Estudantes removidos de lista do vestibular da UFPR criam abaixo assinado exigindo vagas

por Mariana Gomes Santos
Estudantes removidos de lista do vestibular da UFPR criam abaixo assinado exigindo vagas

Lista de aprovados no vestibular 2020/2021 trouxe à tona os problemas da universidadE

Por Maria Fernanda Dalitz, Mariana Bridi e Mariana Gomes | Foto: Assessoria/UFPR

Faltando menos de uma semana para o semestre letivo na Universidade Federal do Paraná (UFPR) começar, estudantes que foram colocados de maneira equivocada na lista de aprovados do vestibular criaram, nos últimos dias, um abaixo assinado exigindo que o órgão responsável pela abertura de novas vagas se prontifique em acolhê-los.

A UFPR editou a lista de aprovados em seu vestibular 2020/2021 no dia seguinte à divulgação, removendo 31 nomes que estavam como aprovados. Entre estes, 21 eram de medicina em Curitiba e 4 no campus de Toledo. Os outros seis estavam distribuídos nos cursos de direito, odontologia, fisioterapia, biomedicina e medicina veterinária.

Em nota publicada, a universidade diz que os candidatos que foram incluídos indevidamente na primeira lista de aprovados deverão ter seus casos solucionados com as chamadas complementares nos respectivos cursos.No entanto, apesar da instituição tentar encontrar uma maneira de se redimir, alunos continuam insatisfeitos com suas perdas, e ainda relatam que não a primeira vez que a universidade demonstra dificuldades.

“Fiquei muito chateado”, diz vestibulando

O estudante Gabriel Zimermann, de 20 anos, é um dos 31 candidatos do processo seletivo da UFPR que passaram da lista de aprovados para a lista de espera após o anúncio da retificação por parte da universidade. Gabriel conta que, após a divulgação do resultado na terça-feira (31), chegou a se reunir com familiares e amigos para comemorar e foi descobrir a nota da UFPR retificando o resultado somente algumas horas depois, na quarta-feira (1), com a ajuda de um amigo.

O estudante afirma que primeiramente ficou sem reação e, indignado, não parava de atualizar a página para se certificar de que era verdade mesmo. “Na hora eu fiquei muito chateado, mas passou um tempo e a ficha caiu. Fiquei muito pra baixo, é triste você ver a sua classificação, a sua conquista simplesmente escorrendo pelas palmas das suas mãos.”

De acordo com a UFPR, o erro aconteceu devido a uma falha no sistema, em que não foi levada em conta a nota das redações após os recursos de correção. Em uma nota de esclarecimento publicada no mesmo dia, a universidade afirma ter percebido o erro apenas depois da divulgação da lista. “Lamentavelmente, esta falha somente foi percebida após a divulgação da lista de aprovados, momento em que, por medida de segurança, o NC/UFPR suspendeu os passos subsequentes do processo, tais como, a divulgação do desempenho individual e a abertura do processo de envio dos documentos para o registro acadêmico, até que se tivesse a certeza da ocorrência e da solução a ser implementada.”

Em entrevista à RPC, o atual reitor da UFPR, ​​Ricardo Marcelo Fonseca, afirmou que, a princípio, o plano seria aumentar o número de vagas nos cursos atualizados para acomodar os 31 candidatos, mas que a medida foi prontamente barrada pelo Ministério da Educação e pela consultoria jurídica da universidade. “Nós não tivemos alternativa, por mais amargo, duro que fosse, senão colocar a lista correta. Até para fazer justiça para aqueles que deveriam estar na primeira lista e não estiveram”, relatou Fonseca.

Outras dificuldades que a universidade vem enfrentando

Contudo, esta não foi a única falha por parte da UFPR no ano de 2021. Em fevereiro, a universidade adiou o concurso da Polícia Civil horas antes da prova, que aconteceria no dia 22. De acordo com a nota publicada, os motivos do adiamento foram as baixas de condições para a prova ser realizada, a desistência de aplicadores e a falta de baterias para os termômetros. “Entendeu-se que essa decisão de suspensão do certame, por mais radical que seja, seria menos traumática que uma execução das provas (que potencialmente colocaria em risco candidatos e colaboradores) que teria uma altíssima probabilidade de anulação e refazimento posterior.” A universidade foi multada em R$ 1,3 milhões pelo Governo Federal por conta do adiamento, e o concurso foi remarcado para outubro do mesmo ano. 

Para o aluno de medicina na UFPR Artur Serafim Lima, os problemas não estão somente nos processos seletivos, mas também dentro da universidade. “A gestão da faculdade nunca foi das mais primorosas, mas desde que a pandemia começou e as aulas acabaram, deu pra ver que a desorganização foi total”, afirmou. De acordo com o aluno, a universidade ficou seis meses sem qualquer tipo de aula no início da pandemia, e, quando voltaram, foi de maneira precária e sem organização. “Matérias que deveriam ser aplicadas em 20 semanas foram aplicadas em 5”. 

“Nós, do curso de medicina, já estamos 100% vacinados, todas as outras faculdades já voltaram pelo menos com ensino híbrido, e a UFPR não mostram o menor interesse em voltar”, diz estudante

Entretanto, a visão dos professores da universidade tem sido um pouco diferente da dos alunos. Para o dr. Jaime Kulak Júnior, professor do departamento de tocoginecologia no curso de medicina da UFPR, as aulas no EAD correram extremamente bem. “Não era o que queríamos que acontecesse, mas tivemos que dar o nosso melhor e demos o nosso melhor”, afirmou. “A universidade como um todo se organizou para que houvesse o menor número possível de perda com relação ao ensino dos alunos. Obviamente houve uma perda, mas fizemos todo o possível para que o ensino não fosse prejudicado.”

Em relação às críticas feitas sobre as aulas à distância, a universidade afirma que desde o início tem oferecido apoio aos estudantes. Eles disponibilizam equipamentos para alunos em situação de vulnerabilidade e a possibilidade de realizar o ensino remoto emergencial (ERE) aos estudantes que desejassem cursar disciplinas na modalidade remota. No entanto, cada curso tem uma realidade e acabam ministrando as aulas de maneiras diversas. ”Lembrando que a Universidade Federal do Paraná, a mais antiga universidade no Brasil, possui atualmente 136 cursos de graduação (entre bacharelados, licenciaturas e tecnólogos), cursos de nível médio/pós-médio, 126 especializações e 88 programas de pós-graduação. Eles estão espalhados por seis cidades, em diferentes regiões do estado do Paraná. Assim, as realidades acadêmicas e de contexto de cada um dos nossos cursos são muito distintas”.

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