Número de mulheres em situação de rua cresce 28%

População feminina em condição de rua sofre com problemas relacionados à saúde e higiene pessoal
Por Bruna Colmann, Brunna Gabardo e Isadora Deip
O número da população feminina em situação de rua cresceu 28% nos últimos oito meses em Curitiba. Segundo a Fundação de Ação Social (FAS), o número era de 164 mulheres em dezembro de 2018, e em agosto deste ano, de 2.394 pessoas em situação de rua, 210 são mulheres, o equivalente a 8,8%. Embora em menor número, essa parte da população enfrenta maiores dificuldades em relação ao cuidado com a saúde, tanto geral quanto íntima.
Segundo a ginecologista Carolina Ferrari, as mulheres em situação de rua, por estarem mais expostas e com a higiene pessoal limitada, possuem maiores chances de adquirirem infecções urinárias e vaginais devido à proliferação de bactérias. A médica conta que os casos mais frequentes de doenças nessas mulheres são as sexualmente transmissíveis (DST), como sífilis, gonorréia, candidíase e AIDS.
A ginecologista acredita que as mulheres que se encontram nessa situação necessitam de maiores cuidados e orientações. “Para elas, deve ser oferecida a condição básica de higiene, como absorventes e lenços umedecidos, já que a maioria não tem condição de tomar banho diariamente”, explica.
Mulheres como a Regina Medeiros, de 58 anos, estão em situação de rua devido à problemas familiares ou até mesmo psicológicos. “A gente está na rua porque não aguenta ficar em casa”. Em relação à saúde, Regina diz que as pessoas na rua não conseguem se tratar adequadamente. “Tem consultório de rua e me trato lá, tenho HIV, tomo meu remédio. Eles fazem o que podem”, e em relação à situações mais básicas, completa: “Conseguir um banheiro é a maior dificuldade pra gente que é mulher.”
O Consultório na Rua da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba é uma iniciativa voltada ao atendimento local da população de rua. A coordenadora do projeto, Ana Carolina Schlotag, conta que as mulheres em situação de rua podem acessar todos os pontos de atenção à saúde como qualquer cidadão de direitos. “Para atendimento, exames ou medicamentos, elas podem buscar uma das 111 Unidades de Saúde. O Consultório na Rua é mais uma opção. Nele focamos nos casos mais difíceis e que necessitamos realizar um cuidado diferenciado, mas sempre articulado com as Unidades de Saúde.”
Ana Carolina diz também que a Secretaria investe em ofertas adequadas de medicamentos e métodos contraceptivos para as mulheres em idade fértil. “Quando gestantes, todas as consultas, exames e procedimentos são priorizados e acompanhados por profissionais. Em algumas vezes a consulta de pré-natal é realizada no espaço da rua mesmo, quando a mulher se recusa a ir a algum ponto de atenção à saúde”.
Em todas as unidades da FAS as mulheres acolhidas são vinculadas aos serviços da saúde pública, acompanhadas pelo Consultório na Rua, Unidade Básica de Saúde ou CAPS. Muitos casos são tratados pela Rede de Atenção Psicossocial em Saúde Mental. Quando há uma situação de emergência, o SAMU é acionado. “Todas as unidades de acolhimento e convivência também fornecem produtos de higiene pessoal, toalhas, banho e roupas limpas”, explica a FAS.
Regina Medeiros conta que já participou de alguns programas voltados ao atendimento do morador em situação de rua, mas não ficou satisfeita com a maneira como se deu o acolhimento. “Já fui na Casa das Mulheres, no Centro POP lá no Boqueirão, na FAS… mas não adianta. Você vai pra lá de noite mas seis horas da manhã é rua de novo. Às vezes eu tô ruim, sem tomar remédio, preciso ficar lá eles não deixam. Tem dias que não consigo nem andar e tenho que voltar para o Centro”, conta. “Na FAS eles têm cama, toalha de banho, mas é um sofrimento para te darem uma peça de roupa.”
Assistente social sugere como deve ser feita a abordagem
O modo de abordagem de mulheres em situação de rua é extremamente importante para o desenvolvimento de uma relação de ajuda ou auxílio. De acordo com a assistente social Lorrany de Oliveira Ubaldo, as mulheres que vão até os centros ou instituições em busca de ajuda normalmente estão mais dispostas para conversar e contar sobre a situação que estão vivendo. Já a abordagem de mulheres que estão nas ruas é mais delicada, pois muitas delas ficam receosas ou com medo de serem julgadas. A assistente social acredita que uma das formas de quebrar essa “barreira” entre as mulheres seria conversar de forma mais ampla e aplicável: “Devemos evitar muita teoria, é melhor falar de formas mais práticas, para que o entendimento seja mais fácil”.
A principal função do assistente social nesses casos, segundo Lorrany, é garantir o direito dessas mulheres, informando, acompanhando e orientando os caminhos necessários para que elas consigam reverter a situação, sendo inseridas novamente no mercado de trabalho ou retomando o estudo, por exemplo.
Mulheres em situação de rua na Regional Matriz
Regina Medeiros (58 anos) e Rosenilda Siben (32 anos), alternam entre a Praça Tiradentes, Rua XV de Novembro e outros pontos do centro de Curitiba.
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SERVIÇO:
Central de Encaminhamento Social 24 horas : A Abordagem Social 24 horas atende pessoas em situação de rua em Curitiba através do sistema 156.