Falta apoio e estrutura para combate a violência contra a mulher em Curitiba

Paraná é o terceiro estado com mais casos de violência contra as mulheres e registra 231.864 ocorrências, ficando atrás de São Paulo e Minas Gerais.
Por Pablo Ryan | Foto: Pablo Ryan
No estado, de acordo com o CEVID, existem 8 Centros de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM). Porém, em Curitiba, não há um local adequado para esse atendimento. O estado também conta com a Casa da Mulher Brasileira (CMB), que fica localizada em uma área estilizada. Os serviços da CMB estão disponíveis apenas durante o horário comercial e são restritos para quem não é residente de Curitiba, oferecendo acolhimento somente em casos de risco de morte iminente. Além disso, a Delegacia de Curitiba, única no estado com atendimento 24 horas, funciona com serviços reduzidos, dependendo do horário em que a vítima for denunciar.
Em 2023 houve um aumento alarmante de 11,6% de mulheres que foram vítimas de violências no Paraná, totalizando 231.864 ocorrências no estado e 37.368 ocorrências em Curitiba. Esses casos variam entre violência doméstica, violência sexual e feminicídio que teve um aumento de 5% no Paraná entre 2022 e 2023. Em 2022, 77 mulheres morreram e em 2023 subiu para 81, sendo dois registros em Curitiba e outros 10 em cidades da região metropolitana. Todos os casos, conforme os dados do Centro de Análise, Planejamento e Estatística (Cape), da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SESP-PR), tiveram o maior número de registros desde o ano de 2020. A violência doméstica emerge como o principal problema, com uma crescente de casos nos finais de semana, contabilizando um total de 24.958 registros.
Presidenta do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, Ivanete Paulino Xavier, destaca que o principal desafio e uma solicitação do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher é a disponibilidade de delegacias especializadas para mulheres 24 horas por dia. Especialmente devido ao aumento nos casos durante os finais de semana.
“Por exemplo, se uma mulher sofre violência às 18 de uma sexta-feira, ela só poderá fazer a denúncia na segunda.”
A Presidenta também aponta uma certa dificuldade das políticas públicas agirem de maneira eficaz, devido ao fato de que a maioria dos casos de violência contra a mulher ocorre dentro da própria casa, perpetrada por pessoas com quem a vítima tem um relacionamento afetivo muito das vezes. Isso pode impedir que a mulher denuncie por medo ou por enfrentar dificuldades socioeconômicas e culturais, buscando inicialmente ajuda de familiares, como pai ou mãe, antes de tomar medidas de denúncia.
A auxiliar de governança Ana Carolina Luz relata que sofreu violência doméstica de seu companheiro e sua primeira decisão foi contar à sua mãe a difícil situação que estava passando, acompanhado por sentimentos de medo e culpa. Ela destaca que falta apoio do estado quando uma mulher busca ajuda na delegacia, ressaltando a importância de medidas concretas ao registrar um Boletim de Ocorrência e critica a ineficácia das medidas protetivas, destacando casos em que mulheres perderam suas vidas mesmo estando sob essa proteção. “Muitas vezes não há tempo para acionar a polícia e obter auxílio antes que seja tarde demais”
Novo Comitê Interinstitucional de Enfrentamento às Violências contra as Mulheres do Paraná
A realidade alarmante que o Paraná se encontra, sendo o terceiro estado com mais casos de violência contra as mulheres, couberam o Governo do Paraná a criar o Comitê Interinstitucional de Enfrentamento às Violências contra as Mulheres. A iniciativa busca aprimorar as políticas relacionadas à prevenção e combate às violências por meio de ações interinstitucionais.
Marcas invisíveis

Sidineia Chagas, vitíma de violência doméstica por 9 anos.

Abalo psicológico ou emocional também é crime.

A cada dois minutos, uma mulher é vítima de violência no Paraná.

Sidineia diz que cicatrizes emocionais vão lhe acompanhar pela vida toda. “Foi difícil acreditar que existiam bons homens e com isso criei independência.”