FAS abre 80 vagas após atingir a capacidade em abrigos de Curitiba

por Maria Luiza Baiense
FAS abre 80 vagas após atingir a capacidade em abrigos de Curitiba

Número de pessoas em situação de rua cresce em 50% e FAS cria medidas após completar 99% da capacidade

Por Gabrielle Tiepolo, Mariana Machado, Maria Luiza Baiense e Tayná Machado | Foto: Tayná Machado

Mesmo com 128 unidades espalhadas por Curitiba, a capacidade dos postos de acolhimento atingiu 99% em abril. Dos 1.400 abrigos disponíveis, 1.390 já foram ocupados. A FAS pretende abrir mais 80 vagas emergenciais no mês de maio. Por meio do cadastro único, a fundação possui 410.243 pessoas inseridas para terem acesso a benefícios sociais. Com isso são necessários mais recursos para bancar o aumento de pessoas. Porém, a prefeitura reduziu a verba para 32%, dificultando o acesso das pessoas aos recursos básicos.  

A população em situação de vulnerabilidade social na capital paranaense cresceu mais de 50% entre os anos de 2018 e 2021, chegando a 5 mil e 700 pessoas, segundo dados do Cadastro Único do Ministério do Desenvolvimento Social. O número atualizado de moradores em situação de rua ultrapassa 3 mil pessoas, de acordo com pesquisas da prefeitura. O cenário foi agravado pela pandemia de Covid-19. A falta de incentivos municipais pode ser apontada como agravante do aumento dessa população. 

Moradores de rua expõem suas experiências

Na rua há três meses, Sidnei Amaral recebe ajuda de algumas organizações. No entanto, por razões particulares prefere não aceitar. Outro que rejeita o auxílio é Vanderlei Pellegrini, de 50 anos, que está nessa condição há uma década. Ele diz que não quer entrar em nenhuma ONG, pois considera que consegue sobreviver de maneira independente. 

Alguns moradores em situação de rua têm opiniões diferentes sobre os serviços de ajuda social de Curitiba. Celso Ramos, 54 anos, está nessa condição desde o começo de 2021 e diz que as ONGs sempre estão cheias e nunca tem ajuda para todos. Ele conta que, com a pandemia, precisou fechar um mercado pequeno que tinha no bairro Prado Velho. Depois de alguns meses, o sustento acabou e não viu outras opções além da rua. “É difícil, você não sabe se vai ter almoço no dia seguinte ou janta. Não tenho como saber qual vai ser minha próxima refeição.”

Outra moradora em situação de rua ouvida pela reportagem é dona Célia, que não quis revelar o sobrenome. Ela diz que depois da pandemia, os restaurantes populares e casas de apoio ficaram fechadas por um tempo e inúmeras pessoas perderam a ajuda. “Ninguém ajuda, as pessoas fingem que nós não existimos”. Célia ainda conta que, com o pouco dinheiro que consegue juntar, pega marmitas nos restaurantes populares espalhados por Curitiba. Esses lugares geralmente vendem pratos por R$ 3. “Eu queria poder encontrar um trabalho, mas quem vai empregar uma pessoa de rua? Não tenho dinheiro para tomar banho e comprar roupas novas”.

A principal forma de ajuda para pessoas em situação de rua é a Fundação de Ação Social (FAS), que auxilia na proteção social de famílias e indivíduos em vulnerabilidade social. Além desses grupos sociais, a fundação também presta atendimento para pessoas portadoras de deficiências e para o público LGBTQIA +, que sofreram violência ou que possam estar em risco.

Outro foco da fundação é ajudar na integração de indivíduos no mercado de trabalho. Com quase três décadas de funcionamento, a entidade está prestes a atingir a marca de 1 milhão de pessoas prontas para ingressar no mercado de trabalho ou gerar sua própria renda.

ONGs

Na capital, existem várias ONGs voltadas à comunidade sem teto. Organizações como a Sopão Curitiba, Rango de Rua, Amigas dos Sonhos e Aquecendo Corações movimentam doações de alimentos, roupas e cobertores. Algumas delas também realizam projetos educativos e mutirões de banho e cortes de cabelo para quem precisar. Todas possuem sites e redes sociais para os voluntários entrarem em contato. 

Fernando de Moraes é organizador da Rango de Rua, uma ONG que fornece alimentos, cobertores e roupas para pessoas em situação de rua. Quando questionado sobre sua opinião em relação a projetos municipais voltados a esses cidadãos, afirma não ver eficácia nos movimentos. “Até tem alguma coisa que no papel é lindo, mas não vejo eficiência, respeito, agilidade em nada que vem do município. Rola muito descaso na verdade”, avalia. Ele ainda comenta que houve um aumento significativo de pessoas em necessidade de auxílio em Curitiba após a pandemia do Covid-19 e que foram necessários maiores esforços para suprir essa demanda.

Moraes observa que a quantia de busca a assistência cresce substancialmente em épocas de feriados e datas comemorativas. Isso ocorre por conta do alto fluxo de viagens e período de folga de comércios, o que leva as pessoas necessitadas a buscarem ajuda. Também declara que além das doações de mantimentos, também se esforçam para interagir de maneira agradável com as pessoas em situação de rua. “O Rango, além de fornecer alimento (o que é algo impactante né), também dá atenção, carinho e respeito a quem atendemos. Isso dá uma satisfação na vida da pessoa atendida, um sentimento de que ela existe e está sendo notada.

Onde encontrar a FAS e como ajudar pessoas em situação de rua

A população pode ajudar a FAS e pessoas em situação de rua com doações ou indicações de localização de pessoas que necessitam de suporte. As doações, especialmente de roupas agora com o começo do inverno, podem ser feitas nas sedes da FAS e as indicações podem ser realizadas por meio de ligação na central 156 ou pelo aplicativo Curitiba 156. 

 

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