Maio é o mês da conscientização sobre importância de cuidados com saúde mental materna

por Mariana Aquino
Maio é o mês da conscientização sobre importância de cuidados com saúde mental materna

OMS lançou neste ano diretrizes de cuidados com a mulher no pós-parto, recomendações que também fazem parte da Campanha Maio Furta-Cor

Por Isadora Gomes de Abreu e Mariana Aquino | Foto: Pixabay

A Organização Mundial da Saúde divulgou neste ano, pela primeira vez, diretrizes de cuidados com a saúde mental para mulheres no puerpério, com o intuito de promover o bem estar materno e, consequentemente, garantir a sobrevivência do recém-nascido. As primeiras seis semanas após o parto são consideradas as mais críticas para as mães, bebês e familiares. Para chamar a sociedade a refletir sobre a saúde mental materna, maio foi escolhido como o mês de conscientização sobre esse assunto. 

A preocupação com a saúde mental materna decorre de um aumento no número de mulheres com depressão pós-parto, caracterizada por sintomas físicos e emocionais. Esse tipo de doença não tem uma causa única, mas algumas condições podem servir de alerta, como questões hormonais e ambientais, que são característicos, por exemplo, de mulheres que sofreram abusos doméstico ou emocional.

Mulheres que deram à luz durante a pandemia também demonstram propensão maior a desenvolver depressão pós-parto, segundo pesquisa realizada pela Universidade de Michigan em 2021. Uma em cada cinco mulheres teve sintomas depressivos, valor quase três vezes maior do que antes da pandemia da Covid-19. Entre as mães que estavam mais preocupadas em contrair o vírus, 71% das entrevistadas desenvolveram depressão pós-parto.

A enfermeira obstetra Adelita Gonzalez relata que o sentimento de angústia e insegurança aumentou entre as mulheres por conta do cenário da pandemia, principalmente entre as que tiveram uma gravidez não planejada.  “Entre as mulheres com as quais tive contato, muitas estavam com medo de procurar o ambiente hospitalar por receio de contrair o vírus e também pela restrição de acompanhantes no momento do parto.”

Além da insegurança que o momento da pandemia trouxe para os ambientes hospitalares, Gonzalez também ressalta a falta de preparo das equipes médicas e de enfermagem em relação ao cuidado com a saúde mental. “O foco acaba ficando muito delimitado nos preparos mais técnicos e pontuais, em um momento em que a mulher merece todo o apoio emocional.”

Violência obstétrica

Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) publicada recentemente aponta que os sintomas de depressão pós-parto são mais comuns em mulheres que sofreram violência obstétrica (12,5%). A possibilidade de desenvolver sintomas sugestivos da doença aumenta 2,7 vezes no caso de mulheres que passaram por episiotomia sem consentimento durante o parto. 

A escritora Déa Aguiar (35) deu à luz o seu terceiro filho em 2020 e relata que foi sua rede de apoio quem a ajudou a perceber seus primeiros sintomas e procurar ajuda psicológica. A violência obstétrica e o abuso psicológico dentro dos hospitais também foi uma dificuldade enfrentada por Déa Aguiar. Segundo ela, a experiência do puerpério foi traumática. Ela relata ter sofrido abuso psicológico pela equipe médica. “Ouvi de médicos que teria que ser encaminhada para outro hospital, pois ali não teriam uma agulha que fosse funcionar para anestesia, por conta do meu peso”, relata.

Simone Lemanczyk (45) é psicóloga e relembra a falta de empatia por parte da equipe médica e de sua família no parto de seu filho 7 anos atrás. “As pessoas não dão o devido valor à depressão pós-parto e muitas vezes até questionam ser uma besteira”, diz Lemanczyk. “O que mais me magoou foi a falta da rede de apoio.” A psicóloga diz que a época do puerpério foi muito cansativa e sobrecarregada emocionalmente e que se sente muito culpada ainda hoje. “Quando eu tive ele, sentia que era uma responsabilidade totalmente minha, que eu teria que ser onipotente, e hoje vejo que é muita coisa para uma única pessoa dar conta”, afirma. 

Maio Furta-Cor

A campanha Maio Furta-Cor nasceu no Paraná com o intuito de sensibilizar a sociedade em relação à saúde mental materna. A psiquiatra Patrícia Piper é uma das idealizadoras do projeto e ressalta a importância de falar sobre a depressão pós-parto e da sobrecarga das mulheres no período do puerpério na pandemia. Instabilidade de empregos, redes de ensino fechadas e desestabilização das redes de apoio foram alguns dos problemas enfrentados por esse grupo. “O intuito do Maio Furta-Cor é gerar sensibilização no assunto da maternidade. Falar sobre o que é ser mãe e saúde mental, além da patologia”, diz a psiquiatra.

Piper relata que a campanha também procura viabilizar alguns direitos das mulheres, como por exemplo o da licença maternidade e a divisão de tarefas. A garantia da saúde mental é também um dever do estado e o projeto possibilita sensibilizar políticas públicas, por meio de projeto de lei, já aprovado no estado do Paraná.

Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, quase metade das mulheres que têm filhos perdem o emprego nos 24 meses seguintes à licença maternidade. A maior parte desses desligamentos é de iniciativa do empregador e sem motivo justo. Assegurada por lei desde 1943, a licença maternidade atendeu cerca de 53 mil brasileiras em 2018, pelos dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia. 

“Com certeza, tornar-se mãe dentro do patriarcado é lidar com opressão e julgamentos”, diz Patrícia Piper. “É necessário movimentar essa estrutura que desvaloriza a vida da mãe, através de políticas que garantam leis que favoreçam o direito das mulheres.”

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