Jovens gays assassinados no Paraná podem ter sido vítimas de crimes de ódio

ONG de defesa dos direitos da comunidade LGBT+ acompanha investigações de pelo menos quatro mortes recentes
Por Julia Barossi e Maria Luísa Cordeiro
A Policia Civil do Paraná está investigando o assassinato de dois homens gays em Curitiba. As semelhanças entre os casos são notáveis: ambos eram trabalhadores da área da saúde; foram encontrados de mãos amarradas e com sinais de sufocamento; moravam sozinhos na capital e foram mortos na mesma semana. De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, as investigações ainda estão em andamento e, por isso, não é possível confirmar a relação entre os casos. Os investigadores alegam que neste momento a divulgação de detalhes atrapalharia as investigações.
David Levisio (30) era formado em enfermagem e morava em Curitiba há poucos meses. Ele foi encontrado em seu apartamento no dia 30 de abril, três dias após o desaparecimento. Marcos Vinício Bozzana da Fonseca (25) veio de Mato Grosso do Sul para cursar medicina na PUCPR em 2017. Foi encontrado no dia 5 de maio também em casa. Pouco antes de morrerem, os dois jovens marcaram encontros por meio do mesmo aplicativo de relacionamento da comunidade LGBTI+.
Outro caso semelhante foi o de Robson Paim (36), professor universitário. Ele foi encontrado morto em casa, na cidade de Abelardo Luz (SC), e teve seu carro roubado provavelmente pelo assassino. O veículo foi encontrado em Almirante Tamandaré, na região metropolitana de Curitiba, dias depois. O caso está sendo investigado como um roubo seguido de morte.
No mesmo período, foi encontrado um corpo carbonizado na zona rural de São João do Triunfo, na região dos Campos Gerais do Paraná. A vítima era Lindolfo Kosmaski (25), professor e ativista ligado ao MST, que estava desaparecido desde o dia 30 de abril. Duzentas pessoas participaram de um ato em protesto buscando justiça contra o assassinato do professor, no dia 8 de maio. Lindolfo começou a lecionar na Rede Pública Estadual de Educação neste ano. De acordo com Toni Reis, diretor presidente da ONG Grupo Dignidade, esse caso tem três suspeitos presos, com fortes indícios de que a causa seja LGBTfobia.
Os quatro casos recentes do Paraná parecem ter vinculação com crimes de ódio. Para Reis, há traços de violência que levam a considerar a possibilidade de um comportamento LGBTfóbico. Na maioria dos casos em investigação, alguns indícios estariam presentes em conversas que foram feitas por aplicativos e mídias sociais.
“Acompanhamos todos os 312 assassinatos no Paraná e o que temos percebido é que, na pandemia, o número de casos tem aumentado, principalmente por discurso de ódio por parte de crenças religiosas e de extremistas políticos”, afirma. “Esperamos que nos próximos dias os casos sejam solucionados com todo o processo legal para prender os assassinos.”
Segundo o banco de dados do Grupo Gay da Bahia, houve mais de 300 assassinatos de LGBTI+ desde 1975 no Paraná. Em decorrência do número, um manual para evitar a violência LGBTIfóbica foi divulgado pela Aliança Nacional LGBTI+. Algumas dicas como não levar para casa desconhecidos mal intencionados e andar com vidro fechado no carro para evitar abordagens inesperadas são dicas úteis que podem evitar algumas tragédias.
Confira as orientações do manual para evitar a violência LGBTIfóbica, divulgado pela Aliança Nacional LGBTI+.
- Não ande sozinho
- Não reaja à ofensa verbal ou esbarrões, nesses casos procure uma autoridade policial e denuncie
- Se você ver grupos se aproximando, não deixe eles te abordarem, fique perto de outras pessoas ou saia do local.
- Tome cuidado com falsos gays ou garotos de programa
- Não confie no anonimato dos aplicativos: investigue sobre a pessoa, peça uma foto do rosto, comunique seus amigos sobre os encontros.
- Caso você perceba que está em situação de risco, corra para um local movimentado e iluminado, grite alto por socorro.
- Tome cuidado ao andar de carro: prefira andar de vidros fechados, varie rotas e horários.
- Não leve desconhecidos para sua casa. Prefira encontros em lugares públicos ou com câmeras de segurança. Se acontecer de levar para casa, não o/a esconda do porteiro ou de vizinhos.
- Não aceite drogas e bebidas de estranhos/as pois podem conter drogas. Caso você beba em abundância, avise seus amigos e parentes e não pegue carona de desconhecidos.
- Se você for vítima de alguma violência e não conseguir fugir, lembre-se de proteger órgãos vitais e a cabeça.
- Em caso de atividade suspeita, denuncie na Central Nacional de Denúncias da Aliança Nacional LGBTI+ ou em delegacias da sua cidade.