Isolamento social intensifica crises de ansiedade e depressão para grupo de risco

por Brunna Gabardo Roth
Isolamento social intensifica crises de ansiedade e depressão para grupo de risco

Cerca de 10,8% da população curitibana tem mais de 60 anos. Capital paranaense registra média de pacientes internados com 59,5 anos.

Por Brunna Gabardo e Sabrina Ramos

Curitiba conta com 10,8% da população no grupo de risco, com mais de 60 anos, de acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para a Secretaria Municipal de Saúde, até o dia dois de abril, foram confirmados 194 casos da COVID-19 – 31 desses  nessa faixa etária. Em seus últimos levantamentos, a Secretaria não tem elaborado um relatório específico de idade, apenas uma média dos pacientes internados, que é de 59,5 anos. Além dos cuidados com doenças preexistentes (hipertensão, diabete, obesidade) e/ou doenças crônicas, há o agravamento de crises de ansiedade e depressão devido ao isolamento social. Essa situação gera uma necessidade de adaptação na rotina das pessoas, sobretudo para o grupo de risco.

A psicóloga Ana Claudia Ferreira, especializada em terceira idade, conta que a procura pelo atendimento tem aumentado. Para a psicóloga, o estado de pandemia afeta os idosos de uma forma muito intensa e já é possível observar comportamentos de ansiedade. Há também a possibilidade de surgir comportamentos depressivos, como tristeza e o aumento ou falta de sono e apetite.

Segundo a psicóloga, mesmo que comportamentos de ansiedade e depressão já existam, ainda não é possível confirmar o crescimento nos casos devido a pandemia. “Para caracterizar depressão e ansiedade, é preciso uma classe de comportamentos que se repetem por pelo menos 4 semanas”. Ela também comenta que é uma tendência já prevista na literatura. Há  estudos acerca de outras epidemias, como Ebola e o SARS em 2002, na qual as pessoas que ficaram em isolamento social por um período, apresentaram ansiedade, depressão e estresse pós-traumático.

Há uma ansiedade global ante à exposição excessiva de informações, pois o COVID-19 ainda é uma doença desconhecida. “Nem nós adultos temos uma resiliência para absorver tanta informação o tempo inteiro. Para os idosos pode gerar mais ansiedade”. De acordo com Ana Claudia, estabelecer uma comunicação clara com os idosos é o melhor método para convencê-los a não sair. “[É preciso] explicar com calma, de forma didática, o porquê ser necessário dele ficar em casa, ou pedir ajuda”.

Colocar-se à disposição dessas pessoas, para que o idoso possa continuar conectado aos outros, pode ser um fator determinante para que os sintomas de ansiedade e depressão diminuam. “Conectado não digo só na questão virtual, mas na conexão humana, de conversa, de troca.”

A pensionista Aparecida Simões, 72 anos, está cumprindo o isolamento desde que a Secretaria Municipal da Saúde recomendou a permanência em casa. Ela conta que os vizinhos têm se oferecido para fazer compras em mercado e farmácia. “É uma coisa muito difícil, a gente não tá acostumado a só ficar em casa, e nós que moramos em apartamento, costumamos ficar mais fechados ainda”. Além disso, a ausência de companhia a deixa muito ansiosa.

O aposentado Ari Paiva de Siqueira, 75 anos, diz que ele e sua esposa vão por conta própria à lugares essenciais uma vez por semana. Ari também comenta não ter recebido visitas e estar dedicando seu tempo a realizar coisas pendentes que não costumava fazer no dia a dia. Ele ainda comenta ter notado uma certa preocupação por parte de outras pessoas, como familiares e conhecidos. “Cada um tem responsabilidade no seu papel”.

COVID-19 EM CURITIBA

A infectologista Flávia Cunha explica que a doença tem quadro inicial de um resfriado, e depois de cerca de 5 a 7 dias surge a febre e pode ocorrer a piora pulmonar. “Importante reforçar que 85% dos casos irão se resolver espontaneamente. Só 15% evoluem para um quadro mais grave e necessitam de internamento”. Ela também reforça que o isolamento social quebra a cadeia de transmissão do vírus, e que as recomendações do Ministério da Saúde e das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde, são claras e transparentes.

Flávia diz que os números são difíceis de explicar, e que eles dependem da disponibilidade de testes e da seriedade com que a população vem cumprindo a quarentena. Curitiba começou o isolamento antes da epidemia se instalar, diferentemente de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o que justifica um crescimento mais lento dos casos locais. “Se pudéssemos testar os casos leves, poderíamos divulgar que os casos estão de fato ocorrendo, o que seria o melhor argumento para a população ficar em casa.”

Os lares de idosos foram orientados pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) a restringir ou proibir visitas, e também forneceram treinamento aos funcionários. O lar Garden Ville adaptou-se rapidamente às orientações, mas manteve a rotina normalmente. Alguns moradores não têm noção do que está acontecendo, e outros se interessam em saber da situação. Para não agravar a ansiedade ou o medo, os funcionários do lar evitam o assunto.

 

 

 

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