NAVALHA NA CARNE NEGRA: peça sobre o realismo negro.

por Fatos
NAVALHA NA CARNE NEGRA: peça sobre o realismo negro.

 

         Peça que foi censurada pelo Regime Militar  faz sucesso nos palcos

       Por Daniela Alves 

 

         A peça dirigida por José Fernando Peixoto de Azevedo traz o texto de reflexão do drama clássico de Plínio Marcos que foi perseguido pelo Exército na década de 1960. Num quarto de bordel, a cama, principal objeto de criação de cena traz questões ainda encaçapadas nos conflitos do Brasil.

        O espetáculo, que ganhou mais uma versão, é composto por Lucélia Sérgio, que atua com Neusa Sueli, Rodrigo dos Santos, como Vado, Raphael Garcia, como Veludo, e retrata ferozmente a realidade de seres que são tratados como a escória da sociedade.

        A peça se baseia no sumiço do dinheiro deixado na mesa pela prostituta Neusa ao cafetão Vado, e a culpa recai sobre Veludo, o Camareiro Gay, beneficiando um do outro, num certo tipo de parasitismo, se desenvolve então as cenas em trocas de incriminações entre eles.

        Com uma câmera em cena, encaminhando o público a várias leituras, a forma como as cenas são captadas conduz a ter uma certa percepção, um recorte da realidade, paralelo ao palco, comparando a existência desse fato, um limite criado, e acobertado da atualidade em relação às minorias.  

      O espetáculo provoca a análise de assuntos ainda existentes como a relação abusiva do casal, acompanhado da opressão feminina sofrida por Neusa, num corpo de mulher negra.

      Vado, um macho que escapa incessantemente pelos seus diálogos, e atitudes, que em seguida, vê suas expectativas decadentes pela circunstâncias de cor, lugar de classe, pertencendo à mesma classe social que Veludo e a prostituta.

       Um dos pontos mais importantes da dramaticidade é quando Sueli questiona: “Será que sou gente? Será que eu e você, o Veludo, somos gente?” dos risos do público com o carisma de Veludo em cena, ao irônico dramático, começam a tomar consciência da importância da peça, e no que ela diz sobre raça e gênero, e a emergência das micropolíticas.

      A peça finaliza ao som de Elza Soares : “ O meu país é o meu lugar de falar”, e Lucélia Sérgio fazendo um agradecimento, e discurso sobre democracia.

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