Movimento estudantil enfraquece no Paraná durante pandemia

Sem aulas presenciais, estudantes paranaenses ficam de fora de debates sobre educação, como reabertura de instituições de ensino, cortes orçamentários em universidades e militarização em colégios
Por Eduardo Veiga, Maria Eduarda Souza e Vanessa Guimarães | Foto: UPES-PR
Com o isolamento social e aulas remotas, centros acadêmicos e grêmios estudantis perdem representatividade em escolas e universidades do Paraná. Diminuindo o contato com estudantes e população, o movimento estudantil deixa de ter presença em políticas voltadas à educação no estado. Apesar de discordarem de medidas como volta às aulas presenciais, cortes orçamentários em universidades e modelo cívico-militar em colégios estaduais, as dificuldades de mobilização impedem manifestações em protesto.
A militância deixou de ser uma prioridade dos estudantes, segundo a presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPE), Larissa Souza. A diretoria da UPE – formada por 49 pessoas espalhadas pelo estado – constatou um enfraquecimento nas mobilizações logo no início da pandemia. “Muitos estudantes perderam seus estágios, suas bolsas das universidade e tiveram que ir trabalhar. Eles precisaram secundarizar a militância para conseguir sobreviver dentro desta pandemia”.
A presidente da UPE reforça a importância de o movimento estudantil defender estudantes de instituições particulares. “A gente abriu um processo contra as instituições privadas de ensino, pedindo que os estudantes inadimplentes pudessem se rematricular”. Segundo levantamento do Grupo Rabbit, as rematrículas em escolas particulares brasileiras caíram cerca de 20% entre setembro e novembro do ano passado, em comparação com o mesmo período de 2019.
Para Larissa, o principal trabalho do movimento estudantil, nesse momento, “é fazer com que os alunos tenham acesso às aulas remotas e não sejam esquecidos pelas instituições”.
Com a pandemia, o Grêmio Estudantil do Colégio Estadual do Paraná (Gecep) perdeu integrantes, o que resultou em “uma maior desorganização e dificuldade em atender os alunos”, segundo Camila de Oliveira, representante do Gecep. A atual gestão deve ser prorrogada, pois a falta de recursos e informações para os alunos compromete uma votação online.
As transmissões das aulas são o principal motivo de reclamações. “Em algumas aulas no Google Meet os professores não aparecem, ou passam outra coisa”, diz Camila. Segundo ela, há também o problema de que “muitos professores conseguem dar o recado, mas os alunos não estão tendo acesso, o prazo é curto, há problemas na internet”. Com a quantidade de problemas, “os assuntos referentes ao movimento não estão em discussão”, afirma.
“O movimento estudantil é fundamental para resolver problemas mais simples, relacionados às aulas, mediando a relação entre aluno e professor. Mas o estudante, enquanto cidadão, tem pai, tem mãe. Ele também representa algo maior do que a sua luta”, aponta Cezar Bueno, doutor em Ciências Sociais pela PUCPR. Ele argumenta que grêmios estudantis e centros acadêmicos podem ultrapassar os seus interesses “meramente corporativos” e defender pautas de pessoas “que não têm condição de se organizar”. Para Bueno, o movimento estudantil tem papel fundamental na democracia, pois forma o estudante para a cidadania. “Uma instituição [de ensino] que não tem um movimento estudantil ativo, é uma instituição menos democrática”, ressalta.
Entre outubro e novembro do ano passado, o governo do Paraná realizou audiências públicas para a votação do modelo cívico-militar em 215 colégios estaduais de 117 municípios do estado. Até o momento, 206 instituições selecionadas aprovaram o modelo, que prevê três diretores em cada colégio – diretor-geral (indicado pela secretaria de Educação), diretor militar e um policial militar. O currículo institui aulas extras de português, matemática, educação financeira e valores éticos e constitucionais.
“Faltou a politização do movimento estudantil nesse debate. Ele não estava alí para dialogar, para estabelecer o conflito legítimo de ideias”, afirma Bueno, frisando a complexidade do problema da instituição do modelo cívico-militar e da ausência dos estudantes nessa discussão. “Nós precisamos de escolas militares ou de escolas democráticas?”, questiona.
O Colégio Estadual Senador Manoel Alencar Guimarães (Cesmag) é umas das instituições onde o modelo cívico-militar foi aprovado. Por conta da pandemia, o colégio está sem grêmio estudantil. A estudante do Cesmag e representante de turma Luiza Lass, que está no terceiro ano do Ensino Médio, conta que os estudantes receberam poucas informações sobre o novo modelo e apenas através de funcionários do colégio. “Como foi um assunto que chegou no colégio do nada, não teve muito tempo para ser discutido”, acrescenta Luiza.
“Não tem muito uma voz que lute pelas mudanças que precisamos. Acho que é o quê faz mais falta”, opina a estudante. Ela diz ter interesse em participar do grêmio estudantil, mas não acredita que haverá uma nova gestão neste ano. “Infelizmente, agora, provavelmente vai ser um ano perdido”.
5 anos das ocupações estudantis
Por conta da medida provisória instituída pelo governo federal sobre a reforma do Ensino Médio em setembro de 2016, diversas escolas do Paraná foram ocupadas por manifestantes contra a MP 746. As ocupações foram feitas como forma de protesto contra as possíveis mudanças, as principais propostas eram o aumento da carga horária de 800 para 1,4 mil horas anuais e a diminuição do conteúdo obrigatório, privilegiando cinco áreas: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.
Acompanhe a trajetória do movimento estudantil Ocupa Paraná.