OPINIÃO: OS MELHORES DISCOS NACIONAIS DE 2019 (ATÉ O MOMENTO)

POR LUCAS NOGARA DE MENEZES COUTO
BLACK ALIEN- ABAIXO DE ZERO
GÊNERO: RAP/HIP HOP/R&B/REGGAE
O disco do ex- vocalista do Planet Hemp, Gustavo Ribeiro (mais conhecido como Black Alien), é, na minha opinião pessoal, o melhor disco nacional de 2019, e seu melhor trabalho em carreira solo, até então. Carregado de ‘’flow’’, o álbum fala, na maioria das vezes, sobre a luta do rapper em manter a sobriedade (ele está sóbrio desde 2014. Inclusive, recusou participar da volta do Planet Hemp, em 2012, pela vontade de mudar).
O resultado é um disco extremamente pessoal, batidas e letras contagiantes, com Black Alien em sua melhor forma criativa.
TIAGO IORC- RECONSTRUÇÃO
GÊNERO: MPB/POP ACÚSTICO
Em janeiro de 2018, Tiago Iorc anunciou um hiato por tempo indeterminado em sua carreira. Nesse período, muitos fãs acreditaram que o cantor havia desistido da fama, pois Iorc abandonou totalmente as redes sociais, e não se ouviu falar dele durante mais de um ano. Porém, o músico surpreendeu, em maio deste ano, com o excelente álbum ‘’Reconstrução’’, lançado sem aviso prévio nas plataformas digitais, e que narra todas as fases de um relacionamento: começando pelo início passional, passando pela depressão causada pelo término, e terminando com o autodescobrimento pessoal que a experiência proporcionou. É um excelente disco, do começo ao fim.
Atualmente, ele está excursionando com a turnê ‘’Acústico MTV’’ (que promove seu disco ao vivo, com o mesmo nome), que já tem data para passar em Curitiba: Tiago Iorc se apresentará no dia 3 de novembro, no Teatro Guaíra.
Mais informações em: https://www.diskingressos.com.br/evento/586/03-11-2019/pr/curitiba/acustico-mtv-tiago-iorc
BAIANASYSTEM- O FUTURO NÃO DEMORA
GÊNERO: ALTERNATIVO
Considerado uma das maiores revelações da música brasileira dos últimos anos, o grupo baiano lançou seu terceiro disco em 2019, mais uma vez investindo em sua mistura de sons, tão ampla que se torna até difícil de ser descrita: o Baianasystem mescla sons tropicais e jamaicanos, passando por gêneros como Reggaeton, Ska, Rap e música eletrônica, mas é influenciado, principalmente, pela música de origem Baiana.
Produzido por Daniel Ganjaman (‘’fiel escudeiro’’ do rapper Criolo), o disco possui diversas participações especiais, como a de Bnegão (co-vocalista do grupo Planet Hemp) na faixa ‘’Salve’’, e a de Antônio Carlos e Jocafi, que fazem parte da Orquestra Afrosinfônica da Bahia (que também dá as caras na música ‘’Fogo’’). A colagem de tantos elementos distintos é o que torna ‘’O Futuro não Demora’’ em um grande disco, feito para nenhum fã do grupo botar defeitos.
DEAD FISH- PONTO CEGO
GÊNERO: HARDCORE
Em tempos onde o rap assumiu toda a rebeldia que o rock possuía nos anos 80 e 90, o Dead Fish lançou ‘’Ponto Cego’’ para mudar isso. O grupo, assumidamente de esquerda desde seus primórdios, critica explicitamente o governo Bolsonaro, da primeira até a última das quatorze (e extremamente velozes) músicas. Apesar de não dar ‘’nome aos bois’’, os títulos sugestivos das músicas e frases como ‘’A esperança das ruas de 2013 catalizou aquele grande acordo nacional com o supremo e com tudo, pra estancar uma sangria’’ (versos presentes na música ‘’Sangue Nas Mãos’’) deixam bem claras as críticas.
Como o som pesado do Hardcore e o posicionamento político explícito sempre dividem opiniões (principalmente em um país dividido), esse é um disco que muitos irão amar, mas muitos outros também irão odiar.
DJONGA- LADRÃO
GÊNERO: RAP/HIP HOP
Reconhecido como um dos grandes nomes da nova geração do Rap Brasileiro (sendo exaltado, inclusive, por alguns dos maiores ícones do gênero, como Mano Brown, do Racionais MC’s, com quem já fez algumas parcerias), o mineiro Djonga lançou seu melhor trabalho em 2019. Como é de praxe no Rap, o disco vai fundo nas questões sociais e raciais, falando sobre a cultura do racismo e a realidade social do país. Porém, ainda há espaço para se falar de amor (passional e familiar).
Em ‘’Ladrão’’, Djonga se torna uma voz ainda mais ativa para as questões sociais do país, juntando-se a nomes já consagrados do Rap Brasileiro.
O TERNO- ATRÁS/ALÉM
GÊNERO: INDIE ROCK
Após o grande sucesso de seu terceiro disco ‘’Melhor Do Que Parece’’ (o mais elogiado da banda, até então), de 2017, e do excelente disco solo do vocalista Tim Bernardes (‘’Recomeçar’’, de 2018), o grupo ‘’O Terno’’ tinha a missão de fazer algo à altura dos dois últimos trabalhos…e conseguiu!
O álbum combina o que há de melhor em ‘’Melhor do que Parece’’ e ‘’Recomeçar’’, combinando a animação do primeiro com ótimos arranjos orquestrados (característica recorrente do segundo), que até lembram a era psicodélica dos Beatles.
FRESNO- SUA ALEGRIA FOI CANCELADA
GÊNERO: ROCK ALTERNATIVO
Apesar de ser mais lembrada como parte do movimento Emocore, a banda Fresno já mostrou há tempos que evoluiu musicalmente, tanto é que resiste até hoje, enquanto outros grupos que fizeram parte do movimento foram esquecidos.
O maior responsável pela evolução é o vocalista Lucas Silveira, também produtor do grupo. Assim como no disco anterior, ‘’A Sinfonia de Tudo que Há’’, o novo trabalho possui grandes arranjos. Porém, difere muito do conceito do disco anterior, que possuía influências fortes de bandas como Muse.
Em alguns momentos, ‘’Sua Alegria foi Cancelada’’ lembra a época do movimento Emocore, pois possui letras extremamente tristes e pessoais, baseadas na depressão, e que aparecem em um momento onde discussões sobre saúde mental se encontram em alta. Porém, mesmo melancólicas, as músicas são muito mais maduras do que as do começo da carreira do grupo, e mostram a inquietude criativa de Lucas, que, mesmo tendo encontrado um som mais conceitual em ‘’Sinfonia…’’, arriscou voltar um pouco atrás no novo trabalho. Voltou na medida certa.
ELZA SOARES- PLANETA FOME
GÊNERO: MPB/ ALTERNATIVO
Aos 89 anos, Elza Soares continua muito relevante entre os jovens. Por incrível que pareça, seu público é formado por pessoas de todas as idades, com maioria jovem. E muito disso se deve à conexão que ela possui com os artistas das gerações sucessoras à dela (mesma fórmula seguida por Caetano Veloso, que, mesmo com quase 60 anos de carreira, já lançou músicas parcerias com nomes como Emicida, Fresno e Anitta), o que continua acontecendo em seu novo trabalho, ‘’Planeta Fome’’, que possui parcerias com Bnegão e Baianasystem, entre outros artistas.
Como todo bom artista, Elza não para no tempo, e, assim como em seus dois últimos discos (‘’A Mulher do Fim do Mundo’’, de 2015, e ‘’Deus é Mulher’’, de 2018), ela reconhece a importância de temáticas atuais: continua debatendo temas como desigualdade social, agrotóxicos nos alimentos, negação de fatos científicos, negritude e feminismo.
LULU SANTOS- PRA SEMPRE
GÊNERO: POP
Em seu primeiro disco desde que assumiu o relacionamento homoafetivo com Clébson Teixeira (revelando também, sua sexualidade, após mais de 50 anos de carreira), o hitmaker Lulu Santos faz uma ode ao amor livre, dedicando as 10 faixas do álbum ao cônjuge. A visível felicidade do cantor transparece nas composições, e resulta no disco brasileiro mais alto-astral do ano, e em seu melhor disco lançado em muitos anos.