Mortalidade infantil por desnutrição caiu 65,5% em 11 anos no Brasil

por Carolina Nassar
Mortalidade infantil por desnutrição caiu 65,5% em 11 anos no Brasil

Queda no número de mortalidade infantil por desnutrição é significativa, mas a atual crise da pandemia do Covid-19 pode mudar esse cenário

Por Carolina Nassar

As mortes por desnutrição proteico-calórica, caracterizada pelo consumo insuficiente de proteína, entre crianças menores de 5 anos caíram 65,5% entre os anos de 2007 e 2018 no Brasil, de acordo com dados do Datasus. Essa queda do percentual no Brasil é bom indicativo dentro do problema de que a desnutrição atingia, até o início da pandemia do Covid-19, 47 milhões de crianças no mundo. O cenário, porém, não é mais o mesmo, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que afirma que o número pode subir para 54 milhões de crianças desnutridas no primeiro ano de pandemia. 

O Portal Comunicare apurou que até 2018, o país vinha em uma queda gradual no número de casos de crianças mortas por desnutrição, caindo de 17,5% para 0,3% desde 2007. Entre os anos pesquisados, houve também certa tendência: em todos eles, a região com mais mortes foi o Nordeste, superando 48% de óbitos. A região também abriga o maior número de óbitos em relação à cor/raça: das 48% de crianças mortas na região, 29% eram pardas. A segunda região com mais mortes é o Norte, com 20%, e segue pelo Sudeste, com 17%. A região com menos mortes é o Sul, reduzido a 4,6% das mortes. A mortalidade avaliada pela cor/raça é maior entre as crianças pardas, que reúnem 48,5% das mortes. Em seguida, as brancas e indígenas, com 27,8% e 12% respectivamente.

Para a nutricionista Fernanda Maba, a desnutrição está ativamente ligada à distribuição de renda e situação econômica, e que a doença no Brasil teve uma queda tão significativa por uma série de fatores, a mais relevante sendo uma facilidade maior do acesso ao alimento. Principalmente no período de introdução alimentar da criança, que acontece dos seis meses aos dois anos de idade, há uma forte distribuição de fórmula infantil por parte da saúde pública e diversos trabalhos específicos para as pessoas de baixa renda. “Esse trabalho forte, não só da saúde pública, mas também da iniciativa privada, em forma de doações, também acaba alcançando a população menos favorecida em termos de localização”. 

No entanto, ela afirma que o cenário na pandemia do Covid-19 vai aumentar o índice de desnutrição infantil. “Tudo ficou comprometido: a transferência de recursos, e a distribuição desses recursos. Então, com certeza, lamentavelmente, vai ter alteração nesse período. Até porque não foram só os recursos públicos, mas tem famílias que não conseguiram estar atuando no mercado. Então também acabaram entrando, talvez não em uma desnutrição grave, mas deixaram de se alimentar adequadamente, o que futuramente pode levar a um quadro de desnutrição”.

Organizações internacionais também mostraram sua preocupação com o agravamento da desnutrição infantil no mundo devido a pandemia, como é o caso da Unicef. A agência da ONU chegou a conclusões sobre o assunto a partir de uma pesquisa feita pela revista médica “The Lancet”, publicada em 27 de julho, que faz um alerta sobre as consequências da atual crise na alimentação das crianças. “Passaram sete meses desde que foram relatados os primeiros casos de Covid-19 e é cada vez mais claro que as consequências da pandemia estão a prejudicar mais as crianças do que a própria doença”, afirmou a diretora-executiva da UNICEF em um comunicado, Henrietta Fore, a partir do resultado da pesquisa. “A pobreza e a insegurança alimentar aumentaram. Os serviços essenciais e as cadeias de abastecimento de alimentos foram interrompidos. Os preços dos alimentos dispararam. O resultado é que a qualidade dos regimes alimentares das crianças diminuiu e as taxas de desnutrição vão aumentar”, acrescentou. 

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