Mercado de HQs ganha força com realização de eventos em Curitiba

Bienal de Quadrinhos realizada no início do mês de setembro se tornou espaço nobre para o lançamento de novas histórias
Por Fernanda Xavier e Gabriel Domingos
Tradicional na produção de histórias em quadrinhos a cidade de Curitiba tem organizado grandes eventos para exposição de trabalhos relacionados a indústria da cultura pop como a Bienal de Quadrinhos, o Geek City e o Shinobi Spiriti. A segunda edição da Bienal de Quadrinhos de Curitiba,aconteceu no feriado de sete de setembro, e o público teve a oportunidade de conhecer trabalhos de artistas locais e nacionais.
A Bienal de quadrinhos teve sua primeira edição com esse nome, no ano de 2016, quando a Gibiteca de Curitiba contabilizou o lançamento de 56 quadrinhos produzidos por artistas de Curitiba. Anos antes, o evento era chamado de Gibicom.
O Coordenador da Gibiteca e um dos organizadores da Bienal, Fulvio Pacheco,conta que a expectativa para 2018 segue alta em relação a novos lançamentos “os artistas, principalmente os locais, produzem muito para a Bienal por ser o espaço de maior saída dos seus produtos”. Os lançamentos dos artistas curitibanos são contabilizados ao final de cada ano.
Pacheco também destaca que a produção nacional e curitibana de quadrinhos trata de temas vanguardistas, incluindo a abordagem crítica de questões sociais. Ele destaca que são poucas as publicações locais que tem como personagem principal um super herói, tradicional nos Estados Unidos.
Formação de novos artistas
A Gibiteca é tradicionalmente um espaço de formação de quadrinistas em Curitiba, em todos os seus 35 anos de história são ofertados cursos de roteiro e desenho. Pacheco conta que nos últimos anos o número de cursos tem aumentado e para o segundo semestre de 2018 há uma inovação, o curso de arte digital, foi introduzido entre os 15 cursos oferecidos.
O quadrinista Antonio Eder um dos criadores do personagem Gralha e dono do estúdio de animação Dogzilla comemora o atual momento dos quadrinhos em Curitiba. “Eu venho de uma época em que se lançava um quadrinho por ano e se saíssem dois era festa. Então hoje com essa grande produção e a participação em eventos nós quadrinistas mais antigos ficamos muito felizes”.
Eder, ressalta que o artista também precisa se manter atualizado ao mercado e as inovações da área além de ter espírito empreendedor para lidar com possíveis dificuldades de mercado.
[slideshow_deploy id=’27976’]
Produção e consumo de história em quadrinho (HQs)
Um dos produtores na atual geração de quadrinistas, o jornalista Robson Vilalba explica detalhes do trabalhoso processo de produção de uma história. Segundo ele, o quadrinho começa a ser produzido muitos antes do roteiro “no momento em que o escritor inicia a sua pesquisa e no meu caso coleta de dados com fontes é que se inicia o trabalho”.
Ainda para o jornalista é muito importante que os eventos culturais tenham ampla divulgação para que o público possa ser atraído a participar e assim colaborar com a cultura pop curitibana. Segundo Vilalba, a expressão cultural nesses eventos vai além da compra e venda de produtos pois há também oficinas, debates e palestras que incentivam a cultura e promovem discussões sobre questões importantes da atualidade.
O consumidor de “HQs” Marcio Garcia, que é pedagogo, diz que começou a gostar dos quadrinhos desde o ano de 1989. Ele comenta que apesar da variedade de temas ele lê de tudo um pouco: “sou fã de Homem Aranha, mas acompanho muito os autores aqui de Curitiba”.
O pedagogo que coleciona e já possui mais de dois mil títulos, participa e ajuda a organizar eventos sobre o assunto e comenta que sempre acaba influenciando as pessoas, indicando os quadrinhos, como sua família e principalmente seus alunos.
Quadrinistas de outros estados participam da Bienal
O editor chefe das revistas de quadrinho “Calafrio” e “Mestres do terror”, Daniel Sacks, participou e avaliou muito bem a edição deste ano.
[slideshow_deploy id=’28591’]
O autor e desenhista de quadrinhos Gustavo Borges, já participa há três anos da Bienal de quadrinhos, desde o tempo que era Gibicom, e comenta que é muito bacana ver que cada vez mais têm pessoas produzindo quadrinhos. Neste ano lançou durante a Bienal dois trabalhos em conjunto com outros artistas. As obras se chamam “Escolhas” e “Até o fim”.
Em relação ao processo de produção ele comenta que é muito trabalho em equipe: “o grupo inteiro conversa sobre a ideia de como será o livro, os roteiristas escreverem as histórias e compartilham com o restante pedindo opinião e quando começamos a desenhar vamos conversando para ver se essa é realmente a melhor forma de ilustrar o que queremos passar”.
O quadrinista diz que todo o processo para uma novela gráfica, que é uma história em quadrinhos grande em formato de livro, dura em torno de cinco meses.
A Bienal recebeu artistas de outros estados, como o quadrinista e Desing Gráfico Gleisson Cipriano que é da cidade de Franca- São Paulo e está participando pela primeira vez. Ele fez faculdade na cidade de Bauru, e foi quando participou de um desafio universitário no ano de 2016 que tinha como proposta que os artistas pintassem um desenho à tinta por dia, durante o mês de Outubro.
Durante sua participação resgatou um personagem que criou no começo da faculdade. “Com o apoio dos amigos, resolvi expandir esse projeto e acabei transformando o mesmo no meu trabalho de conclusão de curso, transformando-o em um artbook. Então depois do desafio estudei mais e fiz mais ilustrações sem a correria de um por dia”.
Cipriano conta que quando chegou o momento durante a produção do seu artbook de fazer o financiamento coletivo, ele achou interessante abordar uma questão social. Com isso, foi atrás de ONGs de animais abandonados em Bauru. “A partir disso passei a doar 30% do valor da venda dos artbooks para essas instituições.
Bienal de quadrinhos de Curitiba reúne 30 mil pessoas
Segundo informações divulgadas no site da Fundação Cultural de Curitiba, que apoia o evento, durante o feriado de Sete de Setembro a bienal de quadrinhos conseguiu atender 30 mil pessoas.
Durante esses dias, o evento atraiu amantes dos quadrinhos de todas as gerações. Um exemplo é a estudante, de 12 anos, Morena Rosa Castro Gomes que gosta de quadrinhos desde que aprendeu a ler. Ela levou até mesmo as amigas que não são muito fãs desse tipo de literatura, para curtir o evento. “Eu gosto mais de ler Mangá, os desenhos são muito complexos, e isso que mais me chama atenção. Estou gostando bastante do evento, mas preferi o do ano retrasado, por conta do menor número de pessoas que facilitava a locomoção”.
Porém, o cenário dos quadrinhos não agrada somente os jovens, um exemplo é o professor de educação física Eduardo Carelli, que desde os cinco anos de idade é fã de quadrinhos e hoje passa esse costumes para seu filho Leonardo, de sete anos. “É uma ótima oportunidade para revermos gibis antigos, além de poder trazer meu filho para conhecer”. Ele conta que foi seu primo que o influenciou: “Ele tinha coleção de gibi.Sempre lia junto com ele, e acabei pegando carisma pela arte”.
Elizabete Schier, tem uma história um pouco diferente. Ela começou a gostar dos quadrinhos por causa da igreja que frequentava quando criança: “Na igreja eu lia o jóias de cristo e nunca mais parei de ler”.
[slideshow_deploy id=’28538’]
Bienal além dos quadrinhos
Durante o evento foram realizadas rodas de leitura, vendas de quadrinhos e até mesmo pinturas de grafite nas paredes do Portão Cultural no Museu Municipal de Arte (Muma). O grafiteiro Valdecir Ferreira de Moraes, mais conhecido como Valdecimples, começou com a arte no ano de 1996 e já está grafitando em Curitiba há 22 anos. Ele conta que o convite para participar e grafitar na Bienal foi feito pelos curadores. Valdecimples conta que procurou trabalhar uma temática mais curitibana, trazendo personagens nacionais como o prefeito Rafael Greca, o governador Beto Richa e o presidente da república Michel Temer.