Microempreendedoras sofrem consequências da pandemia em Curitiba

por Mariana Alves de Oliveira
Microempreendedoras sofrem consequências da pandemia em Curitiba

Curitiba conta com mais de 139.677 mil de empreendedores e, muitos, não receberam o auxílio governamental

Por Giovana J Bordini, Mariana Alves e Mariana Toneti| Foto: Pixabay/ Firm Bee

O empreendedorismo na capital paranaense sofreu dezenas de impactos com a pandemia; dificuldade para concessão de créditos, crise hídrica, falta de clientes  e empecilhos econômicos são exemplos do cotidiano dos micro empresários. Entre os meses de março e julho, apenas 21% de 54% das empresas do país que buscaram créditos conseguiram o benefício e, em consequência disso, os empresários tiveram que se readaptar com o cenário atual da economia nacional. Além disso, 64% dos pequenos negócios estaduais passaram por mudanças devido à crise, exigindo inovação dos empresários.

O Brasil é considerado um dos países mais empreendedores do mundo, segundo o Portal do Empreendedor. Só no estado do Paraná, são 658.383 mil empresas optantes no sistema de recolhimento em valores fixos mensais dos tributos abrangidos pelo Simples Nacional, tributação destinada ao Microempreendedor Individual. A principal característica utilizada para alavancar as vendas é o ambiente virtual, acarretando cerca de 31% de novos vendedores para a plataforma digital. 

Estima-se que mais de 365 mil microempreendedores paranaenses requisitaram o auxílio e cerca de 73 mil empresas não receberam, de acordo com a SEBRAE. A outra metade optou por não pedir o crédito cedido pelo governo. 

Empresária cogitou fechamento durante a crise

A empreendedora Fabíola Nespolo, uma das sócias-proprietárias da Rua Pagu (@ruapagu), espaço gastronômico localizado no bairro Juvevê, conta que, desde que começaram a idealizar o espaço, sempre tiveram dificuldade na obtenção de crédito e a pandemia intensificou o problema. Após seis meses de espera, o estabelecimento receberá um auxílio da Fomento Paraná, já que o faturamento do local reduziu em aproximadamente 80%, em alguns momentos oscilando em 90%, desde abril. A Rua Pagu também tentou buscar amparo monetário do Pronampe e da empresa privada que possuem conta, mas as tentativas não obtiveram sucesso

Publicações do cardápio. | Foto: Divulgação/ @ruapagu

As proprietárias cogitaram em vender o estabelecimento em agosto, mas os clientes as fizeram desistir da ideia, no entanto, fecharam a loja franqueada do Sirene Fish & Chips, por questões econômicas.”Em um momento pandêmico como o que estamos vivendo, e muito novo para todos, o empreendedor acaba se tornando o faz tudo dentro de uma empresa”, afirma Fabíola.

Uma das estratégias que estão utilizando para atrair o público são cardápios com refeições mais caseiras e nostálgicas, uma “culinária de afeto”, para atraírem consumidores. Recentemente, fizeram parcerias com chefs de cozinha, na qual compartilham o ambiente da Pagu, as despesas e as receitas, assim trazendo novas possibilidades para os clientes. Outra interferência é a questão climática e a escassez de água no estado que afetam o estabelecimento diretamente. Mas, algo que Fabíola aponta como ainda mais prejudicial, é o descaso governamental com toda a situação ainda em vigor. 

A Rua Pagu participa do movimento de bares e restaurantes “Fechados pela Vida”,  o qual pequenos comércios de Curitiba buscam apoio do governo para sobreviver à pandemia. Por necessidade, reabriram o local, com todas as medidas essenciais para a situação e , em um primeiro momento, com menos de 10% da capacidade do público previsto. 

Apesar das diversas dificuldades durante este ano, as  proprietárias pretendem seguir com a Rua Pagu. “Acredito que, se nós conseguirmos superar esse momento, teremos mais para frente o reconhecimento que a gente tanto precisa ali na frente quando as coisas se estabilizarem.” afirma Nespolo. O conceito proposto pelo empreendimento aberto desde 2018 é muito mais cultural do que gastronômico. O atual objetivo é poder proporcionar a experiência com os clientes mesmo de forma distante.

Dicas do economista

Para o economista Luiz Meira, os empreendedores no contexto atual da pandemia são extremamente importantes, já que são fundamentais para que a economia não fique estagnada e consiga ser retomada eventualmente. Quanto a  presença de novos empreendedores, o economista afirma que eles também são essenciais neste cenário, pois acabam suprindo, de maneira equivalentemente, quem acabou fechando as portas.

Para quem quer empreender, o momento atual é excelente para começar um negócio, já que, de acordo com o economista, são nos momentos de crise em que necessidades surgem com novas oportunidades, seja em qualquer área de consumo e venda, como e-commerce e home-office. “O mundo viveu em 5 ou 6 meses o que demoraria 5 ou 6 anos para acontecer”, afirma Meira. 

A criatividade foi eleita por Luiz como um elemento muito importante para quem quer fazer algo novo, principalmente na situação atual. “O empreendedor tem que estudar a área em que quer atuar, combinar seu capital financeiro e suas habilidades para aquele ramo para que possa efetivamente empreender”, finaliza o economista.

Empreendedorismo também pode ser a solução  

O empreendedorismo foi a solução encontrada por dezenas de pessoas que tiveram uma diminuição das rendas mensais desde o paralisamento de muitas atividade devido ao coronavírus.

A empreendedora Amanda Caetano viu na pandemia o momento exato para abrir a loja de roupa online Bloom Store (@bloom.cwb), com suas duas amigas. A lojista, que já comemora um mês de criação, conta que conheceu o empreendedorismo por plataformas digitais como, por exemplo, a página Moving Girls, que disponibiliza cursos de empreendedorismo feminino online. A principal estratégia para o negócio é produzir conteúdo de qualidade, além de focar na propaganda da loja, utilizando a Fashion Delivery – uma nova forma de varejismo envolvendo o delivery de roupas. Entretanto, não está utilizando nenhum auxílio governamental.

Catálogo de roupas. | Foto: Divulgação/ @bloom.cwb

Já a microempreendedora Julia Ernandes, que também optou por não usufruir desse auxílio, é proprietária da loja online Dona Quitú (@dona_quitu), a qual foi idealizada em junho por ela e sua mãe. A loja de bolos e tortas conta com uma produção maior de propaganda contendo imagens e vídeos, algo que, para as empreendedoras, chama atenção do público.

Demonstração dos ingredientes e sabores. | Foto: Divulgação/ @dona_quitu

A grande maioria dos empresários locais afirmam que notaram uma diminuição da receita mensal na pandemia, visto que há dezenas de dificuldades. A empresária Amanda cita que os maiores empecilhos para a loja online são encontrar fornecedores que atendam todas as necessidades dos clientes, principalmente em tamanhos, e a situação dos Correios. Apesar disso, o desejo de empreender continuará depois da pandemia. “Nós entramos de cabeça num meio que não sabíamos o que esperar e, de repente, amamos. Então, sim, queremos empreender e ver nosso negócio crescer”, afirma Amanda Caetano. 

Já para Julia, a dificuldade está presente com o alto preço dos insumos para a confecção caseira e embalagens. A dupla de mãe e filha não tem certeza se vai continuar com o projeto após a pandemia, já que a loja de doces nasceu pela grande quantidade de horas disponíveis que a Julia está tendo pela paralisação das aulas presenciais. “Acreditamos que criamos muito apreço pela loja, tanto pelo fato dela ter sido uma distração, quanto pela sua importância para fortalecer a nossa relação. Acho difícil que nossa aventura empresarial acabe após a pandemia”, afirma a proprietária. 

 

[box] Para os Microempreendedores Individuais (MEI), a SEBRAE criou uma página específica no portal para atualizar todos os pequenos empresários com as medidas de auxílio do governo. Além disso, a prorrogação do auxílio será até dezembro, mas sem previsão de abertura para novos beneficiários, apenas para quem já foi aprovado, porém com metade do valor anteriormente ofertado.[/box]

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