Número de acidentes em canaletas de ônibus cresce 51% em Curitiba

Prefeitura afirma que o tráfego de ciclistas e pedestres contribui para aumento de acidentes nas vias exclusivas de ônibus
Por Geórgia Cintra, Isabella Miranda e Vitoria Santin | Foto: Geórgia Cintra
O número de acidentes de trânsito em canaletas de ônibus em Curitiba cresceu 51% no ano passado, em comparação ao ano 2022. Em 2023, foram registrados 59 acidentes com 54 feridos e 3 mortes envolvendo ciclistas e pedestres nas canaletas de ônibus da cidade. No ano anterior, haviam sido registrados 39 acidentes, com 44 feridos e 4 mortes. O levantamento foi realizado no mês de abril pela Urbanização de Curitiba (URBS(. Só neste ano, entre janeiro e abril já foram registrados 22 acidentes nas vias exclusivas do transporte público.
Por lei, estabelecida pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), as canaletas são exclusivas para o uso do transporte coletivo. Somente veículos que realizam atendimentos de emergência em saúde e segurança pública estão autorizados a circular por essas vias. O uso para ciclistas e pedestres nesse local é perigoso e proibido.
Pegar “rabeira” é infração
As famosas “rabeiras” são uma das principais causas de acidentes nas canaletas. Ciclistas se prendem na lateral e atrás dos veículos, com os pés embaixo da lataria dos ônibus. A prática é perigosa e pode levar a acidentes. Em 2023, a Guarda Municipal de Curitiba recebeu 129 denúncias, através do telefone de emergência 153, de pessoas que estariam praticando as “rabeiras”.
Motorista de ônibus biarticulados. Adeli dos Santos, de 56 anos, relata que já passou por uma situação de acidente com o transporte público na canaleta em 2019, e que constantemente lida com ciclistas e pedestres nas vias exclusivas de ônibus. “Não são só ciclistas, tem um monte de gente correndo. Tem mães e pais que vão, no final de semana, ensinar a criança a andar de bicicleta na canaleta, andar de patins… É um monte de barbaridade”.
Para ele, é necessário que os órgãos competentes tomem uma atitude severa, multando os cidadãos que insistem em utilizar o espaço. “Só assim para se conscientizar que canaleta não é lugar para andar de bicicleta, de patins nem de correr”, completa o motorista.
Em 2019, um Projeto de Lei de autoria do vereador Tico Kuzma (Pros) determinava a apreensão de bicicletas, skates ou patinetes para quem realizassem rabeira nos ônibus ou que trafegassem nas vias exclusivas do transporte coletivo. No entanto, o PL foi arquivado em 2020, e desde então nenhum outro projeto de lei ganhou notoriedade sobre o assunto.
Rua do Outono atrai Moradores para as Canaletas
A realização de fotos nas canaletas é outra prática que se tornou comum e perigosa. Com a chegada do outono, as árvores avermelhadas atraem moradores e turistas para “Rua do Outono”, localizada no bairro Mossunguê. A Urbs alerta que os registros fotográficos devem ser realizados apenas nas calçadas, longe das canaletas, para evitar acidentes.
Morador da região, Luiz Paixão acredita que os fins de semana são os dias mais complicados na Rua do Outono, que vira um local de passeio. “Há muita gente sem noção do perigo. Em alguns lugares, não há como os ônibus diminuírem velocidade e preverem o perigo, especialmente nas descidas. As pessoas tiram fotos como se estivessem em um estúdio fechado.”
Campanha alertou para riscos nas canaletas
O mês de maio, que acabou há pouco, marcou mais um ano da campanha “Maio Amarelo”. Neste ano, a campanha teve como foco as ações de segurança nas canaletas exclusivas para ônibus. O objetivo principal das operações foi a conscientizar ciclistas e pedestres sobre os perigos de trafegar nas canaletas. Foram realizadas 3.039 abordagens a ciclistas, pedestres e automóveis que transitavam próximo as vias exclusivas de ônibus. As operações de conscientização continuarão acontecendo ao longo do ano.
“A campanha surge como uma medida para conter o aumento no número de acidentes dentro desses espaços e conscientizar a população sobre os riscos de trafegar em áreas restritas”, comenta Rosangela Battistella, superintendente de Trânsito, em entrevista para o site da Prefeitura de Curitiba.
A Setran realiza periodicamente ações educativas com o objetivo de orientar e desencorajar essas práticas perigosas. A Escola Pública de Trânsito (EPTran), também realiza operações integradas com a participação de fiscais da Urbs e guardas municipais.