Nos últimos dez anos, o preço da passagem de ônibus aumentou em nove vezes

Após reajuste de 22% na tarifa social do transporte coletivo de Curitiba, o novo valor começou a valer no início de março
Por Mariana Bridi | Foto: Mariana Bridi
Os usuários do transporte público vêm enfrentando mudanças no valor da passagem há mais de uma década em Curitiba. Foram mais de 10 reajustes nos últimos 10 anos. Isso fez com que o preço ficasse 9 vezes mais caro. O reajuste de 22% foi anunciado pela prefeitura no último dia 28 de fevereiro e começou a valer a partir do 1° dia do mês de março na capital. A tarifa subiu de R$4,50 para R$5,50.
O preço da tarifa do transporte coletivo em Curitiba é fundamental para que milhares de pessoas possam realizar suas atividades diárias, principalmente para moradores de áreas mais afastadas da cidade. Para o estudante de direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Bernardo Guidotti do Amaral Stefanello, o aumento do preço pressiona grande parte da força produtiva e de prestação de serviços na cidade inteira, visto que diversas empresas não oferecem vale transporte, ou, quando mais, um auxílio que abarca todo o valor.
“Em minha vida, tal cenário provocou uma grande mudança. Tive que começar a usar mais a minha bicicleta.” Reconhecendo as inúmeras vantagens que a bicicleta proporciona, o estudante ainda assim reforça que é necessário ter noção de que é inviável um trabalhador que mora no Capão Raso e bate ponto às 7h30, se deslocar até o Juvevê. “Ao final do dia acabaria gastando mais de R$ 220 por mês se pegasse o transporte diariamente como costumava. O aumento do passe de ônibus, ironicamente, diminui, portanto, a nossa qualidade de vida”, discorre Bernardo.
De acordo com a prefeitura de Curitiba, o novo reajuste aplicado é o primeiro aumento desde fevereiro de 2019. Conforme depoimento dado pelo presidente da Urbanização de Curitiba (URBS), Ogeny Pedro Maia Neto, em uma sessão plenária na Câmara Municipal de Curitiba (CMC) no início de março, o que motivou essa elevação nos custos foi o aumento do combustível, a tarifa social congelada desde março de 2019 e a queda no número de usuários. A prefeitura explica que esse foi o menor valor possível para conseguir manter a sustentabilidade do sistema de transporte.
O transporte coletivo integrado de Curitiba e Região Metropolitana não é pago só com o valor da tarifa. O que faz o sistema funcionar sem aumentar o preço para os usuários é o subsídio do governo do estado. Projetando um déficit de R$ 157 milhões no transporte da capital neste ano, a prefeitura negocia subsídio com o governo para cobrir esse valor.
Em 2022, com o objetivo de manter a tarifa social e a integração com as linhas metropolitanas, a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) e o governo do estado vão aportar, juntos, R$60 milhões até o fim do ano.
Já na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), algumas linhas sofreram reajuste de 5,55% na tarifa. Segundo depoimento via email do assessor de imprensa da Coordenação Metropolitana de Curitiba (COMEC), Gabriel Hubner de Macedo, a pandemia causou a maior crise da história do sistema do transporte coletivo, e afirma que as expectativas são de que essa discrepante diferença torne o sistema de transporte mais atrativo e assim aumente o número de passageiros. “O reajuste da tarifa realizado em 2022 foi de 5,5%. O último reajuste realizado foi em 2019. Neste período tivemos uma inflação de 18,99%. O aumento do preço da gasolina foi de 70%. Portanto, fizemos o possível para realizar um reajuste muito abaixo dos demais parâmetros utilizados.”
TARIFA TÉCNICA X TARIFA SOCIAL
A prefeitura de Curitiba anunciou um reajuste de 22% na tarifa da passagem de ônibus da capital, que passou de R$ 4,50 para R$ 5,50. No entanto, a tarifa técnica está em R$ 6,36
A tarifa técnica e a tarifa social, preço pago pelos passageiros, são coisas diferentes e podem possuir valores diversos. Com base em informações da Urbanização de Curitiba (URBS), saiba quais as principais diferenças entre os valores.
O preço da tarifa técnica, na prática, é maior que o preço da passagem. O valor final representa o custo médio real para manter o sistema de transporte, dividido pelo número de passageiros pagantes. Para isso, é levado em consideração os gastos, sem considerar os subsídios do poder público.
Já a tarifa social, preço que o cidadão passa nas catracas, representa o valor da tarifa técnica, mas considera também os subsídios recebidos pela cidade. Ao contrário da técnica, o valor final da tarifa social é definido pela prefeitura da cidade.
Em alguns municípios da região metropolitana de Curitiba, a decisão do cálculo da tarifa é diferente. São sistemas diferentes, geridos por órgãos diferentes e com operações e legislações diferentes. Por esse motivo e por ser um órgão do Governo do Estado sem fins lucrativos e com receita desvinculada ao sistema de transporte coletivo, os subsídios não são destinados à Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC).
Segundo a COMEC, no cálculo da tarifa técnica da região metropolitana, não há os 4,55% previstos pela URBS para custo de administração. Os subsídios repassados pelo Governo do Paraná a Curitiba garantem que os passageiros de cidades da Região Metropolitana possam fazer a integração e entrar no sistema de transporte da capital.