várias vezes ao dia, esse tipo de orientação, falar para o paciente ir na panificadora a pé, no supermercado a pé, subir uma escada.”
“A orientação é que ele não fique parado, não fique na frente de uma tela, caminhe, faça aquela atividade passiva, menos aeróbica”.
Ela também enfatizou que “As pessoas realmente tem que adotar a mudança de estilo de vida, mesmo na pandemia para que não sofra as consequências dela daqui 2, 3 anos então mesmo na pandemia a gente consegue ter hábitos saudáveis como a alimentação e a prática de atividades físicas, a caminhada é uma coisa que é barata e se você andar de máscara o risco de contágio é muito pequeno, é uma orientação para todos fazerem.”