Falta de apoio financeiro dificulta crescimento de atletas e paratletas

Programa Geração Olímpica e Paralímpica funciona como medida de apoio
Por: Cibeli D’Oliveira, Evelyn Garcia e Luiza Gonçalves | Fotos: Bel Sorgenfrei/SEES e Alessandra Cabral/CPB
Atualmente, muitos atletas são obrigados a desistir de seus sonhos por falta de investimento, algo essencial em todo o esporte. Uma pesquisa realizada pelo Serasa em 2024 revelou que, en tre 2 mil entrevistados, 56% dos homens e 30% das mulheres que sonharam em se tornar atletas profissionais desistiram devido a dificuldades financeiras.
As gêmeas Beatriz e Débora Borges Carneiro conseguiram se profissionalizar e se destacam no paradesporto, mas falam sobre essas dificuldades. “O Brasil acorda e vai dormir pensando em futebol. Resta para a sociedade muito pouco tempo para lidar com os outros esportes; na área financeira, não é diferente. Para o movimento paralímpico, piora, porque o esporte olímpico ainda tem a favor a imprensa, que divulga um pouco. Mas, para o esporte paralímpico, tudo isso é muito mais complexo”, conta Beatriz.
“A gente tem poucas empresas e pouca estrutura que apoiam e abraçam a causa do movimento como deveriam. Somos o conjunto de esportes que menos tem apoio e o que mais dá resultado para o Brasil”, diz Débora Borges Carneiro
Como medida de apoio, o programa Geração Olímpica e Paralímpica (GOP) foi criado em 2011 e tem sido um grande suporte para todos os atletas brasileiros, fornecendo bolsas que variam de R$ 250 e R$ 3 mil mensais. Com investimento superior de R$ 60 milhões em 2024, o principal objetivo do programa é ajudar atletas de diversas categorias, que vão de jogos escolares até Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Neste ano, o investimento feito pela Copel, a principal patrocinadora do programa, foi de R$ 5,2 milhões, um valor superior aos investimentos das edições anteriores.
De acordo com coordenadora geral do Programa GOP, Denise Golfieri de Oliveira, o suporte é essencial para o desenvolvimento dos atletas. “O GOP é o principal alicerce, em se tratando de projetos voltados ao esporte do Governo do Estado. Avaliamos constantemente o impacto do programa para garantir que ele atenda adequadamente às necessidades dos atletas e contribua efetivamente para o desenvolvimento do esporte”, afirma ela.
A análise dos investimentos do programa ao longo dos anos revela um padrão de crescimento, mas também aponta para lacunas. Em 2020, o investimento anual foi de R$ 4 milhões, enquanto em 2021 subiu para R$ 4,5 milhões. Em 2024, o aporte de R$ 5,2 milhões ainda não cobre completamente as necessidades dos atletas, especialmente considerando o aumento dos custos de treinamento, competições e viagens.
Medalhistas recebem apoio
Entre os apoiados do programa estão atletas como Augusto Akio, medalhista de bronze no skate park; Ronan Cordeiro, primeiro medalhista brasileiro em triatlo paralímpico; e as gêmeas Beatriz, medalhista de bronze na natação, e Débora Borges Carneiro, medalhista de prata na natação.
Mas esses atletas, embora beneficiados pelo programa, enfrentam desafios financeiros que podem limitar suas carreiras. “O dinheiro não suporta desaforo. Então você tem que gastar o dinheiro bem gasto, comprar o que é necessário, administrar a sua vida financeira de tal maneira que não falte dinheiro para aquilo que a gente faz” diz Débora.
Mesmo com o pouco patrocínio recebidom mais uma vez os atletas brasileiros fizeram história nas paralímpiadas, superando a marca de 72 medalhas em Tóquio 2020 e Rio 2016. Os atletas paranaenses contribuíram com 10 das 89 medalhas ganhas, todos eles apoiados pelo Geração Olímpica e Paralímpica, mostrando como o apoio e investimento é importante no esporte.
Falta de estrutura
Algo pontuado por diversos atletas é a falta de estrutura que impede a maior parte deles de treinarem com qualidade, o que seria de extrema importância para o alto rendimento. Muitas cidades não oferecem a estrutura necessária com a qualidade nem o padrão que um atleta olímpico e paralímpico.
Esses problemas estão em todos os esportes, mas a atleta Beatriz Borges Carneiro fala sobre a dificuldade na natação. “Em Maringá, nós só temos uma piscina de 50 metros. É uma só e ela não é aquecida nem coberta. Então, em condições de frio, inverno e chuva, você perde a qualidade de treino. Não adianta você competir lá naquelas piscinas de Jogos Olímpicos e treinar em uma piscina totalmente sem critério. O rendimento nunca vai ser igual”.
Conheça mais sobre Beatriz e Débora Carneiro
Beatriz e Debora Carneiro são irmãs gêmeas e nadadoras paralímpicas que competem na categoria S14, atletas com Deficiência Intelectual.
Beatriz Carneiro pratica a natação desde os 12 anos, que iniciou como um hobby. Em 2012, começou a treinar na Vila Olímpica de Maringá. A primeira Paralimpíada da Beatriz foi Rio 2016, na qual ficou em quinto lugar nos 100 metros peito. Em 2020, conquistou a primeira medalha paralímpica: foi bronze 100 metros peito. Já em Paris 2024, conquistou mais duas medalhas de bronze, nos 100 m peito e 4×100 m livre.
Outros títulos da atleta:
Campeonato Mundial de Natação Paralímpica
• Prata: 100m peito (Cidade do México, 2017)
• Prata: 100m peito (Manchester, 2023)
• Bronze: revezamento 4×100 livre (Manchester, 2023)
• Bronze: revezamento 4×100 medley (Manchester, 2023)
Jogos Parapan-Americanos
• Ouro: 200m medley (Lima, 2019)
• Prata: 100m peito (Lima, 2019)
• Bronze: 200m livre (Lima, 2019)
Débora Carneiro começou a treinar o esporte aos 14 anos, dois anos depois da irmã, na Confederação Brasileira de Desportos para Deficientes Intelectuais (ABDEM). Débora não pode participar dos Jogos Paralímpicos de 2016 por conta de uma crise de apendicite, mas, na sua estreia, em 2020, conquistou o bronze no revezamento 4×100 misto. Em Paris, conquistou a medalha de prata nos 100 m peito.
Outros títulos da atleta:
Campeonato Mundial de Natação Paralímpica
• Bronze: 100m peito (Londres, 2019)
• Bronze: 100m peito (Madeira, 2022)
• Bronze: revezamento 4×100 livre (Madeira, 2022)
• Bronze: revezamento 4×100 medley (Madeira, 2022)
• Ouro: 100m peito (Manchester, 2023)
Jogos Parapan-Americanos
• Ouro: 100m peito (Lima, 2019)
• Prata: 200m medley (Lima, 2019)