Instabilidade emocional na quarentena leva os curitibanos a buscarem ajuda na arte

Arteterapia e musicoterapia são formas de tratamento já utilizadas para combater a ansiedade, o estresse e o medo 

Por Beatriz Bleyer e Lorena Rohrich 

Os curitibanos têm encontrado na música uma forma de distração e entretenimento no período de quarentena, que teve início no dia 16, para a contenção do novo coronavírus (Covid-19). De acordo com a presidente da Associação de Arteterapia do Paraná, Mariel Wanderley Granato, durante o período de isolamento social é normal existir um desequilíbrio emocional e a arte pode ser utilizada como ferramenta para aliviar as tensões.

Moradores de um condomínio localizado no bairro Vista Alegre, na capital paranaense, vêm realizando shows periódicos durante a quarentena. Cleber Aparecido Vidotti toca violão numa praça na parte central da moradia. Segundo Vidotti, o objetivo das apresentações é distrair os vizinhos e entretê-los, para sair da rotina. “Não temos um compromisso em tocar excepcionalmente bem. A ideia é ter um momento de descontração”, acrescenta. Questionado sobre a segurança e as medidas preventivas contra o novo coronavírus, o músico afirma que os moradores não saem de frente de suas casas, e que cada uma possui uma distância de 5 metros, ou seja, mais que o isolamento mínimo de 1,5 m. “Também fazemos higienização antes de depois de tirar os instrumentos de casa”, admite. 

Segundo a vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia, Ana Ligia, não existe nenhum estudo atual que comprove o crescimento do número de casos de ansiedade e estresse no período de isolamento social. Porém, a especialista contou que houve um aumento significativo de profissionais da psicologia que buscam entender como atuar diante da pandemia. “Em dez dias do mês de março, o Conselho Regional de Psicologia recebeu o mesmo número de ligações que recebem em 2 meses, em períodos normais”, afirmou. Além disso, a vice-presidente conta que o portal do conselho teve 1 milhão de acessos só no mês de março.

Segundo a psicóloga especializada em arteterapia e musicoterapia Sonia Maria Bufarah, nesse período, o medo lidera as emoções e isso pode causar uma baixa a imunidade e tornar as pessoas mais propícias a doenças. Para ela, é necessário definir um horário para diversas atividades que descansem a mente, buscando estabelecer um equilíbrio emocional. Para ela, a arte estimula a zona do prazer, associando-se ao visual, ao auditivo e ao literário. “A arte é essencial para mantermos o equilíbrio”, afirmou. 

De acordo com a presidente da Associação de Arteterapia do Paraná, Mariel Wanderley Granato, a arte é uma ferramenta de expressão e pode ser a melhor forma de se manifestar em um momento de isolamento social, já que a comunicação verbal tende a ser prejudicada. “É muito mais fácil aliviar as tensões por meio da expressão artística. Apoiamos o uso da arte nesse momento”, explicou a especialista. A presidente ainda conta que durante a quarentena os arterapeutas estão encontrando formas de adaptação de suas consultas para a web. “Não é o ideal. É muito difícil de ocorrer a arteterapia online, mas agora nós conversamos com a pessoa e orientamos determinadas atividades.” Além disso, a arteterapeuta explica que o excesso de informações pode ser prejudiciais à saúde. “As notícias nos deixam inseguros e instáveis emocionalmente. É muito difícil fazer um filtro de verdade”, explicou. 

A Fundação Cultural de Curitiba está realizando diversas ações com o objetivo de levar a arte à população. Dentre elas, está sendo oferecido um tour virtual ao CinePasseio, acesso on-line ao acervo histórico e artístico da cidade e concertos realizados pela internet da Camerata Antiqua de Curitiba e do Coral Brasileirinho. Ainda, o órgão oferece aulas on-line, com professores de cursos de arte das regionais, do Conservatório de MPB e da Gibiteca de Curitiba, e dicas de leituras e filmes encontrados em plataformas digitais. A fundação também está usando os meios digitais para realizar torneios de xadrez, rodas de leituras e contação de histórias. Para mais informações acesse o site.