Museus de Curitiba apresentam irregularidades técnicas na infraestrutura

por Thaynara Goes
Museus de Curitiba apresentam irregularidades técnicas na infraestrutura

Segundo o Tribunal de Contas do Paraná, até setembro de 2020, pelo menos quatro museus de Curitiba apresentavam discrepâncias nas normas de segurança

Por Julia Amaral, Lívia Berbel, Thaynara Goes e Victor Gambetta | Foto: Thaynara Goes

O incêndio que atingiu um galpão da Cinemateca em São Paulo em julho deste ano trouxe um alerta para a situação das instalações dos museus de Curitiba. Em 2020, alguns desses museus já vinham recebendo recomendações para acabar com as irregularidades, mas até agora várias dessas falhas não foram ajustadas.

O Tribunal de Contas do Paraná (TCE-PR), em setembro de 2020, aprovou uma série de recomendações de segurança para a Secretaria de Estado da Comunicação e Cultura (SEEC) implantar em até 180 dias nos museus sob sua supervisão. A medida visa prevenir as instituições paranaenses de tragédias como o incêndio que afetou o Museu Nacional do Rio de Janeiro em 2018.

O relatório aponta que pelo menos quatro museus de Curitiba apresentavam irregularidades que estavam em desacordo com as normas estipuladas pelo Corpo de Bombeiros: o Museu Casa Alfredo Andersen, o Museu da Imagem e do Som do Paraná, o Museu da Arte Contemporânea do Paraná e o  Museu Paranaense. Questionado sobre o status das alterações requisitadas, o TCE-PR afirmou que um novo relatório com o parecer dos casos está em andamento, mas que, até então, várias das recomendações ainda não tinham sido implementadas.

Segundo a Coordenação Estadual de Museus do Paraná (COSEM), há um grande esforço feito para que a manutenção dessas instalações sejam feitas, já que se tratam de prédios tombados como patrimônio histórico. A Coordenação afirma que nas inspeções técnicas realizadas pelo Corpo de Bombeiros ocorrem a verificação da documentação, do sistema de proteção por hidrantes e extintores, e também a sinalização por placas e luzes. De acordo com a COSEM, os diretores dos museus acompanham a manutenção dos acervos diariamente e há a previsão de investimento em equipamentos para a melhoria da conservação dos acervos.

O caderno “Segurança em  Museus” foi publicado em 2011 pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e apresenta uma série de recomendações com objetivo de orientar instituições museológicas a conservar essas entidades. Em Curitiba, o Corpo de Bombeiros segue o Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico (CSCIP), a NPA (Normas de Procedimentos Administrativos) e o NPT (Normas de Procedimentos Técnicos) para combater incêndios e possíveis desastres. Além disso, é obrigatório o licenciamento dessas instituições para uso e funcionamento. Segundo o Corpo de Bombeiros,  os museus são classificados quanto a sua ocupação, e conforme a sua área e a altura, são definidas as medidas de prevenção e combate a incêndio e a desastres.

Preservação da história

A historiadora formada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Laura Mendes, frisa a importância da preservação dos museus e aspectos históricos para a construção da memória coletiva do povo. Segundo ela, por trás das instituições existem muitas pessoas envolvidas na pesquisa e na preservação, então quando incêndios como o do Museu Nacional e da Cinemateca acontecem perde-se espaço de estudo e surgem dificuldades para a construção dessa memória, seja de país ou região, o que impede que a população tenha conhecimento da história para poder debater e refletir sobre melhores escolhas no presente. Confira mais detalhes da entrevista em:

Para Laura, além de pensar em como reparar estragos nos museus, deve-se estar atento ao que fazer para que esses estragos não aconteçam. “A maioria dos casos de destruições dos museus foram tragédias anunciadas, é o caso do Museu Nacional, do Museu da Língua Portuguesa, ou seja, a falta de manutenção, de investimento, de cuidado dessas estruturas faz com que esses incêndios, esses acidentes, aconteçam (…) a Cinemateca, por exemplo, os próprios funcionários denunciando que o governo deixou de investir (…) a partir do momento que o governo corta a verba de um museu, ele, de certa forma, está causando a destruição dessas instituições.”

A especialista afirma que a valorização dos museus e da história deve ser ensinada desde cedo para as crianças; no entanto, mais do que isso, preservar e democratizar o acesso a esses acervos históricos é papel do Estado para que a história do país seja conhecida e debatida. Confira mais detalhes da entrevista em:

Histórico de tragédias

Os incêndios no Museu Nacional do Rio de Janeiro e na Cinemateca Brasileira não foram casos isolados de acidentes em instituições culturais do Brasil. Nos últimos 15 anos, pelo menos 5 entidades culturais brasileiras registraram algum tipo de descaso ou acidente envolvendo sua infraestrutura: o Museu da Língua Portuguesa, localizado em São Paulo; o Museu do Ipiranga, museu mais antigo de São Paulo; o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo; o Teatro Cultura Artística; e o Auditório do Memorial da América Latina, também localizado em São Paulo.

 

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