Jovens se sentem pouco representados na política do Paraná

por Fatos
Jovens se sentem pouco representados na política do Paraná

Organização dos jovens se intensificou nos últimos cinco anos, mas não alcançou representatividade expressiva

Por Andrey Ribeiro, Laís da Rosa, Rafaelly Kudla, Talita Souza, Yuri Bascopé, Larissa Bertazzo, Helena Sbrissia, Mariana Castilho e Marina Darie

Durante as manifestações de 2013, os gritos da juventude não eram só por R$ 0,20, segundo Larissa Rahmeier, representante do movimento Insurgência do PSOL e acadêmica de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Eles – que lutavam por mais do que o aumento da passagem do ônibus – não se sentiam representados pelos políticos: a maioria homens, com mais de 40 anos, brancos e heterossexuais. Os adolescentes e jovens adultos que falavam “não” à política durante seus atos nas passeatas pelo Brasil não desejavam negá-la, mas sim contestar o grande poder que poucas pessoas possuem nela.  

Na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), apenas 14,3% dos deputados estaduais têm até 35 anos. Para Larissa, este dado representa um sistema eleitoral antidemocrático. Isso se dá principalmente porque o nível da participação dos jovens na política vem aumentando – de 2013 a 2016, o número de votantes entre 16 e 34 anos subiu de 28,34% para 36,36% –  o que não é refletido nos Poderes Executivo e Legislativo, de acordo com a militante.

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Ela acredita que o aumento do desejo de atuar na política nasce à partir do acesso à informação, que foi facilitado pela popularização das redes sociais. “As meninas que entram na faculdade já chegam com um discurso feminista, por exemplo, o que era muito raro na minha época”, comenta Larissa. Esta politização dos jovens foi uma peça-chave para a ocupação das escolas em 2016, feita por estudantes secundaristas, contra a Reforma do Ensino Médio, proposta pelo Presidente Michel Temer.

A união da juventude, como foi feita em 2016, significa uma reivindicação de espaço dos adolescentes, segundo Giovanna Silveira, estudante de Publicidade e Propaganda da PUCPR e integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

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Além da ocupação, o diretor de Cultura do grêmio estudantil do Instituto Federal do Paraná (IFPR), Leonardo Andreiko, entende que ter um posicionamento político firme é ideal. Para isso, estar atento ao que acontece ao seu redor, tomar cuidado com o tipo de informação consumida no dia a dia e tem conhecimento geral sobre o mundo são questões primordiais. Com essas dicas, o aluno que está em seu terceiro ano de estudo, sonha: “Espero que o distanciamento da juventude em relação à política, deixe de acontecer, espero que exista mais conscientização”.

Dentro dos partidos políticos, há um movimento de abertura para pessoas mais jovens. O JPSDB (segmento do PSDB para pessoas com até 29 anos), possui aproximadamente 450 filiados, conforme o presidente da ala, Lucas Miguel. “O partido sempre deu oportunidades e voz para a juventude e aqui em Curitiba não é diferente”. Ele acredita que o número de participantes se manteve fixo nos últimos anos, mas a quantidade de pessoas que ingressam é maior do que as que desistem de participar. Os interessados em fazer parte dos cargos de liderança, contudo, é menor, pois é necessário se envolver em um processo de eleições no diretório municipal.

O PSD é outro partido que insere jovens em seu processo político. Confira o que o presidente do segmento da juventude do partido, Paulo Melo, tem a dizer sobre isso:

Flávia Babireski é doutoranda em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e acredita que  a abordagem temática para adolescentes deve ser feita de forma diferente do que com outras faixas etárias. “Nos jovens, ainda há uma maior esperança por mudanças. Os temas de interesse são voltados à construção da vida do indivíduo, como formação profissional e emprego, pois para eles,  com estes, é possível garantir acesso aos demais serviços, como saúde e educação.”

A especialista também defende que grêmios estudantis são maneiras excelentes de iniciar um processo de interesse político, por serem um “local de formação e captação de futuras lideranças”.

A política no sangue

No cenário político do Paraná não é incomum que um novo candidato a cargo público carrega um sobrenome conhecido ou feições familiares. Segundo dados coletados pelo Portal Comunicare, 18 dos 54 dos deputados estaduais têm algum familiar atuante na política. Desse número, 44,4% têm 35 anos ou menos.

Para o cientista político Paulo Ferracioli, essas estatísticas podem ser um problema. “A principal consequência é uma falta de renovação: ao invés de saírem as pessoas mais velhas e entrarem as mais novas, esses novos políticos são parentes daqueles que estão saindo. Não têm pessoas totalmente estranhas para a política, em sua maioria”, diz.

Para o cientista político, a parte de aprovação de projetos também acaba sendo facilitada para essas pessoas. O capital político que o pai ou avô trazem, por exemplo, por ser mais relevante, oferece mais facilidade para aprovação, o que não é algo ruim, necessariamente. “As preocupações não deixam de ser relevantes por causa desse fator. Ainda há muitos projetos feitos em cima de pautas sobre meio-ambiente, direitos individuais, mobilidade urbana, porque são questões que a juventude presta muita atenção”.

O deputado estadual do PSDB Evandro Júnior foi eleito vereador em 2008, quando tinha apenas 18 anos, e conta que sempre procurou ter uma atuação muito transparente, principalmente com abordagens feitas por meio das redes sociais. Entre suas propostas políticas, destacam-se as ações voltadas ao esporte, que, segundo o deputado, serve como agente transformador para os jovens.

“Desde criança, eu acompanhava o trabalho que meu avô desenvolvia em defesa pelo norte do Paraná. A política sempre foi um objetivo de vida para mim porque percebia que era possível fazer o bem para todos. O fato de ele ter desempenhado um trabalho em defesa do Paraná, facilitou assim o meu ingresso na política, para que o trabalho desenvolvido por ele também pudesse ter continuidade”, complementa o deputado.

Evandro finaliza dando enfoque na importância do papel do jovem na política – que, para ele, rege todas as decisões que influenciam a vida em um parâmetro geral. Para ele, deve haver a consciência da responsabilidade e participar ativamente de debates – principalmente os que envolvem os principais problemas brasileiros – e também votando de forma consciente.

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