Iguaçu e Trieste retornam em novo episódio da Suburbana

Trieste e Iguaçu dividem o bairro de Santa Felicidade
Por Amanda Gabrielle, Bruna Cominetti e Isabelle Almeida
A rivalidade mais antiga da Suburbana Curitibana, “O Clássico da Polenta”, está presente em mais um ano de campeonato. Trieste Futebol Clube e Sociedade Operária Beneficente Iguaçu disputam novamente a Série A em 2019 e já têm confronto marcado para o final do mês de setembro. Enquanto o primeiro se esforça para manter a liderança, em busca do bicampeonato, o segundo luta para chegar às quartas de final. Mas essa relação acirrada não é de agora e muito menos se limita aos gramados.
A descrição da final de 1966 nas palavras de um dos principais personagens triestinos indica o clima das disputas entre os times, “Segunda-feira, Trieste com 11 jogadores e o Iguaçu com 10, dois caminhões de polícia e o campo fechado”, diz Altair Ribas da Silva, famoso “Pingo de Ouro”.
Os dois times têm como berço Santa Felicidade e o bairro de colonização italiana tem direta ligação com a constituição das equipes. O S.O.B.E Iguaçu foi fundado no ano de 1919 por imigrantes vindos da Itália com a liderança de Egídio Ricardo Pietrobelli, mesmo nome que identifica ainda hoje o estádio do clube.
O Trieste F.C teve sua fundação 18 anos depois também no mesmo bairro, em 1937. É nesse ponto que as histórias se cruzam. Como conta o livro “O Campeoníssimo Suburbano”, as famílias imigrantes da cidade de Trieste e da região de Vêneto, também na Itália, buscavam se entreter em Curitiba com peladas nos finais de semana pelos campos do Iguaçu, porém nem sempre conseguiam jogar. Irritados com a situação e sentindo certa “discriminação” dentro do bairro resolveram fundar seu próprio time e assim nascia a rivalidade.
O atual presidente do Iguaçu, Sidnei J. Toaldo, comenta que os jogos eram disputados aos domingos e Santa Felicidade se dividia ao redor dos estádios. Existia quase que uma setorização do bairro entre as torcidas. Cada uma tinha, por exemplo, uma igreja para frequentar. “Meu pai me proibia de frequentar o estádio do Trieste”, diz Toaldo sobre a rivalidade e acrescenta: “Mulheres não se falavam em dias de jogos. Era coisa séria!”
Em 1959 Iguaçu conquista a primeira vitória no campeonato da Suburbana. O título Trieste só veio em 1964. A primeira final disputada entre os dois se deu no ano de 1966, onde o “Galo Alvinegro” (S.O.B.E Iguaçu) levou a melhor. No geral temos os seguintes números:
Acompanhando a linha cronológica vemos o quão acirrada essa disputa tem se dado ao longo dos anos:
Pingo, jogava pelo Atlético Paranaense quando foi convidado para integrar a primeira equipe campeã do time na suburbana. Relembra com emoção a simplicidade dos campos e da alegria em fazer parte dessa história. “Não leve a mal não… Mas eu sou do Trieste “pobre”, com cerquinha de madeira”, diz Pingo de Ouro. “Lembro de quando a primeira trave de ferro foi colocada, em 1966.” O Trieste hoje conta com a maior estrutura do país entre os times de futebol amador. Gramado dentro dos padrões FIFA e com espaço para 2,5 mil pessoas, abriga também uma categoria de base do Flamengo e volta suas atividades para a indústria do futebol.
No áudio o ex-jogador conta sobre a tensão entre as equipes na época:
Assim como Pingo existem outros jogadores que obtiveram espaço no futebol profissional. É o caso do jovem Andrey Nunes dos Santos, 19 anos, atacante do Paraná Clube e que agora está prestes a assinar contrato com o Internacional. Teve seu começo no futebol jogando no time do Trieste. Da mesma forma no time rival, outro destaque no esporte é o Alexi Stival, atual treinador do São Paulo Futebol Clube, mais conhecido como “Cuca”, começou sua carreira no Iguaçu. O primeiro clube profissional foi o Santa Cruz (RS), em 1984, também fez história no Grêmio, de 1987 a 1989 que encerrou a carreira no Coritiba, nos anos 90.
Diferentemente do início da rivalidade, hoje o principal fator que distingue os dois times segundo o presidente do Iguaçu é o poder aquisitivo. Usa o termo “primo pobre” ao falar do time que preside, por todo o contexto de sua fundação entre famílias. Mas afirma que existem planos pra essa desigualdade ser corrigida e que o Iguaçu luta para concretizá-los. Finaliza deixando uma mensagem sobre o futebol amador: “o nome é amador mesmo, precisa amar para fazer parte e a gente faz porque gosta muito”.
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Em 2019 é possível assistir ao clássico sem preocupações e com a promessa de clima pacífico entre torcedores e jogadores. Os jogos são marcados por encontro entre famílias, que se reúnem para assistir a um futebol de qualidade, tendo de acompanhamento um churrasco ou o famoso “bife com pão”, prato tradicional entre os times do futebol amador em Curitiba. De toda forma o que prevalece por unanimidade é o respeito entre equipes.
NA ÚLTIMA RODADA DO CAMPEONATO:
Com 7 vitórias consecutivas o Trieste é o primeiro colocado da Suburbana, com 19 pontos. O Iguaçu é o segundo na classificação, com 15 pontos. A 8ª rodada do dia 21 de Setembro foi adiada por decisão da Federação Paranaense de Futebol por conta das fortes chuvas que atingiram Curitiba nas últimas semanas.
Veja o ranking de campeões das últimas 10 temporadas: