No meio de dificuldades e proibições, vendedores ambulantes enxergam seus sonhos através das vendas nos ônibus curitibanos

por Ana Clara Moraes
No meio de dificuldades e proibições, vendedores ambulantes enxergam seus sonhos através das vendas nos ônibus curitibanos

Por Ana Carolina Ferreira e Ana Clara Moraes | Foto: Ana Clara Moraes

Alef, Wellington, Leandro e César estão indo em busca de seus sonhos, vendendo eles através de seus produtos comercializados dentro dos transportes públicos da capital

O transporte público em Curitiba e região metropolitana carrega cerca de 213 milhões de pessoas anualmente. Além de levar os cidadãos diariamente, os ônibus carregam também muitas histórias.

Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) existem cerca de 4 milhões de vendedores informais em todo o país, 3 mil apenas no Paraná.

A venda de produtos dentro do transporte público e nos tubos é proibida por lei em todo o Brasil, mas isso não impede que diversas pessoas se sustentem dessa forma. Em 2020, a Senadora Rose de Freitas do Podemos (Espírito Santo) criou um projeto de lei que permitiria a venda de doces dentro dos ônibus, mas a PL acabou sendo arquivada no fim do seu mandato em 2022. 

O vendedor de sonhos

Alef Nielsen tem 29 anos e é formado em marketing, coaching e está cursando o primeiro ano de Teologia. Começou a vender bombons ao lado da esposa, Sabrina Santos, para pagar os gastos do sonhado casamento.

Na época em que começou a venda dos bombons, ele ainda trabalhava de carteira assinada em uma rede varejista em Curitiba e seus primeiros clientes foram os colegas de trabalho. Pouco tempo depois, ele saiu da empresa para ampliar a clientela e assim juntar mais dinheiro. Dessa forma, começaram a vender no Centro da cidade, em parques e também dentro dos ônibus vestidos de noivos.

A história do casal ganhou repercussão entre as pessoas que costumavam vê-los vendendo e chegou nas redes sociais. Alef e Sabrina conseguiram pagar o casamento vendendo bombons depois de 8 meses. O valor da festa eles não revelam.

Atualmente, o casal faz as vendas separadamente. Ele dentro dos ônibus e ela em feiras e no condomínio. Alef conta a história todos os dias para dezenas de passageiros. “Não vendo apenas bombons, vendo sonhos”.

Depois de realizar o casamento, agora o sonho a ser vendido é o de abrir uma confeitaria e firmar os negócios fisicamente. O casal ainda tem o objetivo de criar conteúdos nas redes sociais, como vídeos e e-books de receitas, assim que tiverem o espaço físico da confeitaria todo finalizado. Atualmente, o perfil da Confeitaria Dona Jura conta com mais de 3 mil seguidores no Instagram.

De Cocadas ao diploma

Wellington Dias nasceu e cresceu em Campo Grande (MS) e teve que fazer uma mudança repentina para Curitiba em outubro de 2018, com 16 anos. Ele começou a vender geladinhos industrializados no centro da cidade para ajudar nos gastos da família. 

Depois de dois meses, decidiu trocar os produtos e passou a oferecer  bombons, feitos pela irmã. Incluiu também salgados assados no cardápio que servia aos clientes no Centro de Curitiba. 

Depois de um dia ruim de vendas, Wellington decidiu voltar para casa mais cedo e viu algumas pessoas comercializando outras mercadorias dentro dos ônibus. Foi nesse momento que trocou o local de trabalho. 

Decidiu que tentaria vender os produtos restantes e se surpreendeu positivamente com os passageiros. Desde então, trabalha dentro dos transportes públicos de Curitiba. Fez mais uma troca. Mudou dos bombons e salgados para a cocada.

Wellington avalia que consegue se sustentar com as vendas do doce de côco, ele ganha em média R$ 75 por dia. “Mas tenho a intenção de aumentar minha renda, para, no futuro, quem sabe, fazer uma faculdade de programação para ter uma estabilidade maior”.

Negócio familiar

Leandro Gabriel começou vendendo bala de goma na rua e de casas em casas,  após perder o emprego em uma rede de fast food. Com essa renda ele conseguiu pagar suas contas, mas por ser tímido o movimento caiu e precisou voltar ao trabalho registrado.

Em 2019, Leandro decidiu se demitir e voltou a vender balas de goma, dessa vez, em ônibus e terminais. Passou das balas de goma para a cocada, e conseguiu juntar dinheiro para pagar sua carteira de moto e carro. Atualmente, o jovem de 25 anos lucra no mês em média R$ 1500 e junta dinheiro para no futuro trabalhar com mecânica automotiva.

Ele não é o único da família que trabalha nessa área. Depois da pandemia, Silvana, mãe de Leandro, começou a produzir bombons para que ele e seu irmão mais velho, César Thiago pudessem vender nos ônibus. 

César trabalhava em uma gráfica, mas em 2017 perdeu o emprego e começou a fazer um curso de informática. Para fazer uma renda extra, decidiu vender balas de goma no transporte público. Com o dinheiro das vendas, ele conseguiu terminar seu curso e decidiu guardar o resto em uma conta poupança.

Em 2021, as vendas caíram e ele acabou usando sua poupança bancária. A partir de 2022 houve um divisor de águas. “Os produtos para celular salvaram as minhas vendas”. Cesar conta que teve a ideia de mudar seu produto e começou a vender acessórios para celular, como fones e carregadores. Isso deu uma alavancada em seu trabalho e conseguiu guardar de novo seu dinheiro. 

Hoje, César tem dois grandes objetivos. Ele pretende conquistar sua casa própria e mais futuramente quer abrir uma loja para continuar vendendo seus produtos eletrônicos. 

 

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