No Dia Mundial do Livro, Brasil comemora sinal de aumento do hábito de leitura

Data foi criada em 1995, pela Unesco. No dia 23 de abril de 1616 morreram William Shakespeare e Miguel de Cervantes
Por Mariana Machado de Almeida | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Depois de anos de estatísticas desanimadoras, o Brasil chega neste sábado (23) ao Dia Mundial do Livro testemunhando um incremento hábito de leitura da população. O período de pandemia é o responsável por esse alento. Segundo um levantamento feito pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), houve um crescimento de 30% (55 milhões) nas vendas de livros em 2021 na comparação com o ano anterior.
O país vinha acompanhando a queda no número de leitores, além do fechamento de espaços dedicados à leitura. Segundo a edição mais recente da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Ibope para o Instituto Pró-Livro, foram 4,6 milhões a menos de leitores entre 2015 e 2019 . A principal dificuldade apontada pelos entrevistados foi a falta de paciência para ler.
Além do pouco interesse e da falta de tempo para a leitura alegada pelos brasileiros, outro complicador é o preço dos livros em livrarias físicas. Atualmente, o custo médio de um livro fica entre R$ 40,00 e R$ 50,00. Em um país onde o salário mínimo é de R$ 1.212,00, é de se compreender que o gasto com obras literárias não esteja entre as prioridades.
Ameaça
Desde 1946, os livros possuem isenção tributária no Brasil. Isso significa que o segmento não precisa pagar impostos e alíquotas. Mas em 2020, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a apresentar uma proposta para taxar os livros em 12%. Isso aumentaria o valor final do produto em até 20%.
A justificativa do Ministro para defender essa mudança foi de que os livros seriam “artigos de luxo” e somente os mais ricos poderiam comprá-los, logo, não faria diferença pagar um preço mais elevado. Guedes também afirmou, sem explicar como, que o lucro obtido com essa taxação seria para distribuir livros aos mais pobres. No ano passado, o ministro negou ter proposto a taxação, embora a proposta de reforma tributária enviada pelo governo Bolsonaro ao Congresso previsse a cobrança.
Portas fechadas
No início de 2021, a Livraria Cultura fechou as portas de sua loja no Shopping Curitiba, além de também encerrar as atividades em duas sedes na cidade de São Paulo. Na época, Sergio Hens, CEO da empresa, afirmou que o fechamento estava diretamente ligado à mudança no comportamento do leitor, que prioriza os meios virtuais para adquirir livros.
Para boa parte da população, o custo é um dos obstáculos no estímulo à leitura. Para a estudante de design e leitora Lais Toews, o preço dos livros em livrarias físicas não é convidativo. “As livrarias têm um preço muito acima do normal para os livros, mesmo sendo capa comum e de material normal”, afirma. A estudante diz que prefere fazer suas compras literárias de forma online, justamente por conta do preço e porque essas plataformas oferecem cupons de desconto que fazem o valor do livro despencar.
Sebos
Se nas livrarias que oferecem produtos novos os preços são altos, os sebos ainda conservam um público cativo. Devido à pandemia de Covid-19, as lojas desse segmento precisaram se adaptar às novas condições de quarentena e isolamento social. Para muitas, a opção foi estender suas vendas ao formato online.
Segundo um levantamento feito pela Estante Virtual, maior acervo de sebos online, as vendas de livros aumentaram quase o dobro em 2020 se comparado com o mesmo período do ano anterior. “Com o fechamento dos shoppings e áreas de lazer, as pessoas passaram a procurar mais os livros”, afirma Marcelo Basques, sócio e proprietário das lojas Sebo Capricho. “A procura aumentou principalmente nas vendas online.”
Além de oferecerem livros com preços mais em conta, os sebos possuem o sistema de trocas e compras de livros usados, o que pode atrair qualquer leitor que procure um livro com uma edição diferente ou até mesmo livros mais antigos, que já estão fora de catálogo.
Incentivo na infância
Pesquisas confirmam que a leitura na infância contribui para o desenvolvimento de empatia, linguagem oral, atenção e concentração. Além de também estimular a criatividade, imaginação e curiosidade. Essa simples ação transformará crianças em adultos com senso crítico e habilidades cognitivas para auxiliar nas dificuldades da vida adulta. “Um incentivo maior nas escolas ajudaria com o hábito de leitura, além de acesso a boas bibliotecas”, diz Marcelo Basques, que tem anos de experiência com a venda de livros e contato com diversos leitores.
Em 2019, o Ministério da Educação lançou o programa “Conte para Mim” para estimular a leitura infantil no ambiente familiar. O projeto faz parte da Política Nacional de Alfabetização e tem como objetivo fazer com que as crianças da rede pública de ensino levem para casa os “kits de literacia”. A intenção é incentivar a leitura fora das escolas, além de promover as práticas de contação de histórias, diálogo familiar e motivação da oralidade entre pessoas da mesma família.
Para contribuir com o projeto, o MEC organizou “cantinhos de leitura” em escolas, creches e bibliotecas, com o intuito de estimular a atividade intelectual, a narração de histórias e as atividades lúdicas.
Dia Mundial do Livro
O Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor foi criado em 1995, pela Unesco (Organização das Nações Unidas Para a Educação, a Ciência e a Cultura). Uma das razões para a escolha da data é o fato de no dia 23 de abril de 1616 dois dos maiores autores de todos os tempos terem morrido: o dramaturgo inglês William Shakespeare e o romancista espanhol Miguel de Cervantes.