Festivais paranaenses de cinema continuam em modelo remoto após um ano de pandemia

Com o Brasil batendo recordes semanais no número de mortes por COVID-19, boa parte dos 359 festivais e mostras de cinema brasileiros tiveram que se reorganizar para acontecer de forma inteiramente remota neste ano.
Em 2021, mesmo sem o financiamento necessário, as agências e produtoras conseguiram continuar movimentando o setor através da realização de festivais e mostras de cinema em plataformas virtuais.
Estão programados para acontecer remotamente neste ano o 5º Festival de Cinema Independente de Curitiba – Petit Pavé (5 a 11 de abril); 9º ‘’Curta Pinhais’’ – FESTCINE (22 a 30 de abril); 4º Paraná Internacional Films Festival – PIFF 2021 (3 de setembro a 10 de setembro); 10º Olhar de Cinema – (06 a 14 de outubro); 22º Festival Kinoarte de Cinema (8 – 15 de novembro).
O prejuízo do setor audiovisual pode chegar a R$ 69,2 bilhões até o final de 2021, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas. O setor corresponde a entre 0,5% e 1,5% do PIB brasileiro, possuindo uma arrecadação anual maior do que a da indústria farmacêutica e automobilística. Empregando mais de 300 mil pessoas direta ou indiretamente. Esses números são bastante expressivos e revelam a importância do setor para a cultura e economia do país.
Segundo Jean Bris, organizador e curador do Festival de Cinema Independente de Curitiba – Petit Pavé, é essencial que os festivais de cinema continuem acontecendo nesse momento, pois eles empregam um papel fundamental no tão prejudicado mercado audiovisual brasileiro, por serem a principal janela de divulgação e distribuição de filmes. ‘’Infelizmente, o mercado está bem parado nesses últimos anos. A produção nacional depende do financiamento vindo do fundo setorial, que é alimentado pelo próprio audiovisual, mas estamos há dois anos sem editais novos, sem financiamento da ANCINE ou da Secretaria da Cultura.’’
Realizar eventos em ambientes virtuais, além de ser muito mais em conta, ainda permite alcançar um número maior de público por não existir a limitação da distância geográfica. “O ponto positivo mais forte é o alcance que um festival online consegue proporcionar. Na edição passada foram 478 filmes recebidos, esse ano batemos o recorde com 1.439 inscrições vindas do Brasil inteiro e de outros 60 países. Então, vamos ter um pequeno público estrangeiro também. É muito legal poder atingir tantas pessoas!’’, comenta Bris.
Apesar das vantagens, realizar um festival de forma remota não é uma tarefa simples, principalmente tendo que lidar com a grande probabilidade de acontecer problemas de conexão, lentidão, queda na qualidade de imagem e até suspensão total do servidor. Mais do que isso, existe um detalhe bem significativo quando se trata de competições cinematográficas: muitos festivais, seja internacional ou nacional, tem como política não aceitar filmes que estão disponíveis ou foram exibidos na internet. Cannes é um exemplo disso, manteve a restrição mesmo na pandemia.
Ainda não existe um horizonte do que irá acontecer com os festivais e mostras no pós pandemia, mas será possível que os organizadores adotem um modelo híbrido no futuro? Na visão de Jean, tudo dependerá de como as redes dos principais festivais de cinema irão se posicionar: ‘’A situação da pandemia no Brasil é ainda muito obscura, então eu trabalho com a opção da possibilidade do híbrido para a 6º edição, mas ainda estou refletindo muito se vale a pena, afinal, não podemos tomar uma atitude isolada do resto do mundo, até porque, ninguém vai querer se inscrever em um festival que impossibilite a participação em outros’’.
Como bem frisa, Jean: ‘‘O audiovisual não parou na pandemia!’’. São diversos os filmes que foram finalizados durante a quarentena e vários outros que nasceram para contar sobre a experiência da pandemia. Afinal, nos expressar através da arte sempre será uma necessidade.