Onda de frio prejudica plantações e preocupa agricultores no Paraná

Frio intenso no Paraná causa geada e lavouras de trigo e de milho são as mais afetadas
Por Gabriela Amorim, Letícia Coelho e Marina Marciniak | Foto: Marina Marciniak
Durante as semanas de 9 a 15 e 23 a 26 de agosto foram registradas temperaturas abaixo de 0º C e geadas em regiões do Paraná durante a manhã. A queda de temperatura impacta principalmente os lotes de trigo e de milho, causando prejuízo e perdas para os agricultores. O preço final dos produtos no mercado pode ser afetado.
De acordo com boletins publicados pelo Departamento de Economia Rural (DERAL), geadas são comuns nessa época do ano, porém as registradas no mês de agosto foram intensas. “Em termos de ocupação de área, a cultura que deve sofrer maior impacto é a do trigo, pois há mais de um milhão de hectares a campo desta cultura, que recém teve sua colheita iniciada (1%). Considerando as regiões mais afetadas, uma área de aproximadamente 200 mil hectares deve ser impactada, com danos que vão de insignificantes a perdas totais, conforme o estágio da planta e a intensidade da geada. Para se ter uma primeira dimensão do prejuízo, há de se esperar que as plantas mostrem os primeiros sintomas” descreve o boletim sobre a semana do dia 6 a 12 de agosto.
Além do trigo, a cevada e o milho são outros plantios afetados pela temperatura. O DERAL afirma que a cevada obteve áreas parcialmente prejudicadas pela mudança brusca de temperatura. A colheita de milho foi paralisada devido às chuvas recentes, e a produtividade continua variando consideravelmente, dependendo do volume de chuvas, informa o departamento.
O produtor rural Ricardo Vain descreve os principais efeitos e consequências das geadas: “Geadas produzem grandes estragos. Se a planta não estiver devidamente desenvolvida, ela morre, causando muito prejuízo econômico”, afirma o agricultor. Vain explica que, quando a temperatura média fica abaixo dos 15º C, o metabolismo do milho é paralisado, não faz fotossíntese e não se desenvolve, afetando, assim, a produtividade.
O agricultor também compartilha situações marcantes das suas plantações em sua carreira:
Ricardo aponta que os impactos diretos aos produtores são severos, por dependerem da produtividade para cobrir os altos custos de produção. A rentabilidade da lavoura pode cair em até 40%. Isso também afeta nos preços alimentícios dentro do mercado.
As perdas ainda serão calculadas, o que só acontecerá quando o produto tiver um grande percentual colhido. A produção gaúcha, argentina e paraguaia também afeta o estado do Paraná, por serem fornecedoras usuais para o estado em caso de prejuízo. A técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema de Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), Ana Paula Kowalski, afirma: “Nesse momento, os prejuízos são dificilmente quantificados, pois há diferenças de perdas, inclusive dentro da mesma propriedade, entre áreas mais altas e de baixada.”

A linha do tempo mostra as mudanças climáticas que aconteceram no Paraná no ano de 2024 em relação ao plantio.

A safra de milho 2024/25 foi estimada em 2,7 milhões de toneladas, volume ligeiramente superior à safra anterior que totalizou 2,5 milhões de toneladas. Entretanto, a expectativa é de que a área plantada sofra um decréscimo de 9,6% totalizando 267,7 mil hectares plantados, menor área da história.

A estimativa de safra de trigo aponta para uma produção de 3,1 milhões de toneladas, uma redução de 14% ao obtido em 2023 (3,6 milhões) e de 17% em relação ao potencial nesta safra (3,8 milhões).
Devido às altas temperaturas entre os dois picos de frios e geadas do mês de agosto, foram detectados diversos focos de incêndio, e há risco elevado de incêndios florestais. As previsões para as próximas semanas chegarão em -3,5º C nas regiões de General Carneiro. Massas de ar frias e quentes afetam diretamente as temperaturas, causando até confusões climáticas. “Os declínios acentuados de temperatura são comuns sim. O que não é costumeiro são períodos prolongados de calor; então, quando chegam as massas de ar frio, as temperaturas caem”, conclui o meteorologista Marcelo Martins.