Leitura em transporte público auxilia ansiedade de curitibanos

por Maria Gabriele Fachini
Leitura em transporte público auxilia ansiedade de curitibanos

Psicóloga afirma que o uso de um hábito produtivo como distração é uma boa forma de cooperar com a ansiedade dentro de ônibus

Por Letícia Seixas, Manoela Gouvea, Maria Gabriele Fachini e Nathália Borba

Os preços elevados do mercado literário e a baixa adesão aos hábitos de leitura em Curitiba e no Paraná nem sempre se refletem dentro do transporte coletivo. O tempo de espera entre um ônibus e outro e os longos trajetos percorridos pelos usuários de ônibus da cidade têm incentivado hábitos de leitura, descritos pelas pessoas ouvidas pela reportagem como  uma forma de lidar com a ansiedade e estresse.

Luísa Franco, estudante de Direito, passa mais de duas horas por dia dentro do ônibus, contabilizando idas ao estágio e à faculdade. Carrega consigo um livro todos os dias, resultado do hábito de leitura estimulado desde a sua infância. Ela faz da leitura uma ferramenta para lidar com a ansiedade da rotina. “Sou uma pessoa muito ansiosa, e para me entreter e me acalmar, sempre recorro à leitura.”

“Acredito que as pessoas acabam estranhando o meu hábito dentro do ônibus, não pelo ato de ler em si, mas por causa das minhas expressões”, conta sobre as situações inusitadas que passa por ler em transporte público. “Eu gosto muito de ler as expressões faciais dos personagens e tentar interpretá-las imitando eu mesma, então quem me vê lendo acaba vendo uma pessoa fazendo diversas expressões faciais estranhas enquanto olha um livro”.

Matheus é estudante e passa cerca de uma hora por dia em ônibus (Foto: Manoela Gouvea)

O estudante Matheus Faret é outro exemplo de quem usa a leitura como distração no transporte público. Por fazer viagens extensas, tem o hábito de ler como distração dentro de ônibus lotados diariamente.

Mesmo com o hábito de ler em casa, o jovem afirma que não seria capaz de manter o mesmo ritmo de leitura sem desfrutar do tempo no ônibus para colocar as histórias em dia. Matheus costuma carregar livros emprestados da Biblioteca Pública, mas também utiliza e-readers, como o Kindle. “Às vezes até penso se daria certo entregar o Kindle, em vez do celular”, brinca sobre a segurança dos livros digitais no transporte público.

A ansiedade e desconforto com o transporte público lotado são motivos que levam curitibanos a ler durante a viagem (Foto: Maria Gabriele Fachini)

 

A advogada Juliana Marques conta que perdeu o hábito de ler durante a faculdade, e seus momentos no transporte público se tornaram uma oportunidade para retomá-lo. “Raramente consigo ler em outros momentos durante o dia, então é como se já deixasse reservado que meu momento de leitura será nos deslocamentos de ônibus”.

Juliana diz achar os atrasos de ônibus muito mais estressantes quando não carrega um livro consigo, além de se sentir mais ansiosa durante as viagens. Como costuma passar cerca de meia hora por dia utilizando transporte público, a moradora de Curitiba prefere livros e-readers como forma de evitar o celular, para se desconectar do meio digital e também pela segurança.

“Não me sinto muito segura em mexer no celular no ônibus. Também é o momento em que consigo me desligar totalmente dos eletrônicos e das redes sociais”, afirma.

Para Maria Marta Ferreira, psicóloga e pós-graduada em Neurociência, embora a ansiedade faça parte da natureza humana, ela pode atingir outros níveis, se tornando inclusive patológica. Assim, em circunstâncias que envolvem expectativas e esperas, podemos demonstrar um estado maior de desconforto. 

“É importante estar no presente […]. E nesse sentido, uma das grandes distrações, sem dúvidas, é o hábito da leitura. Carregar um livro conosco é uma companhia que favorece nossa ansiedade por saber que teremos algo físico e palpável para estudar nesses momentos de espera”, explica.

A Prefeitura de Curitiba reforça a relação entre transporte público e leitura há cerca de uma década, com a instalação das chamadas “Tubotecas”. Tratam-se de estantes repletas de livros que estão presentes nas estações-tudo da cidade.

São disponibilizados mais de dois mil livros por semana, nas mais de 10 estantes espalhadas pelos pontos de ônibus. Diariamente, 40 exemplares são colocados nas prateleiras em horários alternados.

O projeto da Fundação Cultural de Curitiba incentiva o hábito de leitura no transporte coletivo e completa 10 anos em 2023.

Mito ou verdade: ler no ônibus faz mal para a vista?

Quando falamos do hábito de leitura em veículos em movimento, associamos algumas situações como enjoos, dor de cabeça e até problemas de visão à prática. Mas, na verdade, muitos mitos sobre o assunto circulam entre gerações e são difundidos pelas redes sociais.

A realidade é que ler dentro do ônibus ou qualquer outro veículo em movimento não faz mal para a visão. Para o veículo Metrópoles, a oftalmologista Lara Picanço explica que o hábito pode trazer náuseas e, por isso, não é recomendável para algumas pessoas.

“Quando os olhos não têm estabilidade suficiente para fazer a leitura, precisam compensar o movimento do veículo para focar na imagem, o que pode gerar cansaço, dor de cabeça e dor nos olhos”, relatou sobre a fadiga ocular.

A crença de que a leitura em movimento faz mal à retina também é equivocada, e trata-se apenas de informações falsas difundidas. Portanto, é possível que pessoas de todas as idades fomentem o hábito de ler durante a viagem no transporte público como forma de distração ou redução de estresse, sem eventuais problemas de saúde.

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